Portugal foi representado no Facebook Communities Summit Europe (FCS) de Norte a Sul. Desculpem, pelo Norte e pelo Sul. Lilliana Castro, do Porto, e Isa Mestre, de Faro, foram as “líderes de comunidades” portuguesas escolhidas pela rede social de Mark Zuckerberg no FCS. O evento dedicado aos grupos que existem na plataforma decorreu a 9 de fevereiro, em Londres.

Liliana Castro é administradora de um grupo privado de Facebook “com cerca de 150 pessoas”, diz ao Observador. O que difere este grupo de tantos outros? Todos os membros são mulheres que “participam ativamente na comunidade tecnológica portuguesa”. Chama-se “Portuguese Women In Tech” e graças ao trabalho que tem realizado marcou presença no FCS entre mais de 300 líderes de comunidades de 80 nacionalidades.

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Ter sido seleccionada foi uma “validação internacional” do trabalho que tem feito em Portugal, diz Liliana. Apresentou a candidatura em dezembro “pela possibilidade do que podia aprender”. A agente de comunicação de 28 anos tem, além do grupo, uma agência focada em startups tecnológicas, a FES Agency. A razão de criar o Women in Tech surgiu porque no ecossistema português “existem muitos mais homens e as mulheres que existem não têm a visibilidade que podiam ter”, explica.

“Isto [o grupo do Women in Tech] foi pensado em 2016 quando a Web Summit se ia mudar para Portugal. Pensei que as pessoas iam começar a ‘googlar’ o que está a acontecer e se escrevessem ‘portuguese woman in tech’ não iam encontrar informação”, contou Liliana Castro.

Para Liliana, a oportunidade de estar em Londres, serviu para perceber as novas ferramentas de administração de grupos, mas também para “conhecer pessoalmente várias pessoas que estão envolvidas na área tech para mulheres – como a Women Who Code”. Além disso, “foi também importante para conhecer outras comunidades”, refere.

O Facebook é “ainda a principal plataforma”, diz a administradora. Apesar de querer levar mais pessoas para o site oficial do projeto, já alcançou várias conquistas graças ao grupo que gere no Facebook. Liliana dá o exemplo do sucesso de, em 2017, ter partilhado o Hackhaton (uma competição de programação) da Fundação Calouste Gulbenkian no grupo: “vários membros candidataram-se, estiveram 30 horas a programar, chegaram ao final e ganharam”, conta orgulhosamente. Depois deste evento, Liliana assume querer abrir a comunidade também homens para “integrar todos no tema” e ter mais pontos de vista.

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Dos 300 líderes presentes, 12 tiveram direito a aparecer numa exposição de fotografias no evento. Liliana Castro foi escolhida e contou que o Facebook enviou um fotógrafo ao Porto apenas para tirar a fotografia.

Um centro para “mexer com a vida das pessoas”

Além de Liliana, Isa Mestre foi também uma das duas “líder de comunidade” a representar o nosso país. “Estava a ver o feed de notícias, vi que havia o Communities Summit e pensei: porque não concorrer?” assume a gestora da página CBRM – Centro de Investigação em Biomédica, Universidade do Algarve.

Ao contrário da Women in Tech, a comunidade gerida por Isa Mestre não tem nenhum grupo associado. No entanto, a página “é também uma comunidade”, afirma a gestora de comunicação, de 28 anos,. “Tratamos maioritariamente de assuntos que mexem com a vida das pessoas”, justifica. A doutora em comunicação pela Universidade do Algarve conta que a página do CBRM existe para “comunicar com o público o trabalho feito nos laboratórios da universidade do Algarve em áreas como o cancro, a diabetes e dislexia”.

No FCS, aprendeu “principalmente dicas de estratégia”. Um dos exemplos dados foi como gerir conflitos: explicou uma situação que afeta utilizadores que interagem com a comunidade online, mas que acabam por gerar contacto offline pela página.

“Há dois meses anunciámos um componente para medir a actividade no cérebro e dissemos que podia espoletar crises epilépticas. Depois tivemos muita gente a ligar a perguntar: eu tenho crises epilépticas, será que tenho um tumor no cérebro? Temos de ser muito cuidadosos com essas questões [nas redes sociais]”, diz Isa Mestre sobre a ligação fora da Internet que tem com quem segue a página que gere.

Há três anos que Isa Mestre é responsável pela comunicação do centro de Investigação algarvio que tem mais de 40 investigadores. O facto de ter sido seleccionada para marcar presença no evento sentiu-o como tendo sido a maior conquista alcançada com o trabalho desenvolvido: “estamos a mostrar que os cientistas são pessoas iguais a nós”, diz.

Como foram selecionadas?

Entre novembro e dezembro de 2017 o Facebook abriu candidaturas para gestores de páginas e administradores de grupos da plataforma. Fechado o processo, a rede social selecionou os candidatos. Como? O processo não é transparente, apesar de, ao que o Observador apurou, a escolha ter tido como base o “impacto feito na sociedade através de comunidades da plataforma”. O critério final de escolha e o número de representantes de cada país não foi divulgado.

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O Facebook Communities Summit Europe é a segunda edição de um evento focado, principalmente, na ferramenta de grupos da plataforma. Com o anúncio de novas ferramentas e de um programa de incentivo monetário a administradores, contou ainda com a presença de executivos de topo da rede social como Chris Cox, diretor de produto do Facebook, e Nicola Mendelsohn, vice-presidente da plataforma na Europa, Médio Oriente e Ásia.

*O Observador esteve em Londres, no Facebook Summit Europe, a convite do Facebook.