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Quem manda na EDP. Estados estrangeiros controlam 40% do capital

Este artigo tem mais de 5 anos

EDP volta ao centro dos apetites de grupos internacionais. Mas eventuais ofertas têm de convencer investidores de longo prazo. 40% do capital está nas mãos de empresas de estados estrangeiros.

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José Goulao/LUSA

José Goulao/LUSA

Primeiro foi a espanhola Gas Natural, depois o gigante francês Engie, e agora os chineses que já estão no capital da maior empresa portuguesa. Polémicas à parte em Portugal, a EDP parece continuar a despertar o apetite das grandes empresas europeias. Um balanço que tem resistido a mexidas regulatórias e políticas, consistência na estratégia e nos lucros e entrega de dividendos a acionistas. São fatores de atração num mercado europeu que espera mais consolidação, depois do acordo para troca de ativos entre os dois gigantes alemães, a RWE e a E.ON.

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Mas não só. A EDP é também um dos grupos europeus com maior força nas energias renováveis. Tem uma dimensão média (no contexto europeu) e uma estrutura acionista diversa, e livre da presença do Estado português, aspetos que a tornam mais acessível a uma oferta externa. Pelo menos em tese. Só que do outro lado de uma potencial oferta de compra está um perfil de investidores que não se rege apenas pelas regras do mercado ou pelos ganhos de curto prazo. A começar pelo maior acionista.

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A China Three Gorges tem menos de 30% do capital e está livre para vender a sua participação desde o final de 2016 quando foram admitidas à negociação mais de 568 milhões de ações da EDP. No entanto, a a oferta que fez em 2011 para assegurar a vitória no concurso de privatização da EDP foi muito mais do que uma grande aquisição. Foi o primeiro êxito da aposta estratégica do Estado chinês num setor fundamental da economia europeia, que tem vindo a ser consolidada a vários níveis.

Para além do reforço de investimento feito diretamente na EDP — de 21,3% para 23,27% — , a China Three Gorges tem também adquirido, em troca de financiamento à empresa portuguesa, participações minoritárias, mas relevantes em várias empresas da EDP Renováveis, incluindo uma boa parte dos ativos da EDP Renováveis em Portugal. É por isso um ator incontornável para qualquer apetite externo pela EDP ou pelos seus negócios na área das renováveis.

E a China Three Gorges não é o único acionista estatal no capital da EDP que saiu da esfera do Estado português em 2012, por imposição da troika, para ficar no universo de outros investidores públicos.

Atualmente, cinco empresas detidas por Estados estrangeiros controlam quase 40% (39,65%) do capital da EDP, de acordo com as participações qualificadas divulgadas no site da elétrica. Segundo a informação da empresa para o final de 2017, apenas 11% do capital se encontra em mãos nacionais, com os investidores particulares a deterem 8% da elétrica. Apesar da limitada presença portuguesa no capital, a gestão da EDP, tal como os principais quadros, mantém-se incontestavelmente portuguesa, como aliás o demonstrou a última eleição da administração. Mas na hora de decidir vender ou ficar, a palavra passa para os acionistas.

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A China é de longe o maior investidor, controla 28,25% do capital através de duas empresas estatais, a China Three Gorges e a CNIC Corporation. Mas há mais Estados representados no capital da EDP através de empresas públicas com participações que são consideradas estratégicas e de longo prazo para os seus detentores. A maioria destas empresas opera em países produtores de petróleo e gás natural.

Os investimentos da China, Argélia, Noruega, Qatar e Abu Dhabi na elétrica estavam valorizados a preços desta segunda-feira — dia em que as ações dispararam 3,76% à boleia dos recentes rumores de consolidação — em 4,6 mil milhões de euros. A grande fatia, de 3,3 mil milhões de euros, pertence à China. Estas participações de outros países vão render só este ano em dividendos cerca de 276 milhões de euros brutos.

A participação do Abu Dhabi no capital da EDP iniciou-se em 2008 através da IPIC (International Petroleum Investments Company). Atualmente, a posição de 4% é detida pela Mubadala, principal empresa de investimento do Abu Dhabi, que está presente em vários setores, desde tecnologia, às minas, passando pelas energias renováveis, utilities (serviços essenciais) e serviços financeiros.

Ao lado do Abu Dhabi, mas fora dos Emirados Árabes Unidos, está o Qatar, estado rico em petróleo e gás natural. O Qatar Investment Authority detém 2,27% da EDP.

Uma das parcerias mais antigas da EDP é a Sonatrach, empresa estatal que explora o gás argelino e que é fornecedora de longa data a Portugal. A Sonatrach tem 2,38% da empresa portuguesa.

Tradicional investidor da bolsa portuguesa, o Norges Bank, o banco central norueguês que gere as reservas e o fundo de pensões do país, controla atualmente 2,7% da EDP.

Outros acionistas de referência são o grupo de investimentos americano Capital Group, com 12% e o BlackRock, fundo com sede em Nova Iorque. A sociedade Oppidum Capital do empresário espanhol Fernando Masaveu tem 7,19%. O investimento daquela que é considerada uma das grandes fortunas das Astúrias é uma herança da grande aquisição que a EDP fez em Espanha com a compra da Hidrocantábrico, elétrica asturiana. Este negócio foi concretizado com a aliança da Cajastur (atual Liberbank) onde a família Masaveu é acionista.

No capital da EDP, resiste apenas um dos acionistas portugueses de referência, o fundo de pensões do BCP, ainda que o banco já não seja controlado por capital português há muito. A entrada na elétrica aconteceu ainda no tempo de Jardim Gonçalves quando o BCP fez no final do século passado uma aliança estratégica com a EDP para as telecomunicações e que passou pelo lançamento da ONI. O fundo de pensões do BCP ainda tem 2,44% da EDP que, por seu turno, também se mantém acionista de referência do banco, com pouco mais de 2%.

Pelo caminho ficaram outros investidores portugueses, forçados a vender com a crise, como o Grupo José de Mello, e o Banco Espírito Santo.

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