No mundo dos negócios, quem tem dinheiro dita as regras. Durante algum tempo, os alemães da Daimler tentaram evitar a entrada dos chineses no seu capital, mas Li é um homem decidido e controla um império que lhe dá acesso a fundos colossais, pelo que os 7,3 mil milhões que pagou pelos quase 10% da Daimler, são apenas tostões.
Li Shufu criou a Geely em 1986 e, ao contrário de muitos empresários chineses, não é o tradicional testa de ferro do Governo local. Hoje controla, além da Geely, a Volvo Cars, Proton, Lotus e a London Electric Vehicle Company, ou seja, a empresa que fabrica em exclusivo os tradicionais táxis londrinos. E se pensa que a compra da grande fatia da Daimler foi um esforço financeiro dificilmente repetível, é bom saber que apenas cerca de um mês antes, em fim de Dezembro de 2017, Li pagou 2,7 mil milhões de euros por 8,2% da Volvo AB, os veículos pesados e de construção suecos.
É certo que Shufu adquiriu os 9,69% da Daimler em seu nome, e não da Geely, mas as diferenças não são muitas no hora de saber quem manda. Apesar da Daimler incluir, além da Mercedes e Smart, os camiões americanos da Freighyliner e Western Star, o interesse de Shufu incide na gama de veículos eléctricos que a Mercedes vai lançar a partir de 2020, a quem Li quer aceder e, provavelmente, assinar uma parceria que lhe permita beneficiar – a ele e às suas outras marcas – da tecnologia que eventualmente os alemães possuam. A Mercedes, pelo seu lado, usufruiria da porta aberta pela Geely no mercado chinês, que é o maior do mundo para veículos convencionais e de forma ainda mais notória para carros eléctricos.
Entretanto, nem tudo são rosas e as coisas podem correr menos bem entre a Daimler e o seu novo accionista. Para começar, seja para evitar fazer ondas, ou para sossegar os alemães, Li achou necessário afirmar que não pensava “de momento” reforçar a sua posição na empresa.
Mas como o porta-voz da Daimler, Joerg Howe, achou por bem partilhar que “a Daimler vê a entrada de Shufu no capital como algo positivo, mas que não irá necessariamente conduzirá a qualquer parceria”, revelando que faz questão em manter a associação que já possui no mercado chinês com a BAIC, o que contraria as ambições do empresário chinês, não é de todo impossível que ele regresse ao mercado para comprar mais umas fatias do grupo alemão.
A Daimler tem como os maiores accionistas a Renault, com 3,1%, a Blackrock (5,83%) e a Kuwait Investments (6,8%) e os 9,69% de Li Shufu, com o restante capital disperso por pequenos investidores. Que não serão difíceis de convencer a vender pela quantia certa. E não será impossível para Li chegar aos 20 ou 30%, passando a poder nomear administradores e até chegar a CEO. Uma novela a seguir com atenção, tanto mais que é secular a paciência dos chineses.