Um leilão de dívida portuguesa a cinco e a 10 anos saiu mais caro do que em operações anteriores, esta quarta-feira, fruto da subida das taxas de juro e no rescaldo da crise política em Itália. Ainda assim, o Tesouro português conseguiu atrair procura entre os investidores para colocar os títulos com a maturidade mais longa a uma taxa inferior a 2%.
Na emissão a 10 anos foram colocados 588 milhões de euros a uma taxa de 1,92% — que compara com os 1,67% “pagos” no último leilão com esta maturidade, no início de maio. Foram, também, colocados 412 milhões de euros na emissão a cinco anos, e também aí se registou um aumento dos juros de 0,53% para 0,75%. No total, o Estado português emitiu os mil milhões de euros que estavam previstos para esta operação.
As taxas de juro nos países do sul da Europa subiram nas últimas semanas, consequência do impasse que se viveu na política italiana e que culminou com a formação de um governo de coligação entre os dois partidos Lega e Movimento Cinco Estrelas. Os países mais endividados da UE sentiram o impacto do aumento da incerteza, a que se junta a expectativa do fim do programa de compras de dívida pelo Banco Central Europeu (BCE).
A dívida pública portuguesa, em termos brutos, voltou a superar os 250 mil milhões de euros em abril, com um aumento de 4,2 mil milhões que se explica pela emissão de nova dívida (essencialmente, obrigações do Tesouro em mercado). Não se trata de um máximo histórico — em agosto de 2017 chegou-se aos 250,3 mil milhões — mas é um dos aumentos mensais maiores de que há registo nos dados do Banco de Portugal.
A informação foi transmitida no início de junho pela instituição liderada por Carlos Costa. A dívida pública na ótica de Maastricht aumentou de 245.852 milhões em março para 250.085 milhões de euros em abril. “Para este aumento contribuiu, essencialmente, o acréscimo dos títulos de dívida, maioritariamente por via da emissão de obrigações do Tesouro”, explica o Banco de Portugal.
A flutuação nos níveis de dívida, ao longo dos vários meses do ano, é um fenómeno comum dado que os Tesouros públicos fazem emissões de nova dívida — e nos últimos meses tem havido incentivo de juros baixos para adiantar o máximo razoável de financiamento — e, enquanto não se atingem datas de vencimento de títulos antigos, esse efeito contribui para um aumento do valor total. Em termos simétricos, quando há reembolsos de grandes lotes de dívida pública, dá-se o efeito inverso.
Ainda assim, o Banco de Portugal calcula que, em termos líquidos (ou seja, descontando os recursos que o Estado tem em depósitos por já ter emitido mas ainda não ter utilizado para o défice ou para reembolsar dívida antiga), a dívida pública também aumentou — 1,8 mil milhões de euros, para 225 mil milhões.
O Estado português vai fazer reembolsos significativos de dívida antiga, nos próximos meses, um fator que contribuirá para que este indicador desça à medida que o ano avança, como é previsão do governo. Já em junho há um reembolso de quase sete mil milhões de euros em dívida de longo prazo (quase oito mil milhões se contarmos com o último juro de cupão), e até ao final do ano ainda haverá mais reembolsos em julho, setembro e novembro.
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