A EDP fechou o ano de 2017 com um lucro consolidado de 1,113 mil milhões de euros, o que representa uma subida de 16% face a 2016. O crescimento dos lucros está suportado em mais-valias obtidas nas vendas da Portgás (Portugal) e da Naturgás (Espanha) que, no caso da empresa espanhola, ficaram isentas do pagamento de imposto. Já o resultado recorrente desceu 8% para 845 milhões de euros por uma conjugação de efeitos positivos e negativos.

Do lado positivo, o presidente da EDP destaca a energia renovável e o Brasil. Do lado negativo, António Mexia sublinha os resultados em Portugal e Espanha onde o resultado caiu 50% por causa do efeito da seca, mas também devido a alterações do quadro regulatório, introduzidas por decisões políticas. Já o resultado operacional bruto (EBITDA), sem elementos financeiros ou extraordinários, cresceu 17%, graças à EDP Renováveis e ao Brasil.

Conseguimos entregar, independente das coisas que não controlamos como a chuva”, realçou o presidente da elétrica.

Outro factor não controlável passou pelos “resultados adversos” do ponto de vista da regulação. O total de custos regulatórios (clawback, tarifa social, CESE — contribuição extraordinária — em Portugal; impostos à geração em Espanha) suportados pela EDP ascendeu a 334 milhões de euros m 2017. Um custo que cresceu 43% face ao no ano anterior. Em Portugal, a fatura das medidas regulatórias — na verdade, medidas políticas aprovadas pelo Governo e Parlamento — foi de 192 milhões de euros, acrescentou Nuno Alves, administrador financeiro. Já os efeitos da seca “custaram” à EDP 300 milhões de euros.

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Outro das notas deixadas pelo presidente da elétrica, que apresentou esta quinta-feira os resultados de 2017, foi a descida do peso do mercado português (na verdade ibérico) nos resultados do grupo, que representou menos de 40% do resultado operacional recorrente (sem efeitos extraordinários) no ano passado.

“Se não tivesse sido esta orientação estratégica, o que teria acontecido à companhia?” António Mexia faz a pergunta retórica para sublinhar o crescimento de 50% alcançado no mercado brasileiro (em moeda local) e um aumento de mil milhões de euros na EDP Renováveis. Já os resultados da produção e comercialização na Península Ibérica caíram 51%. O ano também ficou marcado pela descida de 13% na dívida líquida, muito por via da venda dos ativos na área do gás natural, em Portugal e Espanha.

EDP deixou de pagar quando constatou que dinheiro não chegava ao setor

A EDP foi a última empresa a contestar a contribuição extraordinária, a CESE. E António Mexia diz que a empresa só decidiu deixar de pagar quanto constatou que a receita não estava a contribuir para o setor. A receita da CESE deveria ter sido transferida para abater ao défice tarifário, mas tem sido retida pelo Ministério das Finanças.

Energia. Em 150 milhões de euros, só cinco milhões beneficiaram preços

Medidas fiscais de Trump deram ganho de 60 milhões à EDP Renováveis

E por falar em impostos, a elétrica diz que foi o maior pagador de IRC em Portugal no ano passado, contribuindo com 9% da receita total deste imposto, tendo pago 489 milhões de euros. Este valor foi inflacionado pelo imposto sobre a venda do défice tarifário, efeito que aliás fez subir a cobrança do IRC no ano passado.

No entanto, e em termos contabilísticos, a empresa só registou 10 milhões de euros de impostos sobre os resultados consolidados, excluindo a CESE. Para esta situação, contribuíram a isenção fiscal sobre as mais-valias na venda das operações em Espanha e as medidas fiscais adotadas pela administração Trump que tiveram um efeito favorável de 60 milhões de euros na EDP Renováveis.

O presidente da EDP, que vai ser reconduzido no novo mandato, foi ainda questionado sobre a sua continuidade no cargo, caso fosse acusado na investigação judiciais aos contratos das centrais elétricas. António Mexia remeteu a decisão para os acionistas, acrescentando que “parece que já decidiram”.