O presidente da Partex confirma que a empresa decidiu deixar de investir em Portugal e que não vai contestar a rescisão dos contratos com o Governo para exploração e prospeção de petróleo. A confirmação foi feita por António Costa e Silva em entrevista ao jornal Público.

Nós, pura e simplesmente, decidimos não investir mais em Portugal, não vale a pena. Apostámos no projecto do Algarve porque existia um Governo em que o ministro Álvaro Santos Pereira, que foi muito criticado, tinha a preocupação de desenvolver os recursos naturais e percebeu que o país precisava de uma onda de reindustrialização e que isso criaria riqueza e emprego”, disse.

De acordo com o responsável pela empresa, no caso do Algarve, o projeto era “plausível e executável”, tendo sido feitas campanhas sísmicas. Adianta também que fechou os projectos em Peniche e no Alentejo. E justificou: “quando mudou o Governo, passámos para o ciclo oposto, que é governar em função do que dizem os autarcas e a opinião pública, sem haver uma visão clara da importância que o projecto Algarve poderia ter”, disse. No entender do presidente da Partex, “uma política que hostiliza as empresas e o lucro não cria condições amigas do investimento e do desenvolvimento do país”.

Na entrevista ao Público, António Costa e Silva disse também que a Partex vai entrar “num novo ciclo” com a venda ao grupo chinês CEFC, que quer “investir e transformá-la numa plataforma global”, orientada para o Médio oriente, Ásia Central e países de língua portuguesa. O negócio ainda não está fechado, mas o presidente da Partex está confiante que é só uma questão de tempo.

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“A negociação, complexa, está a decorrer. Nesta altura estão-se a discutir os termos do acordo. Acho que há uma grande probabilidade de se concretizar. Depois, após o acordo, tem de haver a notificação a todas as companhias operadoras onde estamos, e há algumas concessões em que é necessário consultar também os parceiros por causa dos direitos de preferência”, disse.

António Costa e Silva, que se tem reunido com o novo accionista, salienta que os “recursos humanos são uma das condições cruciais do contrato”. O novo investidor quer a “equipa, as valências, o know-how, a tecnologia”. Questionado sobre se “vê a Partex a apostar novamente nas energias renováveis, Costa e Silva salienta que a empresa tem “muitos contactos pelo mundo”.

A Fundação Calouste Gulbenkian detém 100% do capital da Partex, empresa que é liderada por António Costa Silva. A Partex foi fundada em 1938, por Calouste Gulbenkian, que até então “tinha sido o grande promotor da criação da Iraq Petroleum Company, uma empresa que reuniu os interesses das empresas que hoje se chamam BP, Shell, Total, Exxon Mobil, e onde ficou com 5%, passando a ser conhecido como o “Mister Five Per Cent”.

Foi a Iraq Petroleum Company que iniciou toda a atividade da indústria petrolífera no Médio Oriente, juntando como parceiros o Iraque, Qatar, Abu Dhabi e Omã. Calouste Gulbenkian entrou na Iraq Petroleum Company em nome individual, mas depois criou a empresa Participations and Explorations, daí o nome Partex, que assinou em 1939 a primeira concessão com Abu Dhabi.

Com a nacionalização de 60% da concessão em 1971, surgiu a empresa nacional ADNOC em Abu Dhabi, diminuindo a participação de todos os accionistas, o que no caso da Partex representou uma redução de 5% para 2%. Entretanto, a Fundação Calouste Gulbenkian recebeu uma oferta de compra para a Partex, encontrando-se em processo de negociações com o grupo interessado.