Está desvendado o mistério sobre o “governo-sombra” de Rui Rio, que Rui Rio não gosta de chamar de “governo-sombra” por não corresponder ao seu ideal de orgânica de Governo — se não fosse sombra.

Trata-se de 32 nomes, entre 16 coordenadores e 16 porta-vozes, sendo que a média de idades dos coordenadores, mais “experientes”, ronda os 60 anos, e a média de idades dos porta-vozes, mais “jovens e dinâmicos”, ronda os 45, segundo anunciou o próprio Rui Rio numa conferência de imprensa na sede nacional do PSD, em Lisboa. “A ideia é equilibrar a experiência, saber e ponderação, com a vontade e dinâmica de quem é mais jovem”, disse o líder do PSD.

Com oito nomes independentes, sem filiação partidária, Rio fala de “renovação”, mas admite que não foi “fácil” encontrar os nomes certos, dispostos e disponíveis, a assumir funções nos lugares certos. “Hoje em dia não é fácil conjugar estes fatores todos: não é fácil quando queremos arranjar 32 nomes que queremos distribuir geograficamente, que conciliem saber e juventude, e ainda que estejam disponíveis a dar a cara pela vida pública”.

No leque de 32 coordenadores e porta-vozes, seis são ex-ministros de governos ou de Cavaco Silva e de Durão Barroso, incluindo Ângelo Correia, Luís Filipe Pereira, Silva Peneda, Maria da Graça Carvalho e David Justino; nove são mulheres (quatro coordenadoras e cinco porta-vozes); deputados são apenas três (José Matos Correira, Cristóvão Norte e Ricardo Baptista Leite); e membros da direção de Rio são cinco, incluindo os vices Salvador Malheiro (porta-voz para o Ambiente),  Isabel Meirelles (coordenadora dos Assuntos Europeus) e, claro, David Justino que, além da presidência do organismo vai ficar encarregue da coordenação da pasta da Educação, Cultura, Juventude e Desporto.

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Também Álvaro Amaro, que faz parte do inner circle de Rio enquanto responsável pelas negociações com o Governo no dossiê da descentralização, será um dos coordenadores, neste caso para a Reforma do Estado, Autonomia e Descentralizção, e Maria da Graça Carvalho, vogal da comissão política de Rio e ex-ministra da Ciência de Durão Barroso, ficará com a coordenação do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia.

Questionado sobre se terá tempo de pôr em marcha uma estrutura deste género até às eleições legislativas de 2019, Rio admite que a taxa de sucesso não depende só de si, ou da cúpula nacional de 32 personalidades, mas depende, sobretudo, das “dinâmicas distritais” que deverão ser criadas para interagir com o organismo nacional. Algumas distritais já “estão a trabalhar” na criação dessas secções temáticas, mas Rui Rio admite que, “num tão curto espaço de tempo”, “o nível de êxito pode ficar em 40, 50 ou 60%”. 

O presidente do partido sozinho não tem tempo para isso, isto só funcionará de acordo com a dinâmica das distritais. Vamos incentivar as comissões políticas distritais a criar estes setores, mas o nível de êxito não se pode medir entre zero, que seria inadmissível, e 100%, porque isso seria impossível. Vamos ver se, neste curto espaço de tempo, ficamos em 40, 50 ou 60% de êxito”, disse, acrescentando que se correr muito bem, “os outros partidos terão de fazer igual senão ficam atrás”.

A ideia, explicou, é, não só que estes coordenadores e porta-vozes pensem as respetivas áreas temáticas, e apresentem propostas eleitorais nesse sentido, mas também que o CEN seja “desdobrado” à escala distrital — cada distrito, ou conjunto de distritos, deve ter uma equipa específica para cada área (com a obrigatoriedade de incluir pelo menos um deputado). A maior parte das secções nacionais funcionará em Lisboa, explicou Rio, mas duas terão sede em Coimbra – Reforma do Estado e Justiça -, outras duas ficarão no Porto – Infraestruturas e Solidariedade –, uma ficará sediada em Viseu – Agricultura – e uma outra em Aveiro – Ambiente, Energia e Natureza. As Finanças Públicas funcionarão de forma “mista”, tendo o coordenador, Álvaro Almeida, no Porto, e o porta-voz, Joaquim Sarmento, em Lisboa.

A primeira reunião do Conselho Estratégico Nacional vai decorrer já no próximo dia 21 de abril, em Coimbra, mas Rio admite que o CEN não funcionará, por norma, em regime de “plenário aberto”, mas sim em secções temáticas distritais e nacionais. Questionado sobre se a comunicação social se deve dirigir aos porta-vozes quando o tema estiver relacionado com a sua pasta, Rio rejeitou essa ideia — mantendo a centralização em si mesmo. Dirigem-se à dra. Florbela Guedes, que por sua vez indicará quem fala para cada tema“, brincou, referindo-se à assessora de imprensa do partido.

Os ex-ministros (três da década de 80)

Em seis ex-ministros, três são da década de 80 e inícios da década de 90: Ângelo Correia, ex-ministro da Administração Interna de 1981 a 1983, no Governo de Pinto Balsemão (que fica com a pasta da Defesa); Arlindo Cunha, ex-ministro da Agricultura de Cavaco Silva entre 1990 e 1994 (que fica com a pasta da Agricultura); e José Silva Peneda, ex-presidente do Conselho Económico e Social e ex-ministro do Emprego e da Segurança Social de Cavaco Silva (que fica com a pasta da Solidariedade e Sociedade de Bem-Estar).

