Foi o segundo dia em tribunal para os 23 adeptos do Sporting, que na terça-feira invadiram o campo de treinos de Alcochete, lançando tochas e agredindo técnicos e jogadores com cintos e bastões. Mas, só quatro deles prestaram depoimento ao juiz de instrução do Barreiro. Todos estão indiciados de nove crimes: terrorismo, incêndio, introdução de lugar vedado ao público, ameaça agravada, ofensa à integridade física, sequestro, dano com violência, detenção de arma proibida agravada e resistência e coação sobre funcionário, só que nenhum deles assumiu que foi para isto que se deslocou a Alcochete.
Segundo uma fonte próxima do processo, nenhum dos quatro suspeitos apontou o dedo a alguém. Mas todos avançaram que foram convocados para comparecer na academia do Sporting, na terça-feira, através de um grupo não identificado criado no Whatsapp. Garantem que a ideia era irem falar com os jogadores, para um “apertão”, diz a fonte, que entraram sem terem encontrado qualquer elemento da segurança privada na entrada principal, mas que a situação se descontrolou e acabou em agressão.
O Ministério Público, no despacho de indiciação, refere que a intervenção do grupo de adeptos no campo de treino foi um plano “previamente gizado e acordado entre todos” que passava por “molestar fisicamente os ofendidos e causar-lhes os ferimentos verificados e dores”, mas em tribunal os arguidos não estão a sustentar esta tese. E não assumem sequer as agressões — que as vítimas não conseguem associar a um agressor, porque estes tinham as caras tapadas ou pintadas.
O juiz perguntou a todos eles porque, então, agiram de caras tapadas, se a sua intenção era apenas falar com os jogadores. Os arguidos responderam que sabiam que, normalmente, havia sempre jornalistas na academia e que tinham receio e, até, vergonha de serem captados pelas televisões. Garantem não saber identificar quem agrediu, até porque havia “fumo” das tochas lançadas, que perturbava a visibilidade.
Os advogados de alguns arguidos referiram, ainda, ao juiz estranharem que as imagens do sistema de videovigilância de Alcochete tenham “saltos no tempo”. A entrada do grupo, que seria de 30 elementos, foi filmada, mas não foi a saída. E nada se vê na zona do balneário.
Só nove dos 23 arguidos quiseram prestar declarações. Os restantes foram identificados, mas preferiram gozar do seu direito ao silêncio. A sessão será retomada esta sexta-feira, pelas 09h30, para ouvir os restantes cinco arguidos. E as medidas de coação só serão conhecidas depois. O Ministério Público pede que fiquem em prisão preventiva, temendo pela continuação da atividade criminosa e pelo alarme social que o caso espoletou.
No tribunal do Barreiro foi montado um perímetro de segurança e a PSP controla todas as entradas no tribunal. Jornalistas e familiares ficam no exterior. Durante esta tarde de quinta-feira vários familiares e amigos dos arguidos pediram à polícia para lhes levarem bens de higiene pessoal. No interior do tribunal, a segurança dos arguidos está a cargo da GNR.