Na hora de encontrar inspiração para a sua primeira coleção de sapatos, Catarina Pedroso só precisou de recordar a infância passada na herdade da família, em pleno Ribatejo. Lembranças agridoces (mais doces do que outra coisa) que a fizeram, mais tarde, questionar a legitimidade do ser humano para usar os animais para proveito próprio. Depois da adolescência tornou-se vegetariana, altura em que concluiu o curso em Belas-Artes, e à medida que os anos foram passando, foi-se tornando cada vez mais cuidadosa na escolha da comida, mas também da roupa e dos acessórios de moda. O desafio para criar a sua própria marca de sapatos surgiu de onde menos esperava. “O meu marido perguntou-me: ‘Porque é que não fazemos uma marca de sapatos?’. Eu não queria nada, ele é que estava sempre a sonhar. Mas a ideia começou a fazer sentido e então, pela calada, fui pensando muito naquilo”, conta Catarina.

Aos 38 anos e depois de ter trabalhado como maquilhadora profissional e de ter tirado um segundo curso na Lisbon School of Design, Catarina tornou-se também empresária. Chegar ao nome Ballūta, bolota em português arcaico, foi quase tão difícil como conseguir produzir calçado vegano em Portugal. “Ligávamos para fábricas e perguntávamos se produziam — ‘Calçado quê, menina?’”, conta. Depois de bater a umas quantas portas, começou finalmente a produzir a primeira coleção em São João da Madeira. “Apenas 1% do calçado produzido em Portugal é vegano. Mesmo assim, grande parte do produto que chega ao resto da Europa é feito em Portugal, em Espanha também, mas sobretudo em Portugal”, conclui.

A primeira campanha da Ballūta foi fotografada o Pavilhão Branco, no Museu de Lisboa © Mafalda Silva

A dificuldade na hora de ir às compras também pesou na decisão. Das duas uma: ou encontrava sapatos muito fracos do ponto de vista do design — demasiado freaks, se preferir — ou estava limitada a modelos extremamente clássicos, sem rasto de tendências. Em lojas como a Zara, encontrava alguns bons compromissos, mas aí as dúvidas eram outras. “A pele até pode ser sintética, mas são feitos na China, os materiais não são sustentáveis e a produção pode ser feita de uma forma injusta, do ponto de vista social”, questiona. Sim, o que determina que um par de sapatos é, de facto, vegano, vai muito além da pele de que é feito. “Além da pele e do pelo, há ainda a cera de abelha usada para coser a gáspea e as colas, que se não tiverem origem animal também podem ser testadas em animais”, explica Catarina.

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Ao mesmo tempo que remete para o universo rural (a primeira coleção chama-se “l-a-n-d” e cada um dos sete modelos tem o nome de uma espécie botânica encontrada na quinta da família), a Ballūta quis dar opções, algures a meio caminho entre uma Zara e uma Stella McCartney. Com preços entre os 290 e os 390 euros, numa pequena coleção, Catarina conseguiu ir das sandálias de plataforma aos botins de salto alto. “Quis criar uma marca que oferecesse propostas para vários momentos da vida de uma mulher contemporânea e urbana: ténis, saltos altos, sandálias”, afirma. É no processo de pesquisa e de recolha de informação que a designer passa mais tempo. Depois disso, é uma ou duas semanas de clausura para pôr tudo no papel.

Catarina Pedroso e o marido, Ricardo Duarte, são os sócios fundadores da Ballūta © Divulgação

Catarina prepara já a segunda coleção, para o outono de 2018, e revela que vai ter mais cor. A marca manifesto não fica pela proveniência dos materiais que compõem os sapatos. Há um lado de Catarina que quer também promover o “women empowerment“. Além de tudo ter sido criado e desenhado por uma mulher, a empresária tenciona desenvolver pequenas edições limitadas em colaboração com algumas artistas nacionais. Quanto ao mercado português, parece que o poder de compra ainda é um entrave. Numa primeira fase, a marca aponta a mira ao norte da Europa, onde a procura por este tipo de produto tem crescido a olhos vistos. Para já, as vendas vão centrar-se na loja online, mas em breve os sapatos da Ballūta vão estar também na Nude Fashion Store das Amoreiras, em Lisboa. Parece que o selo da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) também está para breve, a relembrar que tudo começou por ser um alerta para a crueldade animal. Para Catarina, esta marca é também uma forma de “redimir as memórias menos boas” que lhe preencheram a infância, mas também de homenagear o campo e tudo o que ele traz de bom.

Nome: Ballūta
Data: 2018
Pontos de venda: loja online
Preços: 290€ a 390€

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