Além destes três nomes, há ainda dois ex-ministros de Durão Barroso: Maria da Graça Carvalho, ex-ministra da Ciência e Ensino Superior (que fica com a pasta equivalente); Luís Filipe Pereira, ex-ministro da Saúde de Durão Barroso; e o próprio David Justino, ex-ministro da Educação de Durão Barroso e ex-consultor para os Assuntos Sociais de Cavaco Silva em Belém, que além de presidir ao organismo fica também com a coordenação da Educação. Jorge Neto, que vai ser porta-voz da Defesa, foi secretário de Estado da Defesa e Antigos Combatentes entre 2004 e 2005, no governo de Santana Lopes.

Luís Todo Bom, que será porta-voz para a Economia, Trabalho e Inovação, foi também secretário de Estado da Indústria e Energia do governo de Cavaco; e Joaquim Sarmento, que vai ser o porta-voz das Finanças Públicas foi assessor económico de Cavaco na Presidência da República, entre 2012 e 2016.

A quota dos deputados

Entre 16 coordenadores, apenas um é deputado: José Matos Correia, que fica com a coordenação da Segurança Interna e Proteção Civil. Nos porta-vozes há outros dois deputados: Ricardo Baptista Leite, que será porta-voz para a área da Saúde, e Cristóvão Norte, deputado eleito por Faro, que será o porta-voz para os Assuntos do Mar.

Segundo Rio, haverá ainda um espécie de quota para os deputados nas secções temáticas distritais: cada secção distrital formará uma “equipa pequena onde obrigatoriamente estará um deputado”. Ficam de foram desta obrigatoriedade as áreas onde já há representação de deputados ao nível nacional.

Além destes, também os deputados António Leitão Amaro e Bruno Coimbra vão ter lugares de destaque, enquanto “adjuntos” de David Justino na coordenação nacional do organismo.

Os (mais) amigos de Rio

Rio puxou para o Conselho Estratégico Nacional alguns vices e membros da sua comissão política nacional. É o caso dos vices Salvador Malheiro e Isabel Meirelles (além de David Justino), e dos vogais da comissão política: Maria da Graça Carvalho, Álvaro Amaro e Cláudia André (porta-voz na Educação).

Além destes, Rio chamou para o organismo nacional alguns nomes particularmente chegados a si: é o caso de Vladimiro Feliz, que será porta-voz para as Infraestruturas e Coesão do Território, e que tem ligações à câmara do Porto (foi Administrador da Fundação Porto Social, Presidente do Conselho de Administração da Associação Porto Digital, Presidente da Direção da Associação de Turismo do Porto, Presidente do Conselho de Administração da Porto Lazer EM); e de António Tavares, atual provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que será o porta-voz da pasta da Solidariedade.

Também Álvaro Almeida, que foi candidato do PSD à câmara do Porto nas últimas eleições e se tornou militante do partido no início do ano pela mão de Rio, será o coordenador da área das Finanças Públicas.

Os independentes (e os que ainda não foram contactados)

Independentes, isto é, sem filiação partidária, há oito, segundo contabilização feita pela assessoria de Rui Rio. São eles: Diana Soller, colonista de assuntos internacionais no Observador, José Manuel Moura, Rui Vinhas da Silva, Joaquim Sarmento, Licínio Lopes Martins, Mónica Quintela, Regina Salvador e Ana Isabel Miranda.

De acordo com Rui Rio, haverá ainda uma comissão consultiva que funcionará em articulação com as comissões permanentes sectoriais, e que será composta por “personalidades independentes de reconhecido mérito”, mas esses convites ainda não foram feitos. “As pessoas da comissão consultiva ainda não estão convidadas, temos uma lista para contactar mas ainda não está ninguém contactado”, disse Rio aos jornalistas.

Eis os nomes na íntegra, com uma nota biográfica para cada um disponibilizada no site do PSD:

Assuntos Europeus

Coordenador: Isabel Meirelles

Porta-voz: Mara Ribeiro Duarte

Relações Externas

Coordenador: Tiago Moreira de Sá

Porta-voz: Diana Soller

Finanças Públicas

Coordenador: Álvaro Almeida

Porta-voz: Joaquim Sarmento

Reforma do Estado, Autonomias e Descentralização

Coordenador: Álvaro Amaro

Porta-voz: João Paulo Barbosa de Melo

Defesa Nacional

Coordenador: Ângelo Correia

Porta-voz: Jorge Neto

Justiça, Cidadania e Igualdade

Coordenador: Licínio Lopes Martins

Porta-voz: Mónica Quintela

Segurança Interna e Proteção Civil

Coordenador: José Matos Correia

Porta-voz: José Manuel Moura

Agricultura, Alimentação e Florestas

Coordenador: Arlindo Cunha

Porta-voz: João Paulo Gouveia

Infraestruturas e Coesão do Território

Coordenador: Falcão e Cunha

Porta-voz: Vladimiro Feliz

Ambiente, Energia e Natureza

Coordenador: Ana Isabel Miranda

Porta-voz: Salvador Malheiro

Economia, Trabalho e Inovação

Coordenador: Rui Vinhas da Silva

Porta-voz: Luís Todo Bom

Saúde

Coordenador: Luís Filipe Pereira

Porta-voz: Ricardo Baptista Leite

Solidariedade e Sociedade de Bem-Estar

Coordenador: Silva Peneda

Porta-voz: António Tavares

Educação, Cultura, Juventude e Desporto

Coordenador: David Justino

Porta-voz: Cláudia André

Ensino Superior, Ciência e Tecnologia

Coordenador: Maria da Graça Carvalho

Porta-voz: Filipa Roseta

Assuntos do Mar

Coordenador: Regina Salvador

Porta-voz: Cristóvão Norte