Seis livros — três da coleção “Ensaios” e três da coleção “Retratos” — já foram publicados mas, até final de 2018, a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) vai publicar mais nove. Os títulos vindouros foram apresentados esta quarta-feira no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, pelo responsável editorial da fundação, o historiador António Araújo e pelo diretor geral da FFMS, David Lopes.

Foi ainda anunciada a entrada no mercado dos audiolivros, com o lançamento de cinco obras: “Alentejo Prometido”, de Henrique Raposo, “Longe do Mar”, de Paulo Moura, “Trás-os-Montes, o Nordeste”, de José Rentes de Carvalho, “Malditos: histórias de homens e de lobos”, de Ricardo J. Rodrigues e “A porteira, a madame e outras histórias de portugueses em França”, de Joana Carvalho Fernandes.

Com vários autores dos títulos lançados ou prestes a serem lançados na plateia — do crítico de cinema João Lopes à escritora Luísa Costa Gomes (que teve “carta branca” para escrever o que quisesse e que António Araújo há muito instigava a escrever para a FFMS), do jornalista Nélson Marques ao ex-secretário-geral da Presidência do Conselho de Ministros, José Sousa Rego, do pedopsiquiatra Pedro Strecht à professora e especialista em ecologia, Iva Pires –, o “mestre-de-obras”  da fundação, António Araújo (assim nomeado por David Lopes), divulgou o plano editorial para o ano. A fundação, atualmente presidida por Jaime Gama, celebra nove anos de existência e um outro número mais redondo: um milhão de livros seus nas mãos dos portugueses.

 É nosso objectivo que, quando tanta se fala de desinformação e falsas notícias, os portugueses possam contar com informação e com opinião segura, avançada pelos maiores especialistas nas suas áreas de trabalho. Académicos, investigadores, intelectuais de renome, jornalistas de talento, escritores novos e consagrados, a FFMS aposta no pluralismo e, acima de tudo, na qualidade”, afirmou António Araújo.

Em maio, chegarão seis livros. Um deles é “As Pescas em Portugal“, um ensaio sobre a evolução do setor pesqueiro nacional escrito por um especialista que é também historiador, Álvaro Garrido. António Araújo espera um retrato mais informado,”e menos condicionado, não à espuma do mar, mas à espuma dos dias”, para o debate sobre as quotas de pesca.

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Também em maio sai a “A Saúde Mental dos Portugueses“, ensaio escrito por José Caldas de Almeida, Professor  Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e diretor do Lisbon Institute of Global Mental Health. Caldas de Almeida, também responsável pela implementação do Plano Nacional de Saúde Mental entre 2008 e 2011, irá traçar a evolução “dos conceitos de saúde mental e doença mental” e os progressos científicos e tratamentos aplicados a estas doenças.

Cinema e História: aventuras narrativas“, do crítico de cinema João Lopes, será mais um ensaio a ser publicado em maio. Mais do que incidir sobre a evolução histórica do cinema, obra irá relacionar a evolução com o universo que a rodeia — e que, por sua vez, é às vezes espelhado e outras influenciado por ela.

Tal como os navios são feitos para saírem dos portos , os nossos livros são editados para chegarem às mãos dos portugueses. E, a partir de agora, também aos seus ouvidos, com o início da sua publicação em formato de audiolivro”, apontou o diretor-geral da fundação, David Lopes.

Na coleção Retratos, chega também em maio a estreia da escritora Luís Costa Gomes no catálogo da Fundação Francisco Manuel dos Santos. “Da Costa” não será uma historiografia da Costa da Caparica, há muito um local de eleição da autora, mas “o retrato vivido de um pequeno mundo” que Luísa Costa Gomes habita. O livro será “um flanar pelas praias e montes da Caparica”, pela “Cova do Vapor” e pelas “quintas, vestígios das famílias fidalgas que vinham à Margem Sul desenfadar-se da Corte e de Lisboa”. O percurso narrativo culminará no Bairro dos Cooperativistas, “habitação construída para operários da Lisnave”.

Ainda no mesmo mês, sai “A curva de um rio”, de Francisco José Viegas, editor e escritor que aqui não propõe aventuras policiais mas “memória familiar, reportagem e diário sentimental” sobre o Douro. É, para já, o que se sabe da obra, que “ainda não está escrita”, esclareceu o diretor editorial da FFMS, António Araújo.

[A apresentação do plano editorial de 2018 da FFMS em imagens:]

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Também em maio e na coleção Retratos será editado o título “No Centro do Poder”, de José Maria Sousa Rego (porventura com outro nome). Outrora secretário-geral da Presidência do Conselho de Ministros, mas já retirado da política, Sousa Rego está menos condicionado pelo debate político-partidário. Não sendo de esperar um diário de memórias repleto de divulgações bombásticas (“até porque não é esse o timbre deste autor e dos livros da fundação”, sublinhou António Araújo), promete apresentar “o poder por dentro e propõe cinco medidas estruturais para uma verdadeira reforma da Administração Pública em Portugal, independente de partidos, lobbies ou pressões individuais”.

Setembro: do desperdício alimentar às memórias da ditadura

Em setembro, a FFMS publicará três ensaios. “Desperdício Alimentar”, de Iva Pires, traça um quadro desolador. Desperdiçam-se todos os anos 1,3 mil milhões de alimentos por ano. E em Portugal cada pessoa desperdiça anualmente, em média, “100 quilos de alimentos”. O ensaio “faz o ponto de situação sobre as questões éticas, ambientais e económicas de um problema gigantesco que ameaça de facto o nosso futuro, apresentando soluções e iniciativas para o combater”. Na apresentação, lembrando que a fundação é apoiada por um grupo de distribuição (Jerónimo Martins) mas que não é isso que motiva a reflexão, António Araújo alertou para um problema que, segundo percebeu (e a autora não contrariou), deve-se mais aos circuitos de produção e venda do que aos de distribuição. A obsessão dos ocidentais com a “fruta bonita”, ou que é percecionada como bonita, é um dos problemas a resolver.

A politóloga Filipa Raimundo publicará também um ensaio em setembro. O título “Ditadura e democracia: legados da memória” ainda é provisório. A obra aborda a relação dos povos com a ditadura, olhando em especial para o caso português no pós-Estado Novo e para os espanhóis (que têm com a memória uma relação mais visceral, como se comprova pela Lei da Memória Histórica) no pós-Franquismo.

Por último, a fundação publicará também o ensaio “Envelhecimento e políticas de saúde“, da coordenadora e co-autora do livro “Portugal 2031 Ageing and Health Policies”, Teresa Rodrigues. Portugal, lembra a autora, é “o sexto país mais envelhecido do mundo” e encontra-se numa “recessão populacional só igualável à da década de 1960”. O novo ensaio propõe-se responder a duas coisas, “que políticas de saúde temos e que políticas de saúde precisamos para assegurar o futuro desta nova era demográfica nacional”.

Este ano, a Fundação Francisco Manuel dos Santos já editou seis livros, de autores como João Villalobos (que António Araújo disse  ler “desde os tempos do saudoso Independente”), Daniel Seabra Lopes e Ricardo Gomes Moreira, Conceição Pequito Teixeira, Maria Luísa Pedroso de Lima e dos já referidos Pedro Strecht e Nélson Marques, que atravessam temas como a democracia e os novos populismos, o exagero na utilização de medicação como resposta a diagnósticos de hiperatividade e défice de atenção (“quantos deles reais?”), a psicologia social e a dificuldade de combater doenças oncológicas em período de gravidez (uma reportagem de Nélson Marques chamada “Filhos da quimio”).