Quem já esteve numa edição dos Jogos Olímpicos, de Verão ou de Inverno, percebe do que se fala. Há qualquer mágica no ar, uns pozinhos que nos conduzem para uma espécie de realidade alternativa de onde não queremos sair. Atletas, dirigentes, jornalistas ou fãs, todos vestem a mesma camisola num ambiente de espírito aberto, abertura e boa disposição onde uns querem desafiar o impossível e outros, muitas vezes sem ter sequer ligação, vivem essas emoções como se fossem as suas. Quando acaba, os que por lá andaram e os que por cá seguiram pensam de forma igual: como posso estar presente na próxima vez? É na resposta a esta questão que tropeçamos na história de Elizabeth Swaney, 24.ª no halfpipe.

Nascida nos Estados Unidos, onde se formou na Universidade de Berkeley antes de migrar para um mestrado em Harvard, a atleta de 33 anos que trabalha no recrutamento de engenheiros de software em Silicon Valley já tinha mostrado a sua faceta mais destemida quando em 2003, quando era apenas uma aluna universitária, tentara concorrer contra Arnold Schwarzenegger nas eleições para governadora do estado da Califórnia, como contou o The Mercury News. Falhou, mas teve mais sorte com o seu “projeto” para chegar aos Jogos de Inverno, que nasceu quando mal sabia sequer esquiar…

Consciente que, qualquer que fosse a modalidade, não teria hipóteses de ir longe pelos Estados Unidos, Elizabeth começou por experimentar o skeleton pela seleção da Venezuela, de onde é natural a mãe, após experiências falhadas à primeira na patinagem de velocidade de no hóquei em gelo. Não correu bem, como explicou a CBS num trabalho dedicado a uma grandes surpresas destes Jogos Olímpicos de Inverno. Em 2015, numa ideia um pouco mais consolidada, aproveitou a cidadania dos avós e naturalizou-se húngara, começando a competir em halfpipe. E porquê esta escolha? Porque, depois de analisar todos os dados, era a prova que lhe dava mais hipóteses de ir a PyeongChang.

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Depois de ter começado a aprender a esquiar aos 25 anos, inscreveu-se numa escola de esqui livre em Utah. No entanto, não era propriamente um grande talento na matéria. Não dava por um lado, deu por outro: como todas as atletas pontuam em provas que tinham 30 ou menos competidoras, foi somando participações atrás de participações em provas da Taça do Mundo (que costumam ter entre 20 a 25 atletas), num total de 13, e conseguiu os mínimos… sem saber um movimento. Como fazia então? Apesar de ser uma prova onde a habilidade e a perícia fazem a diferença, optou por andar sem sofrer nenhuma queda.

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É um honra poder competir nos Jogos Olímpico e estou muito feliz por poder competir entre outras fantásticas mulheres de várias partes do mundo. Quero mostrar aos outros que o esqui estilo livre é possível e que nunca é tarde para entrar num desporto, ajudando outros a que sigam o seu sonho e consigam fazer progredir o desporto na Hungria. Espero que seja uma plataforma para inspirar outros”, comentou antes do início da prova em PyeongChang.

O “problema” veio na prova em si, onde, de forma inevitável, acabou por ficar no 24.º e último lugar, com a melhor pontuação entre as duas corridas de 31.40. Para termos dados comparativos, eis algumas referências: a dinamarquesa Laila Friis-Salling, que ficou em penúltimo, fez 45.00; a francesa Anaïs Caradeux, 12.ª e última classificada para a final, acabou com 72.80; o pódio teve a canadiana Cassie Sharpe, com a francesa Marie Martinod e a americana Brita Sigourney acima dos 90.

“Não me qualifiquei para a final, por isso estou muito desapontada. Mas trabalhei muito durante vários anos para atingir este patamar. Estive focada na minha experiência olímpica mas também no halfpipe e em chegar mais alto em cada uma das provas”, referiu após a qualificação em declarações citadas pela Reuters.

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A forma como garantiu presença nos Jogos de 2018 acabou por ser muito criticada por outras atletas, sobretudo pelo facto de ter ocupado a vaga de alguém que realmente sabia o que se deve fazer no halfpipe, mas os próprios juízes e responsáveis da federação de esqui, em declarações ao Denver Post, asseguraram a total legalidade em termos de provas, pontuações e requisitos mínimos para a qualificação. Ainda assim, é muito provável que, a partir deste caso, algumas regras mudem.