Desconstruir e subverter parecem ser as palavras de ordem, pelo menos para os principiantes que abriram a 50.ª edição da ModaLisboa, no desfile do Sangue Novo. Por entre assimetrias, sobreposições e aglutinações, Filipe Augusto, designer que percorreu pela segunda vez consecutiva a passerelle do concurso, sagrou-se o grande vencedor de mais uma edição. No total, foram oito os jovens criadores que apresentaram pequenas coleções para a próxima estação fria. Todos com um ponto de vista, todos com diferentes posicionamentos no que toca ao lado vestível da moda.
Filipe Augusto
Das margens do Douro para o Pavilhão Carlos Lopes, a reflexão de Filipe Augusto em torno do vestuário de trabalho valeu-lhe o prémio mais importante do concurso, o da ModaLisboa. Natural do Peso da Régua, o jovem designer começou por compreender a farda dos trabalhadores do campo e adaptá-la guarda-roupa citadino dos homens. Fê-lo, não através da robustez das peças, mas com uma diversidade de texturas, bolsos utilitários e com materiais rudes como o nylon dos sacos de carga. A própria paleta cromática viajou ao sabor das encostas do rio, entre amarelos e vermelhos. Filipe Augusto tem entrada garantida na próxima edição do Sangue Novo, um prémio de 5000€ e um curso de verão na Domus Academy ou na NABA – Nuova Accademia di Belle Arti Milano.
Federico Cina
Estampados gráficos, peças de jogging e volumes, muitos volumes. Se tivéssemos de resumir a pequena coleção do italiano Federico Cina numa única peça, seria o quispo, construído, desconstruído ou assim-assim. No fundo, o designer só queria, através da roupa, criar uma espécie de bolha, refúgio criativo para onde sabe bem fugir de vez em quando.
Federico Protto
Este designer uruguaio quis trazer um bocadinho da sua terra para esta estreia na ModaLisboa. Conseguiu. O resultado? Um gaúcho sem género, que tanto usa umas calças de pelo de vaca malhada como veste um blazer preto de corte reto e um decote profundo. É que nem a direção de turismo do dito país fazia melhor. As influências do folclore valeram a Federico Protto a segunda menção honrosa da noite pela ModaLisboa.
Inês Nunes do Valle
Antes de qualquer outra informação sobre a coleção de Inês Nunes do Valle, fique já a saber que ela não vai ficar só no papel. A designer ganhou o prémio atribuído pela concept store The Feeting Room, que vai encarregar-se da produção e da comercialização das peças no próximo outono. De volta à coleção propriamente dita, descontextualizar foi o verbo do dia. Numa altura em que as grandes marcas saem dos seus ateliers e se deixam contagiar por elementos da moda de rua (olhe para a Gucci e para a Burberry), Inês apanhou boleia e vestiu a próxima estação fria com tartan, pied-de-poule e riscas de giz. Padrões mais clássicos não há, mas Inês deu-lhes uma volta ao brincar com volumetrias e cortes.
Isidro Paiva
O designer fez um esforço para descer à terra na sua quarta coleção, a primeira apresentada na ModaLisboa. Renunciou ao conceptual, apostou numa coleção vestível, com peças de corte familiar, e deu uma folga (mais do que merecida) ao termo “desconstrução”. Uma opção louvável, mas que pedia um styling à altura. Infelizmente, essa segunda parte ficou por concretizar.
N’a Pas de Quoi
Acha que duas cabeças pensam melhor do que uma? Engana-se. Não é à toa que nenhuma das duas duplas que desfilaram no Sangue Novo voltaram à passerelle para reclamar os louros. A Ophelia (nome da coleção) das N’a Pas de Quoi foi aborrecida e monótona e mostrou-nos tudo o que tinha para dar logo no primeiro coordenado.
Opiar
Outra dupla de designers, outra coleção que não encheu as medidas. Artur Dias e Vera Gomes não conseguiram descolar-se do mais banal do pronto-a-vestir. As peças não brilharam, apesar da alegre mistura de azul e cor-de-rosa.
Rita Sá
Foi a segunda vez que Rita Sá pôs os pés (ou melhor, os modelitos) na ModaLisboa e das duas vezes saiu em alta. Na edição passada, voltou para casa com uma menção honrosa, desta vez, além da bonita distinção, recebeu ainda o prémio do Fashion Clash, festival holandês cuja próxima edição será em junho, na cidade de Maastricht. Entretanto, Rita deixou a passarelle azul, aquele azul dos sacos de plástico. Com o decorrer do desfile, os coordenados foram ficando mais complexos, metáfora para um aparato criado numa sociedade que vive de aparências e que, às tantas, se descontrola. A designer descontrolou calções, casacos e calças e trocou-nos as voltas sem que percebêssemos muito bem onde começa e acabava o quê. Parece que valeu a pena o risco.