Após dois dias de negociações, o ex-presidente brasileiro Lula da Silva entregou-se finalmente às autoridades, mas não sem antes viver um dia de tensão e impasse no sindicato dos metalúrgicos, onde tem passado os últimos dias.
O dia começou com uma missa em homenagem à sua mulher, que morreu em 2017 e que faria anos este sábado, e terminou com a entrega à polícia — que só resultou à segunda tentativa. Lula da Silva está agora a caminho de Curitiba, onde ficará preso. Recorde os principais momentos do dia em que Lula se entregou, momento a momento (na hora de Lisboa).
https://observador.pt/2018/04/07/lula-devera-entregar-se-depois-de-missa-em-homenagem-a-mulher/
13h30: Negociações de última hora atrasam missa em homenagem a mulher de Lula da Silva
A ordem de prisão para Lula da Silva foi dada na quinta-feira, mas os representantes do ex-presidente brasileiro conseguiram negociar um adiamento da entrega às autoridades até este sábado, para permitir que Lula participasse numa missa em homenagem a Marisa Letícia, mulher de Lula que morreu em 2017 e que faria anos este sábado.
A celebração, a ter lugar na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde Lula passou os últimos dias, estava marcada para as 13h30, hora de Lisboa, com a polícia a ter já um jato pronto, à espera para o levar a Curitiba, onde está a cela que o aguarda. Contudo, negociações de última hora para acertar os termos da entrega levaram a que a cerimónia atrasasse quase hora e meia.
14h50: Começa a missa, com Lula da Silva e Dilma Rousseff ao lado do padre
O sacerdote que presidiu à missa em homenagem à falecida mulher de Lula da Silva começou a celebração rodeado por Lula e Dilma Rousseff. “Queremos saudar o nosso querido irmão Lula e a nossa presidente Dilma”, começou por dizer. A celebração começou com a leitura de um texto do frade dominicano Frei Betto sobre Marisa Letícia, traçando o seu percurso de vida.
Sucederam-se discursos de homenagem. “Hoje não se trata de uma celebração política ou partidária, mas sim uma celebração pela paz”, disse um dos oradores. “O amor fraterno vencerá o ódio”, rematou. Mas o centro da cerimónia ainda estava para chegar: o discurso de Lula da Silva, onde além de recordar a mulher, o ex-presidente deveria dar a sua versão dos factos, antes de finalmente se entregar à polícia.
15h00: Último habeas corpus negado
Foi durante a celebração que veio uma notícia de última hora, que fez a multidão irromper em gritos. O pedido de habeas corpus que a defesa de Lula da Silva tinha entregado no Supremo Tribunal Federal tinha sido rejeitado pelo juiz Edson Fachin. A decisão era final: Lula tinha mesmo de ser preso. A multidão, ao receber a notícia, irrompeu em gritos de “Lula livre!”
15h20: “O Presidente Lula é um homem de fé”, diz Dilma Rousseff
O primeiro grande discurso da celebração coube à antiga presidente brasileira Dilma Rousseff. “O Presidente Lula é um homem de fé”, começou por dizer Dilma, explicando que o ex-presidente sempre se inspirou na ação de S. Francisco de Assis. “Nós somos da paz. Não somos nem da injustiça nem da violência”, rematou, antes de começar a ler a oração do mesmo santo.
16h00: “O meu coração baterá pelo coração de vocês e são milhões de corações”
“Muita calma para ouvir o maior Presidente do nosso país.” Foi assim que Lula da Silva foi anunciado, antes de pegar no microfone e, com voz rouca, começar a discursar durante cerca de uma hora. Começou pela sua história de vida: “Sonhei que era possível um metalúrgico sem diploma de Universidade cuidar mais da Educação do que os diplomados”, afirmou, para sublinhar a importância das suas origens humildes.
Lula dedicou, depois, grande parte do seu discurso a defender que é inocente. “Não lhes perdoo por terem passado para a sociedade a ideia de que eu era um ladrão”, disse, antes de garantir que as suas ideias perdurarão, mesmo que seja preso. “Tem milhões de Lulas nesse país. Não adianta tentar acabar com as minhas ideias, elas já estão a pairar no ar e não há como prendê-las”, disse o ex-presidente. “O meu coração baterá pelo coração de vocês e são milhões de corações.”
O ex-presidente brasileiro atacou também a comunicação social brasileira, sublinhando que quanto mais o atacam, mais cresce a sua relação com os brasileiros. “O sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Eu fico imaginando o tesão da Veja, da Globo. Eles vão ter orgasmos múltiplos”, atirou, despedindo-se da multidão afirmando: “Esse pescoço não vai baixar”. Depois, foi carregado em ombros pela multidão de apoiantes, que o levou assim de volta e o edifício do sindicato.
17h00: A longa negociação no sindicato
Depois da celebração, Lula da Silva passou longas horas nas instalações do sindicato dos metalúgicos, enquanto elementos da sua equipa de defesa negociavam os termos da sua entrega às autoridades. À porta do sindicato, uma multidão garantia que não o deixaria entregar-se. Apoiantes do ex-presidente brasileiro multiplicavam-se também pelo aeroporto de São Paulo e pelo aeroporto de Curitiba, para poderem acenar a Lula uma última vez antes da prisão.
21h00: Primeira tentativa de se entregar falha
Finalmente, às 21h (hora de Lisboa), Lula da Silva entrega-se à polícia. Entra num carro descaracterizado da Polícia Federal para sair do edifício, mas a multidão impede a viatura de avançar, obrigando o carro a recuar. Lula regressa ao interior do sindicato, sem estar ainda formalmente sob a custódia das autoridades.
A multidão chegou até a partir o portão da garagem do sindicato dos metalúrgicos e cercou as duas saídas do edifício, para impedir a entrega de Lula. Junto ao portão, os manifestantes a favor de Lula da Silva gritavam “cercar, cercar, e não deixar prender”, de acordo com uma repórter do El País Brasil presente no local.
22h20: Última negociação para adiar a entrega de Lula da Silva
Os momentos que se seguiram à primeira tentativa de se entregar foram de tensão. Alguns dirigentes políticos subiram a um carro de som improvisado à porta do sindicato para apelar à calma e para dizer que a polícia de choque estava a ponderar intervir, caso os manifestantes ali permanecessem. Soube-se também que os advogados de Lula da Silva estavam a levar a cabo uma última negociação para tentar adiar o momento da entrega às autoridades, devido às dificuldades em sair do edifício do sindicato.
22h50: Finalmente, Lula sai a pé do sindicato e entrega-se
Já eram quase onze da noite em Lisboa quando Lula da Silva decidiu finalmente sair do edifício do sindicato, pelo seu próprio pé, para entrar num dos vários carros da Polícia Federal que aguardavam em frente às instalações. Foi só ali que ficou formalmente sob custódia das autoridades federais. A multidão ainda tentou novamente impedir os carros de avançar, mas sem sucesso: os veículos dirigiram-se a toda a velocidade para o aeroporto, escoltados por várias motas da polícia.
2h00: A chegada à prisão em Curitiba
Já passava das duas da manhã, hora portuguesa, quando o avião da Polícia Federal que transportava Lula da Silva aterrou em Curitiba. Daí, o ex-presidente brasileiro foi transportado de helicóptero para a sede da Polícia Federal em Curitiva, onde fica agora preso. Lula entrou diretamente para o edifício policial, mas a chegada do antigo governante ficou marcada por confrontos entre a polícia e os seus apoiantes, que resultaram em nove feridos.