Álgebra, Música, Inglês, Falar em Público ou Guitarra. A todas estas disciplinas — e não só — o filho mais velho de Louise e David Turpin passou com um “A” — a nota mais alta no sistema de avaliação norte-americano –, de acordo com informação obtida pela ABC News. Ninguém diria que o aluno que tinha nota máxima a todas as disciplinas era um dos 13 filhos acorrentados e torturados pelos pais no número 160 da Rua Muir Woods, na cidade de Perris, na Califórnia.
O estudante andou na Mt. San Jacinto, uma universidade comunitária — uma instituição de ensino superior de dois anos de curso que dá equivalência ao grau de bacharel — a cerca de 40 km de carro da casa da família, em Perris. Agora com 26 anos (é o filho mais velho dos rapazes, já que existe uma filha de 29 anos), o estudante frequentou a universidade durante três semestres: primavera de 2014, outono de 2015 e primavera 2016. O jovem conseguiu sempre mais do que 15 créditos em cada um dos semestres, sendo que nos dois últimos esteve no quadro de honra.
“Ele tinha uma das caras mais tristes que vi em anos“, disse Marci Duncker, uma colega de turma do filho de Louise e David Turpin, à ABC News. Estava “sempre calado e sozinho” e era um dos últimos a sair da sala quando as aulas acabavam, lembra a colega de turma, revelando que chegou a cumprimentá-lo várias vezes mas o rapaz apenas olhava e não respondia.
De acordo com a informação que é conhecida até à data, o rapaz de 26 anos foi um dos dois filhos que frequentou uma escola. A filha de 29 anos — a mais velha de todos os 13 — andou na escola, desde Jardim de Infância ao terceiro ano do ensino primário, no Texas, onde a família viveu até 2010, quando se mudaram para a Califórnia.
[Veja aqui as imagens do interior da primeira “casa dos horrores”, no Texas]
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Com autorização para sair de casa, o filho tinha a possibilidade de denunciar o que se passava em casa. Mas não o fez. Tal só aconteceu no passado dia 14 de janeiro, quando a filha de 17 anos conseguiu fugir pela janela e ligar para as autoridades. Quando lá chegou, a polícia encontrou “várias crianças acorrentadas às suas camas com correntes e cadeados, na escuridão e num ambiente com cheiros nauseabundos“. Já passaram duas semanas e muitos detalhes macabros sobre esta história foram sendo divulgados.
Um dos primeiros a ser descoberto, logo no próprio dia em que as crianças foram libertadas, dizia respeito à educação que os filhos (não) recebiam. A “casa dos horrores” aparecia listada no diretório do Departamento de Educação como Sandcastle Day School, uma escola privada. No último ano letivo, a casa apareceu nos registos estatais como uma instituição não religiosa, inaugurada em 2011 — ano em que os Turpin se mudaram para a Califórnia. Havia seis estudantes matriculados: no quinto, sexto, oitavo, nono, décimo e décimo segundo ano. David, o pai, aparecia referenciado como sendo o diretor. Os familiares das crianças disseram que, segundo o que era do seu conhecimento, os filhos dos Turpin recebiam educação em casa.
O casal enfrenta agora uma pena que pode ir “até 94 anos de prisão”, se forem condenados. Estão acusados de 38 crimes no total. O juiz fixou uma fiança de 13 milhões de dólares (cerca de 10,3 milhões de euros) para cada um e agendou o início do julgamento, no mesmo tribunal, para o próximo dia 23 de fevereiro, às 13h30 hora local.
Já os 13 filhos ainda se encontram internados em dois hospitais diferentes: os seis menores foram levados para um centro médico do Riverside University Hospital System, em Moreno Valley, e os sete filhos adultos para o centro médico regional de Corona, ambos na Califórnia. Mesmo tendo pedido aos assistentes sociais para ficarem juntos, as crianças deverão permanecer separadas: os sete filhos adultos vão para um centro de assistência estatal e os seis menores de idade serão divididos em duas casas de acolhimento.