O apito final do jogo entre Coreia do Sul e México foi o tiro de partida para o drama de Heung-Min Son, estrela maior dos coreanos e dos ingleses do Tottenham, clube com o qual tem contrato até 2020. Frente aos mexicanos, Son fez de tudo: construiu ataques, recuperou bolas e finalizou lances; chutou com o pé direito, com o esquerdo e até cabeceou.
Protagonista do futebol sul-coreano, Son pegava em tudo o que era bola do meio campo para a frente, numa tentativa desesperada de fazer a diferença. Já em cima do minuto final, com o México a vencer por 2-0, Son fletiu para o meio e atirou a contar sem hipóteses para Ochoa. Um grande golo de pé esquerdo, que mal foi celebrado. Na realidade, Son tinha tudo menos razões para celebrar. Com a derrota frente ao México, a Coreia do Sul ficava quase afastada do Mundial e com isso as probabilidades de Son continuar no futebol ficavam cada vez mais longe.
Tudo porque, segundo o governo coreano, Son está obrigado a cumprir serviço militar no seu país, num período que pode ir dos 21 aos 36 meses. E o tempo começa a escassear: o astro do Tottenham tem até aos 28 anos para terminar o serviço militar num momento em que se encontra com 25 (fará 26 no próximo dia 8 de Julho). Ora, a cerca de dois anos e duas semanas do final do prazo, Son vê-se cada vez com menos hipóteses de fugir a um destino que o poderá obrigar a trocar as chuteiras e os relvados de Londres pelas armas e armaduras do exército sul-coreano.
Mas essas hipóteses ainda existem, se bem que reduzidas. O governo sul-coreano disponibiliza-se para dispensar do serviço militar obrigatório quem trouxer mérito ao seu país. Por outras palavras, e num critério um tanto ou quanto personalizado para o jogador do Tottenham, Son fica livre do serviço militar caso atinja os oitavos de final do Mundial, conquiste uma medalha nos Jogos Olímpicos ou ganhe o ouro nos Jogos Asiáticos.
Os oitavos de final do Mundial ficaram mais longe, talvez demasiado até, com a Coreia do Sul a precisar de vencer esta quarta-feira a Alemanha por dois golos de diferença e rezar para que o México bata a Suécia por um, pelo menos; os Jogos Olímpicos só se realizam em 2020, tarde demais para Son; restam os Jogos Asiáticos, agendados para a Indonésia, entre 18 de agosto e 2 de Setembro, como a última grande esperança de Son fugir ao serviço militar obrigatório com a conquista de uma medalha de ouro ao serviço da Coreia do Sul.
Caso os sul-coreanos não consigam o acesso aos oitavos do Mundial, o que realmente parece muito difícil, o futuro de Son joga-se na Indonésia, entre Agosto e Setembro. Não só o profissional, mas o pessoal. Son pode passar de um dos líderes do histórico Tottenham, da Premier League, a um mero soldado da Coreia do Sul. E seria uma pena para o futebol mundial, diga-se.