O tenor Fernando Serafim e o pianista Nuno Vieira de Almeida participam esta quinta-feira na apresentação, em Lisboa, da obra “Fernando Lopes-Graça e Eugénio de Andrade. O diálogo entre a música e a poesia [Correspondência]”.

A obra, que reúne a correspondência entre o compositor Fernando Lopes-Graça e o poeta Eugénio de Andrade, “que marcaram indelevelmente a cultura portuguesa do século XX”, numa edição e transcrição do musicólogo Tiago Manuel da Hora, é apresentada às 18h30, na FNAC do Chiado, em Lisboa.

Tiago Manuel da Hora afirma, no prefácio, que da troca de cartas entre estas duas personalidades “resulta um legado que funde a música e a poesia numa obra de referência”.

Na opinião do investigador da Universidade Nova de Lisboa (UNL), “este diálogo ‘postal’, em constante toada de pergunta e resposta, acarreta em si mesmo muito mais do que a partilha de ideias e a cumplicidade artística entre os dois vultos”.

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Da colaboração entre Fernando Lopes-Graça (1906-1994) e Eugénio de Andrade (1923-2005) resultaram três ciclos de canções: “As Mãos e os Frutos”, “Mar de Setembro” e “Aquela Nuvem e Outras”, além da canção “Nana”.

O ponto central que estimulou esta “cumplicidade entre compositor e poeta reside no facto de [se estar] perante um músico conhecedor e divulgador na produção poética e literária do seu tempo, e um poeta para o qual a música e o som são uma presença essencial e condição inerente à vivência e fruição do texto poético”.

A primeira carta data de abril de 1956 e nela Lopes-Graça dá conta ao poeta que não “atinou” no tom conveniente.

“Tenho vergonha de lhe confessar que o gostoso projeto de musicar algumas das suas lindas poesias de ‘As Mãos e os Frutos’ se gorou”, escreve Lopes-Graça, referindo em seguida: “Nada de jeito me saiu da cansada inspiração”.

“Não atinei com o tom conveniente para os seus versos ou então, o que me parece mais certo, estou liquidado como compositor”, alvitra Lopes-Graça, que se despede do poeta com “um abraço amigo”.

A composição deste ciclo foi terminada em janeiro de 1959 e foi apresentado ao público em dezembro desse ano, interpretado por Fernando Serafim, a quem Lopes-Graça o dedicou, tendo a edição discográfica saído no ano seguinte.

Ao ciclo “As Mãos e os Frutos” sucedeu “Mar de Setembro” (1962), que o musicólogo aponta como “uma obra de menor profundidade dramática, se comparada” com o anterior, considerando, todavia, Lopes-Graça, numa das cartas, que a “mão já estava um pouco feita” para os versos de Eugénio.

“Mar de Setembro”, “onde impera um caráter mais celebrativo e efusivo”, escreve Tiago da Hora, foi apresentado em estreia em fevereiro de 1963 na então Emissora Nacional, com interpretação de Fernando Serafim, acompanhado ao piano pelo próprio Lopes-Graça, que voltaria a este ciclo, incluíndo mais três canções. A sua edição discográfica, amplamente revista pelo compositor, saiu em 1975.

Esta obra será apresentada no Porto, na Biblioteca Pública Municipal, no próximo dia 10, às 17h00, por Henrique Manuel Pereira, doutorado em Cultura e investigador do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes, e do Grupo de Estudos Literários e Culturais da Universidade de Aveiro.

No dia 17, às 17h00, o livro “Fernando Lopes-Graça e Eugénio de Andrade. O diálogo entre a música e a poesia [Correspondência]” é apresentado em Cascais, nos arredores de Lisboa, na Fundação D. Luís, pelo musicólogo Mário Vieira de Carvalho, seguido da atuação do tenor João Rodrigues, acompanhado pelo pianista Nuno Vieira de Almeida.