O cidadão marroquino acusado de pertencer ao grupo terrorista Estado Islâmico deslocou-se várias vezes ao Centro de Acolhimento para Refugiados, em Loures, para recrutar operacionais para esta organização, prometendo-lhes mensalmente 1.800 dólares norte-americanos, descreve a acusação. Abdesselam Tazi, 64 anos, em prisão preventiva na cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa, está acusado pelo Ministério Público (MP) de oito crimes: adesão a organização terrorista internacional, falsificação com vista ao terrorismo, recrutamento para o terrorismo, financiamento do terrorismo e quatro crimes de uso de documento falso com vista ao financiamento do terrorismo.

Segundo a acusação do MP, a que a agência Lusa teve acesso esta quarta-feira, o arguido aterrou no Aeroporto de Lisboa, a 23 de setembro de 2013, num voo proveniente de Bissau, na posse de um passaporte francês falso, razão pela qual foi recusada a sua entrada em território nacional. Na ocasião, o ex-polícia marroquino invocou o Estatuto de Refugiado, tendo-lhe sido concedida a autorização de residência válida até 20 de outubro de 2019. Após ter pedido proteção ao Estado português, sob o pretexto de ter sido perseguido politicamente em Marrocos, foi colocado no Centro de Instalação Temporária do Aeroporto de Lisboa, entre 23 e 30 de setembro.

O pedido de asilo foi aceite e, a 1 de outubro, Abdesselam Tazi foi transferido para o Centro de Acolhimento para Refugiados, na Bobadela, em Sacavém, concelho de Loures, onde permaneceu até 29 de novembro de 2013, data em que passou para a tutela da Segurança Social de Aveiro e ficou colocado na Fundação CESDA (Centro Social do distrito de Aveiro), até maio de 2014. Abdesselam Tazi fez-se sempre acompanhar de Hicham El Hanafi [detido em França desde 20 de novembro de 2016 por envolvimento na preparação de um atentado terrorista], que havia radicalizado e recrutado em Marrocos, antes de ambos viajarem para a Europa. O MP diz que o processo de refugiado, os apoios e a colocação em Portugal deste suspeito foram idênticos aos do arguido, tendo ambos ficado a viver juntos no distrito de Aveiro.

“Pelo menos a partir de 23 de setembro de 2013, a principal atividade desenvolvida pelo arguido em Portugal consistia em auxiliar e financiar a deslocação de cidadãos marroquinos para a Europa e em obter meios de financiamento para a causa ‘jihadista'”, indica a acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal. O MP conta que Abdesselam Tazi “passou a visitar regularmente” o Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR) “para dar apoio às pessoas em relação às quais organizara a sua vinda para Portugal e outros migrantes jovens que pudessem ser radicalizados e recrutados para aderirem ao DAESH” (acrónimo árabe do grupo extremista Estado Islâmico), procurando convencê-las de “que teriam uma vida melhor se aderissem ao DAESH e fossem viver para a Síria”.

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Assim, em fevereiro de 2015, o arguido contactou e convidou quatro residentes do CAR para se deslocarem a Aveiro, sendo as viagens pagas por Abdesselam Tazi. “Foi nesse contexto que Hicham El Hanafi e o arguido o tentaram convencer [um dos elementos] a integrar fileiras do exército ‘foreign fighters’ [combatentes do estrangeiro] para combater pela organização terrorista Estado Islâmico, em território sírio, a troco de um vencimento mensal de 1.800 USD [dólares norte-americanos], proposta que foi recusada por parte de Outmane Jbilou”, relata a acusação, acrescentando que a mesma proposta também foi feita a um segundo elemento.

Em agosto de 2015, o arguido e El Hanafi voltaram ao CAR para visitar os dois homens que haviam recusado a proposta em fevereiro, e outras duas pessoas, uma prima e um irmão de El Hanafi, que o arguido convidou a deslocar-se a Aveiro. Durante essa visita, Abdesselam Tazi e El Hanafi “procuraram convencê-lo” a sair da Europa e a viajar para outro destino “consentâneo com os valores do Islão fundamentalista e da causa ‘jihadista'”. A acusação descreve que o homem “apercebeu-se que o seu irmão se encontrava num processo de radicalização”, sublinhando que o jovem recusou a proposta de “integrar as fileiras do exército ‘foreign fighters’ para combater pela organização terrorista Estado Islâmico, em território sírio, a troco de um vencimento mensal de 1.800 dólares” norte-americanos.

Além de recrutar jovens marroquinos para aderirem ao DAESH, atividade exercida muitas vezes junto do CAR, Abdesselam Tazi também desenvolvia atividades de apoio e de financiamento à causa ‘jihadista’, como pagar viagens e adquirir bens e serviços para os jovens recrutados. “Para o efeito, o arguido recorreu à implementação de esquemas de fraude, burla e falsificação de documentos, nomeadamente documentos de identidade falsos e utilização abusiva de cartões de crédito, como forma de financiar as despesas realizadas com o recrutamento, viagens e equipamento dos jovens que ia radicalizando e convencendo a aderir ao DAESH”, sustenta o MP.