Numa época em que o mundo inteiro respira futebol e o Mundial ocupa manchetes, o pensamento e as conversas de milhões de pessoas, é quase irónico que os videojogos desportivos do qual temos falado sejam de ténis. Esta cobertura quase em fora de tempo deve-se ao facto de este início de Verão ter sido o período de lançamento escolhido pelas editoras para os poucos jogos de ténis que existem verem a luz do dia. Depois de termos falado, há semanas, da verdadeira “bola fora” que foi Tennis World Tour, é altura de mergulhar em Mario Tennis Aces, que marca o regresso do famoso canalizador aos jogos de desporto.
Já há 23 anos que Mario anda de raquete na mão, estreando-se nos courts como jogador, em 1995, como um dos jogos de lançamento da malfadada consola Virtual Boy. O personagem já tinha feito parte de uma partida de ténis mas como árbitro em Tennis, o clássico da NES de 1984. Sem grande concorrência à altura nos videojogos do género, a série Mario Tennis acabou por ser a grande rainha das adaptações da modalidade. No entanto, a simplificação das mecânicas que os títulos mais recentes foram tendo numa tentativa de aproximar o público mais infantil e casual acabaram por penalizar a componente estratégica inerente ao próprio ténis.
Mario Tennis Aces vem quebrar com essa simplificação recente da série. Como no mundo real, Mario Tennis permite-nos uma diversidade de shots diferentes com a nossa raquete, que vão de cortes até amortis. Assim como no ténis, a estratégia de rebater cada bola do adversário com o melhor tipo de shot possível, para tentar ganhar o ponto, esteve sempre aqui presente. Para facilitar o público mais casual, em Mario Tennis, as trajetórias da bola têm cores associadas mediante o tipo de raquetada que receberam, permitindo a resposta apropriada da nossa parte. Estes indicadores visuais e cromáticos fazem parte da linguagem de toda a série, mas neste Mario Tennis Aces perderam os automatismos que os seus antecessores implementaram, e a escolha de cada “ataque” depende apenas de nós.
No lugar das estrelas coloridas no chão, que indicavam onde as bolas iam cair nos jogos anteriores, em Mario Tennis Aces foram introduzidas mecânicas de shots especiais e manobras evasivas, que dependem de uma barra de energia. Esta barra vai sendo progressivamente cheia à medida que acertamos com força nas bolas enviadas pelos nossos adversários. Podemos gastar essa mesma energia a fazer um ataque especial (quase) indefensável ou utilizá-la para desacelerarmos o tempo e chegarmos a algumas bolas que daríamos como perdidas noutras situações. Estes shots especiais trazem com eles uma outra componente tática ao ténis e uma novidade na série: a durabilidade da nossa raquete. Se tentarmos bloquear um destes ataques e não pressionarmos o botão no timing certo, a bola irá danificar a nossa raquete ou, em caso extremo, destrui-la, levando-nos a KO e à consequente derrota.
Para quem não gosta destas adições fantasiosas a um simples jogo de ténis, pode escolher retirá-las no Modo Simples. Infelizmente, esta é das poucas personalizações que o jogo permite e é estranho como este título, ao contrário dos outros da série, não nos deixa aprofundar as nossas preferências em alguns dos modos de jogo, como o tipo de court ou a duração da partida.
A longevidade de cada partida é outro aspeto diferenciador deste Mario Tennis Aces, que apelará mais a jogadores casuais do que aos fãs da modalidade. Este jogo está apontado de forma óbvia para sessões curtas de jogo, distantes da duração de um jogo de ténis real, em termos de número de jogos e sets, e, apenas no modo local, conseguimos aproximá-lo da realidade. Como grande parte dos jogos desportivos, o conteúdo deste título depende muito da nossa disponibilidade para multijogador, seja local ou online. Mas com tantos jogos de géneros distintos a quererem “encostar-se” à vertente competitiva de eSports, é curioso ver que mesmo em multiplayer online Mario Tennis Aces quer manter a sua vertente competitiva mais familiar, sem classificações online ou rankings de jogadores.
Aproveitando as capacidades dos JoyCons da Switch, existe um Swing Mode no qual as raquetadas são dadas através do mimetismo dos nossos movimentos reais. Esta é uma reminiscência que vem dos jogos desportivos da Wii mas que, no caso deste Mario Tennis Aces, está menos afinado do que no passado, e muitas vezes os nossos gestos não são devidamente traduzidos pelo nosso personagem em jogo.
Uma verdadeira surpresa neste novo jogo da Switch foi a introdução de um modo de Aventura que serve de tutorial a todo o jogo, às suas mecânicas e complexidades. A criatividade de cada nível é interessante e permite-nos aprimorar os controlos das mecânicas de ténis. Sejam terrenos divididos por plantas carnívoras que comem as bolas e as projetam com força para o campo do adversário, ou um navio cujos mastros servem de obstáculos físicos à troca de bolas no campo, as ideias são diferentes e bem integradas com o ténis. A dificuldade, deste modo, é bastante elevada e as suas boss fights obrigam-nos a melhorar as nossas habilidades como tenistas, para as ultrapassarmos.
Artisticamente brilhante e detalhado, este é um dos títulos que melhor explora as capacidades visuais da Switch. Com muitos personagens diferentes da família Nintendo para escolher e com muito mais a serem adicionados em torneios mensais online, este jogo é mecanicamente tão aprimorado quanto qualquer jogo da Nintendo. O feedback das nossas ações, da raquete na bola e a sua trajetória são verdadeiras masterclasses de como fazer um bom jogo de ténis. Com alguns condicionalismos estranhos do ponto de vista de personalização que acabam por limitar as partidas, Mario Tennis Aces é ainda assim o melhor jogo de ténis dos últimos anos e o grande título de desporto para a nova consola da Nintendo.
https://www.youtube.com/watch?v=CiEUn2cNMbg
Ricardo Correia, Rubber Chicken