Há ratos e buracos na Escola Secundário do Restelo. No Liceu Camões, em Lisboa, os alunos têm de levar mantas para a sala de aula. Em Coimbra, na José Falcão, há pedaços de tecto a cair e os professores trazem aquecedores portáteis para a escola. Em Évora, professores e funcionários fecharam uma escola secundária por considerarem que não havia condições para trabalhar. Ao lado, em Beja, os alunos seguiram-lhes o exemplo e fizeram um abaixo-assinado — estavam cansados de assistir às aulas no chão, por falta de mesas e cadeiras. Em Amarante, distrito do Porto, ainda se espera pela conclusão das obras iniciadas há sete anos e entretanto interrompidas há mais de dois — o chão é de terra batida, há pedras e pedaços de madeira por todo o lado e as aulas funcionam em contentores improvisados.
Relatos como estes chegam de escolas de todos os pontos do país. Na Saúde, o panorama não é mais animador. No Hospital São José, em Lisboa, fala-se em “rutura” provocada pela falta de profissionais. No Santa Maria e no Pulido Valente, há internos a fazerem urgências sozinhos. O Centro Hospitalar de Gaia/Espinho foi obrigado a adiar cirurgias, incluindo oncológicas, por falta de macas. Em Évora, os médicos vieram denunciar a rutura iminente da unidade de pediatria. Em Beja, denuncia-se o risco de colapso nas urgências de Pediatria e Obstetrícia. Em Faro, Leiria e Guimarães, os hospitais mergulharam no caos em pleno surto de gripe.
Os problemas não se resumem apenas à Educação e à Saúde. De uma forma ou de outra, o Estado também tem falhado na missão de garantir a proteção e segurança de pessoas e bens. Em alguns casos, já houve consequências reais; noutros adivinham-se. Nos incêndios de junho e outubro de 2017, morreram 115 pessoas e é hoje um dado adquirido que os organismos públicos que deviam ter protegido aquelas famílias falharam em toda a linha. Em Tancos, desapareceram armas e munições que seriam depois devolvidas sem que se descobrissem os responsáveis pelo assalto. Em menos de três meses, houve já seis descarrilamentos de comboios. Foi preciso uma investigação jornalística para que, apressadamente, se desbloqueassem 3 milhões de euros para corrigir fissuras graves na Ponte 25 de Abril. Por todo o país, chegam denúncias sobre a falta de meios na GNR e PSP. Há problemas de segurança e de sobrelotação nas prisões portuguesas. E os quatro ramos das Forças Armadas, numa inédita decisão conjunta, exigiram que fosse dada uma resposta urgente à crescente falta de efetivos.
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Os problemas acima relatados foram já documentados. Muitos — senão a maioria — resultam de uma prolongada falta de investimento nos serviços públicos, transversal a vários governos, com diferentes orientações políticas. Mas, num momento em que à esquerda e à direita se discute o peso do investimento público (ou falta dele) e das cativações orçamentais na preservação de infraestruturas e no funcionamento de escolas e hospitais, a discussão política ganha agora mais força.
Nas próximas semanas e meses, o Observador vai conduzir uma investigação jornalística para perceber onde o Estado falha e porquê. Uma parte fundamental deste trabalho resulta da colaboração dos nossos leitores, a quem será dada oportunidade de enviar denúncias sobre os problemas que comprometem a sua segurança, saúde e ou educação.
Para o efeito, será criado um formulário, disponível de forma permanente no site do Observador, que os leitores poderão preencher com informações e denúncias, que serão depois selecionadas e investigadas pelos nossos jornalistas. O anonimato será preservado sempre que o leitor assim o peça, mas é importante que todos os contactos sejam facultados para que os jornalistas possam esclarecer dúvidas e perceber todos os detalhes — contactos que só serão usados para esse efeito. Pode preencher esse formulário aqui.
O primeiro artigo desta nova rubrica (chamada “Onde o Estado falha”) já foi publicado e investiga os problemas na unidade de pediatria do São João, que funciona em contentores há sete anos: “Porque é que o Estado está a falhar na ala pediátrica do Hospital de São João?”.
Porque é que o Estado está a falhar na ala pediátrica do Hospital de São João?