Uma infeção com o vírus zika durante a gravidez pode provocar problemas na placenta levando à diminuição da quantidade de oxigénio que chega ao feto. O estudo, publicado na revista científica Nature Communications, foi feito em macacos rhesus, mas os autores esperam que estes resultados possam contribuir para o desenvolvimento de uma vacina contra o zika que seja segura para se usar durante a gravidez.

Os investigadores infetaram cinco fêmeas grávidas de Macaca mullata (macacos rhesus) em momentos diferentes da gestação e verificaram que a placenta ficou mais espessa e inflamada. Os vasos sanguíneos que alimentam a placenta tornaram-se mais estreitos e as vilosidades onde ocorrem as trocas gasosas, onde são absorvidos os nutrientes e onde são eliminados os resíduos mostraram estar danificadas. Todos estes processos ficaram comprometidos incluindo o fluxo de oxigénio da mãe para o feto.

A falta de oxigénio durante o desenvolvimento pode comprometer o desenvolvimento fetal e até a saúde do bebé após o nascimento. Mais, a inflamação da placenta devido a infeções virais afeta o desenvolvimento dos órgãos do feto e do sistema imunitário, podendo provocar respostas imunitárias anormais no futuro.

A placenta dos mamíferos tem, entre outras funções, a missão de proteger, alimentar e oxigenar o embrião e feto em desenvolvimento. Normalmente, a placenta é eficaz a evitar que substâncias tóxicas e agentes patogénicos atravessem até ao feto em desenvolvimento, mas já foi possível demonstrar que o vírus zika atravessa a placenta. Numa investigação publicada na The Lancet, em 2016, os investigadores encontraram o vírus no líquido amniótico (que envolve o feto) de grávidas que tinham sido infetadas com zika.

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O problema da microcefalia é maior do que ter a cabeça pequena

Uma das causas visíveis da infeção com zika durante a gravidez é o nascimento de crianças com microcefalia, mas não é a única. Mais recentemente, fala-se da síndrome congénita do vírus zika que inclui, não só, a microcefalia, mas uma série de problemas neurológicos associados. Estes tornaram-se evidentes com o surto que atingiu o Brasil em 2015-2016.

Na altura, não se sabia sequer que o vírus podia ter estas consequências, o que justifica que ainda existam muitas perguntas por responder sobre a forma como o vírus ataca o organismo de grávidas e fetos e sobre como se podem prevenir as consequências desta infeção. Agora, à medida que as crianças vão crescendo e que não vão atingindo os patamares do desenvolvimento esperados, é possível perceber alguns dos impactos a longo prazo: muitas destas crianças não conseguem virar a cabeça para procurar um objeto ruidoso, não conseguem manter-se sentadas ou falham noutras competências que deveriam ter adquirido até aos seis meses.

Bebés com microcefalia não seguem sons nem objetos

Mas a atração do vírus zika por células do tecido cerebral pode ter as suas vantagens. Num trabalho realizado por uma equipa brasileira foi possível verificar que o vírus atacava as células do glioblastoma — um tumor cerebral maligno — sem provocar qualquer dano nas células saudáveis. À semelhança do que acontece no cérebro de um bebé em desenvolvimento, os tumores têm uma taxa de divisão celular muito acelerada e o vírus mostrou uma maior atração por estas células. Por enquanto os resultados são apenas laboratoriais, mas abrem a porta para ensaios com animais.