Na sequência da investigação do Observador ao negócio das portuguesas que foram distinguidas pela Forbes como duas das jovens mais brilhantes da Europa com menos de 30 anos na categoria de Retalho e Comércio Eletrónico, a Portugal Ventures reagiu em comunicado enviado às redações.
Depois de ter afirmado ao Observador que não tinha conhecimento de que a empresa estivesse para fechar e de ter dito que o negócio estava sujeito a contratos de confidencialidade que não iria quebrar, a sociedade de capital de risco pública afirmou que o negócio não tem a sustentabilidade necessária para continuar operacional e que está a tentar vender a empresa.
Chic by Choice, o negócio fantasma das portuguesas que foram distinguidas pela Forbes
Detentora de 18,7% do capital social da Chic by Choice, a Portugal Ventures esclarece assim que investe na empresa desde o seu início, em 2014, investimento esse que “foi reforçado em 2015 com a perspetiva de que a margem operacional da Chic by Choice convergisse com a necessária sustentabilidade do negócio, o que não se verificou”.
O fundo de investimento explica ainda que “para que o crescimento da empresa evoluísse à dimensão e velocidade desejada, era necessário realizar uma nova ronda de investimento, para a qual a Portugal Ventures demonstrou disponibilidade. As negociações com novos investidores, lideradas pelas promotoras Lara Vidreiro e Filipa Neto, não foram concluídas nos timings expectáveis”.
No final a Portugal Ventures acaba por dizer que, “as promotoras optaram por reduzir a estrutura de custos e o investimento na aquisição de clientes, mantendo a marca ativa no mercado através da rentabilização dos seus ativos existentes e estabelecendo contactos para a possibilidade de venda da empresa”, esclarecendo que, à data, “todos os intervenientes neste processo continuam a trabalhar para que a marca Chic by Choice permaneça ativa no mercado”.
Primeiro contacto com a Portugal Ventures ocorreu em julho
A primeira vez que o Observador tentou contactar a Portugal Ventures para saber o que se passava com a Chic by Choice ocorreu em julho de 2017. Queria saber se a empresa estaria a encerrar atividade e, por isso, a escoar stock, dadas as recentes promoções na marca e a saída de colaboradores da empresa. Nessa altura, a resposta da sociedade de capital de risco pública respondia que “não lhes tinha sido comunicada qualquer informação que permitisse concluir que a Chic by Choice iria encerrar”. Filipa Neto, diretora-geral do projeto, mantinha a mesma versão ao Observador dias depois, explicando que o negócio estaria a passar por uma fase de reestruturação e mudança, mas ativo.
Depois de as duas portuguesas terem sido distinguidas pela Forbes como estando entre as jovens mais brilhantes da Europa no “30 Under 30”, em janeiro de 2018, o Observador constatou que os vestidos continuavam apenas disponíveis para venda com promoções na ordem dos 80%. Voltou a contactar a Portugal Ventures, que confirmou o que já tinha dito em julho: “Não nos foi comunicado qualquer desenvolvimento que permita tirar conclusões sobre o encerramento da empresa”.
Confrontada com o facto de as duas empreendedoras já estarem a trabalhar noutras empresas desde novembro e dezembro de 2017, e com o facto de ser impossível alugar vestidos no site da empresa — quando esse é o modelo de negócio da Chic by Choice e é o motivo pelo qual foram distinguidas pela publicação norte-americana — o fundo de investimento acrescentou: “O acordo parassocial que a Portugal Ventures tem com todas as participadas e restantes parceiros que integram a estrutura acionista destas empresas obedece a acordos de confidencialidade“, que não iria quebrar.
Ao Observador, a Faber Ventures, sociedade de capital de risco que também investe na empresa desde o seu lançamento, não quis prestar declarações. Na última ronda de investimento da empresa, de cerca de 1,5 milhões de euros, tinham participado a Portugal Ventures, a Faber Ventures, Paulo Mateus Pinto (presidente da La Redoute Iberia) e Nuno Miller (ex-responsável pela área tecnológica da Farfetch e, na altura, responsável pelos canais digitais da Sonae).
A Faber Ventures e a Portugal Ventures também participaram no primeiro investimento que a Chic by Choice recebeu, no valor de 500 mil euros, em 2014. Em 2015, a empresa comprou uma concorrente alemã, a La Remia, mas os termos dessa negociação nunca chegaram a ser revelados. O Observador apurou que o processo de seleção dos “30 Under 30” da Forbes começou em outubro e que os participantes tiveram de responder a vários questionários sobre a sua vida pessoal e profissional.
Em novembro de 2017, Lara Vidreiro já estava a trabalhar como consultora digital sénior de e-commerce na A2D Consulting e Filipa Neto começou a trabalhar como especialista de inovação na Farfetch, desde dezembro de 2017. Na rede social, ambas mantinham os cargos de cofundadoras e Filipa Neto aparece como diretora geral da Chic by Choice.
Abaixo, encontra o comunicado da PV na íntegra:
“A Portugal Ventures acompanha a Chic By Choice desde 2014, uma startup portuguesa que se afirmou internacionalmente como uma marca de e-commerce de aluguer de vestidos e acessórios de alta costura por uma fração do preço no retalho tradicional, permitindo democratizar o acesso a produtos de luxo de marcas de referência internacionais.
Desde o início da sua atividade que o maior desafio da Chic by Choice foi criar um mercado de raiz, dado que na Europa, o conceito de aluguer de vestidos para ocasiões especiais não era um serviço amplamente utilizado. O modelo de negócio da Chic by Choice foi disruptivo, inovador e distinguido internacionalmente, tendo a empresa atingido o aluguer de 600 vestidos nos períodos de maior procura. Foi uma das empresas líder na Europa, com presença importante no Reino Unido e Alemanha.
O investimento da Portugal Ventures começou em 2014, numa ronda de investimento seed com outros investidores, o qual foi reforçado em 2015 com a perspetiva de que a margem operacional da Chic by Choice convergisse com a necessária sustentabilidade do negócio, o que não se verificou.
Para que o crescimento da empresa evoluísse à dimensão e velocidade desejada, era necessário realizar uma nova ronda de investimento, para a qual a Portugal Ventures demonstrou disponibilidade. As negociações com novos investidores, lideradas pelas promotoras Lara Vidreiro e Filipa Neto, não foram concluídas nos timings expectáveis.
Na sequência, as promotoras optaram por reduzir a estrutura de custos e o investimento na aquisição de clientes, mantendo a marca ativa no mercado através da rentabilização dos seus ativos existentes e estabelecendo contactos para a possibilidade de venda da empresa.
Ao longo de todo este processo, a Portugal Ventures, que detém 18,7% do capital social da empresa, cumpriu todos os compromissos estipulados na term sheet que regula o investimento, libertando os recursos necessários para a operação da empresa e favorecendo as condições para que concluísse a operação de coinvestimento.
À data, todos os intervenientes neste processo continuam a trabalhar para que a marca Chic by Choice permaneça ativa no mercado.
De referir ainda que a Portugal Ventures integra o Setor Público Empresarial do Estado, desenvolvendo a sua atividade nas mesmas condições e termos aplicáveis a qualquer empresa privada, estando sujeita às regras gerais da concorrência, nacionais e de direito da União Europeia e que, tal como as restantes sociedades comerciais, tem como finalidade o lucro, financiando todas as suas atividades apenas com recursos próprios e receitas provenientes das comissões de gestão dos fundos de capital de risco que gere, não recebendo qualquer transferência do Orçamento do Estado.”
– “[Chic by choice: veja no vídeo os tempos de glória antes da crise]
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