Uma enorme fenda apareceu recentemente no Quénia. Há quem defenda que surgiu devido às fortes chuvas de março quem diga que se deve à atividade sísmica. Continua a crescer e já destruiu terrenos agrícolas e estradas por vários quilómetros entre Nairobi e Narok. Algumas famílias chegaram mesmo a ser evacuadas. Este súbito fenómeno trouxe à tona a discussão entre geólogos sobre a possível divisão do continente africano em duas massas de terra dentro de 50 milhões de anos.

A fenda atravessa a cidade  de Narok e estende-se até Nairobi — uma região que se situa no Vale do Rift da África Oriental (um complexo de falhas tectónicas criado com a separação das placas tectónicas africana e arábica há 35 milhões de anos). Ou seja, esta fissura apareceu precisamente na fronteira entre as placas tectónicas.

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O Vale do Rift estende-se por mais de três mil quilómetros, dividindo a placa africana em duas partes desiguais: a placa somali e a placa núbia, como escreve o site The Conversation. Os geólogos explicam que se a divisão chegar mesmo a acontecer, a maior parte da África fica na placa núbia, enquanto a Somália e partes do Quénia, Etiópia e Tanzânia passarão a formar um novo continente na placa somali, tal como se pode observar na figura abaixo.

https://twitter.com/Nel_kimz/status/975961532092870656?ref_src=twsrc%5Etfw&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.cnn.com%2F2018%2F04%2F05%2Fafrica%2Fcrack-africa-rift-valley-continent-splitting-two%2Findex.html

A investigadora Lucia Perez Diaz, da Universidade de Londres, explica ao Quartz que apesar de a fenda não se ver na totalidade, isso não significa que o continente africano não se esteja a dividir a uma velocidade impressionante: “Os eventos dramáticos, como falhas repentinas que dividem autoestradas ou grandes terramotos, podem causar uma sensação de urgência, mas, na maioria das vezes, a divisão de África acontece sem que ninguém perceba“.

A verdade é que a Terra está repleta de placas tectónicas que não são estáticas: movem-se a diferentes velocidades e em direções distintas e são elas que provocam a maioria dos terramotos e erupções vulcânicas. Os investigadores estimam que a placa somali se esteja a afastar da placa africana a tal ritmo que, daqui a dezenas de milhões de anos, o continente deve “partir-se” em dois.

Já não é a primeira vez que que se abrem fendas em solo africano: já aconteceu no triângulo de Afar, que atravessa a Etiópia, Eritreia e Djibuti. O processo de divisão foi o mesmo que levou à separação da África e América do Sul há cerca de 138 milhões de anos, como explica a investigadora.