Não foi apenas um aviso ou uma forma de pressão. O grupo de adeptos do Sporting que, no final da tarde de terça-feira, invadiu a academia de Alcochete de caras cobertas, tochas e cintos nas mãos tinha um plano “previamente gizado e acordado entre todos” que passava por “molestar fisicamente os ofendidos e causar-lhes os ferimentos verificados e dores”, diz o Ministério Público. Na concretização desse plano, entre os estragos provocados, deixaram destruído o Porsche do treinador de guarda-redes, Nélson Pereira, e entre os ferimentos causados provocaram queimaduras no preparador físico Mário Monteiro.

O cenário de violência é descrito pela procuradora adjunta, Olga Melo Duarte, no despacho entregue ao juiz de instrução para aplicar as medidas de coação aos 23 detidos pela GNR. Segundo a magistrada, eram cerca de 17h00 quando o grupo forçou a entrada da academia e encetou uma série de atos que acabariam por deixar as vítimas atemorizadas, nas suas palavras, “com bastante medo e inquietação”, encontrando-se agora “afetados psicologicamente”.

Quando ali chegaram, estavam cerca de 20 pessoas na academia, entre jogadores da equipa principal e pessoal técnico. As primeiras vítimas das tochas dos agressores foram João Pedro Rolin Duarte e Paulo Cintrão, bem como o treinador Jorge Jesus que iam começar os treinos. Depois, os agressores arremessaram tochas em direção aos carros que ali se encontravam parqueados,  e provocaram estragos nos mesmos. O Porsche preto, modelo Panamera, de Nélson Pereira, era um deles. A vítima — que já foi guarda redes do Sporting — diz que os danos rondam os 3 mil euros.

“As tochas provocaram a deflagração de um foco de incêndio num jardim relvado e numa zona de pasto com ervas secas, assim as inutilizando”, descreve o despacho que indicia os arguidos por nove tipos crimes: terrorismo, agressão, sequestro, dano com violência, detenção de arma proibida, incêndio florestal, ameaça agravada, resistência e coação sobre funcionário e introdução em lugar vedado ao público.

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O grupo forçou a entrada da parte profissional da academia e a portas do balneário onde surpreendeu os jogadores. Aqui lançaram quatro tochas e uma delas atingiu o preparador físico Mário Monteiro, que sofreu queimaduras na mão esquerda e na barriga.

“Voces são uns filhos da puta, cabrões. Vocês são um monte de merda. Vamos-vos matar! Vocês estão fodidos. Vamos-vos arrebentar a boca toda! Não ganhem n domingo que vocês vão ver”, diziam os agressores enquanto atacavam o pessoal da academia.

O Ministério Público refere, além destas vítimas, que os agressores atingiram o jogador Das Bost com um cinto na cabeça e com pontapés no corpo, molestaram o treinador Jorge jesus com um cinto verde na face e com pontapés no corpo e ainda sete outros jogadores, entre eles Rui Patrício. Houve ainda três outras vítimas socadas, entre elas um enfermeiro e um fisioterapeuta.

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A procuradora diz que todos agiram por “motivo fútil” que causou “alarme social”. E vai mais longe: estes suspeitos não devem ficar em liberdade porque podem continuar a atividade criminosa e “perturbar a ordem pública”. Considera por isso que devem aguardar o julgamento em prisão preventiva.

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Quando a GNR chegou à academia, as agressões já tinham ocorrido e os suspeitos estavam a fugir em carros próprios. As autoridades conseguiram interceptar 23 suspeitos, oito deles num carro BMW que quase abalroou a barreira policial, mas que travou mesmo a tempo. Do total de arguidos, só nove se dispuseram a prestar declarações ao juiz de instrução criminal esta quinta-feira no Tribunal do Barreiro. Os restantes preferiram remeter-se ao silêncio. As medidas de coação só deverão ser conhecidas esta sexta-feira.

https://observador.pt/2018/05/17/mais-um-dia-de-crise-no-sporting/