João Cravinho volta a assumir críticas aos comportamentos de José Sócrates e recorda que o antigo primeiro-ministro sempre foi uma força de bloqueio a medidas de combate de corrupção. Em entrevista à TSF, o histórico do Partido Socialista (PS) recorda mesmo o momento em que, enquanto deputado, apresentou um pacote legislativo que não contou com o apoio de Sócrates, “porque era ele que dava orientações à direção da bancada parlamentar do PS”. Um exemplo, diz, que o levam a concluir que “Sócrates, como primeiro-ministro, não se interessou pelo combate à corrupção”. Mais: “Ele não quis que se aperfeiçoasse o sistema e por isso, ainda hoje o sistema de combate à corrupção anda sem rei nem roque”.
A menos de duas semanas do Congresso do PS, João Cravinho fala do embaraço causado pelas mais recentes investigações e notícias que envolvem José Sócrates. E, apesar do incómodo que acredita ter sido sentido por antigos membros do seu governo, lamenta que não tenham daí sido retiradas consequências políticas.
Quem esteve no governo Sócrates sentiu-se incomodado mas não tirou consequências”, acusa João Cravinho.
Uma atitude que João Cravinho faz questão de distinguir da decisão que ele próprio tomou quando o antigo secretário-geral do PS o convidou para “fazer parte da lista da Comissão Nacional no último Congresso dele como Secretário-geral”: recusou. “Não estava de acordo de maneira nenhuma, achei que não devia estar nos órgãos do partido, sentia-me desconfortável com aquilo que eu já sabia do caso” — isto apesar de reconhecer que nunca houve qualquer reação hostil de Sócrates face a essa posição de Cravinho.
João Cravinho, que foi ministro, considera que existe no país “uma grande baralhada sobre a presunção de inocência”. E lembra que, “se subordinarmos a apreciação ética à apreciação judicial acabamos por judicializar a ética e a moral”. Nesse sentido, considera que, com a informação que o país tem, é possível fazer-se uma avaliação política, ética e moral do comportamento de José Sócrates enquanto primeiro-ministro e líder socialista. A sua avaliação também já está feita: não tem “dúvidas nenhumas que os comportamentos de Sócrates como pessoa não são adequados, não são admissíveis“.
Ainda sobre quanto ao tema da corrupção, Cravinho defende que não deve ser discutido durante o congresso do partido, agendado para os dias 25, 26 e 27 de maio, na Batalha, porque “os congressos não são os espaços adequados”. Mais importante do que isso, assume, é dizer qualquer coisa ao país “sobre as políticas futuras”. O ex-ministro do Governo de António Guterres avisa que é preciso que o PS explique que “em matéria de políticas futuras não deixará de fazer um juízo político, moral e ético”.