Os “distúrbios com videojogos” foram classificados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um problema de saúde mental na nova edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças, publicada esta segunda-feira. A condição diz respeito a uma “falta de controlo crescente” no período superior a um ano, durante o qual se dá cada vez mais importância aos videojogos e menos a outras atividades do quotidiano. O número de casos problemáticos é, contudo, uma minoria.

O padrão de comportamento passa por deixar de parte atividades diárias para dar uma crescente atenção a este tipo de atividade, com uma série de consequências negativas como é o caso do aparecimento de sintomas como irritabilidade e dificuldades em dormir. Ao jornal Público, o psicólogo Pedro Hubert, coordenador do Instituto de Apoio ao Jogador (IAJ), disse que, atualmente, 20% dos pacientes que chegam ao IAJ se queixam de problemas específicos com videojogos. “Há provas científicas de que o estímulo para jogar pode ser tão forte como a nicotina e outras drogas”, explica.

O especialista, que se foca no tratamento de dependências associadas aos jogos em Portugal, diz que “há cada vez mais pais preocupados por não saber como ajudar os filhos” que vivem cada vez mais dependentes dos videojogos e que, para além de se isolarem, começam a ter dificuldades na escola. O facto de o distúrbio ser reconhecido pela organização como um problema de saúde mental fará com que os profissionais de saúde tenham maior atenção aos riscos de desenvolvimento da doença e com que se tomem medidas de tratamento, mas também de prevenção.

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A OMS sublinha, porém, que há estudos que mostram que o distúrbio “afeta apenas uma pequena proporção de pessoas que se dedicam a atividades de jogos digitais ou videojogos”, mas ainda assim pede cautela a quem o faz. “As pessoas que se dedicam a esta atividade devem estar alerta sobre o tempo que passam com videojogos, especialmente quando leva a ignorar outras atividades diárias”, lê-se no guia.

Mas há mais alterações neste novo manual. O capítulo dedicado à saúde sexual passa a abranger o transtorno de identidade de género — que era antes classificado como uma doença mental. Esta alteração, diz a OMS, advém do facto de ser “claro que não é um distúrbio mental”, uma classificação que “causa um enorme estigma para as pessoas transgénero“. Em 2017, o Parlamento Europeu já tinha pressionado a organização para “retirar os transtornos de identidade de género da lista de transtornos mentais”.

A nova edição do manual — que é considerado a base para identificar tendências e estatísticas sobre doenças em todo o mundo — entra em vigor a 1 de janeiro de 2022.