Documentos publicados na Nature por cientistas da NASA revelaram dados surpreendentes sobre a atmosfera e tempestades de Júpiter. A sonda Juno, que orbita em torno do maior planeta do Sistema Solar, descobriu a existência de diversos ciclones em torno de ambos os pólos de Júpiter. Sim, cada uma daquelas circunferências na imagem é um ciclone; e sim, estão mesmo todos organizados de modo poligonal em torno de um grande ciclone central. Os cientistas ainda não sabem bem o porquê de isto acontecer — até porque não era suposto acontecer.

As imagens são um composto que resulta de dados recolhidos pelo JIRAM (Jovian Infrared Auroral Mapper), um instrumento que mapeia o planeta através de infravermelhos. No pólo norte, oito ciclones com um diâmetro de entre 4.000 e 4.600 quilómetros (km) orbitam o ciclone polar, criando uma forma octogonal. No sul, em forma de pentágono, cinco tempestades com um diâmetro de entre 5.600 a 7.000 km circulam em torno do ciclone central.

Estas disposições surpreenderam a equipa da NASA: normalmente, os ciclones migrariam rumo ao centro do pólo por culpa do força de Coriolis, que faz com que os vórtices num fluido se dirijam naturalmente para os pólos, onde acabariam por se fundir.

Contudo, explica a Ars Technica, nenhum destes ciclones acabou por se dirigir para o centro polar nem se fundir com outros durante as observações da sonda. O que o torna ainda mais surpreendente é o facto de os ciclones serem todos bastante densos e entrarem em contacto uns com os outros. Nesta situação, as tempestades deveriam estar a puxar-se e a empurrar-se umas às outras, fundindo-se em resultado disso — mas não estão.

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Um dos autores da publicação na Nature, Alberto Adriani, refere que “antes da Juno” não sabiam “como era o tempo perto dos pólos de Jupiter”, mas que agora podem observá-lo “de perto a cada dois meses”.

Cada um dos ciclones do norte é quase tão largo como a distância entre Nápoles e Nova Iorque — e os do sul são ainda mais largos do que isso. Eles têm ventos muito violentos, que atingem, em alguns casos, velocidades de 350 km/h. Por fim, e talvez ainda mais surpreendente, eles estão muito juntos e duradouros. Não há mais nada assim de que tenhamos conhecimento no nosso sistema solar”, disse Adriani.

Para Alberto Adriani, a questão que se coloca é o porquê de estes ciclones não se estarem a fundir. “Sabemos graças a dados da Cassini [sonda que estudou Saturno e o seu sistema] que Saturno tem apenas um vórtice ciclónico em cada pólo. Estamos a começar a aperceber-nos de que nem todos os gigantes gasosos nascem iguais.”, explicou.

De acordo com o estudo, a NASA está agora a tentar fazer um modelo das condições atmosféricas que permitem que os ciclones tenham aquela configuração e persistam na atmosfera de Júpiter, algo que dizem ser “sem precedentes noutros planetas”.