Um antigo membro da marinha tailandesa morreu, por falta de oxigénio, depois de ter entregado uma reserva de ar às crianças presas numa gruta inundada no norte da Tailândia, confirmaram as autoridades esta sexta-feira. “Depois de ter entregado uma reserva de oxigénio, ficou sem oxigénio para regressar” à superfície, anunciou o vice-governador da província de Chiang Rai, Passakorn Boonyaluck. “Ficou inconsciente no caminho de regresso, e o companheiro de mergulho tentou ajudar”, disse o chefe dos comandos da marinha tailandesa, Apakorn Yookongkaew.
Este acidente ocorreu quando as equipas de socorro e busca dos 12 rapazes e do seu treinador de futebol, presos numa gruta há 13 dias, aceleravam os preparativos para a sua retirada, antes do regresso anunciado da chuva. Com a época das chuvas a chegar à Tailândia, o plano de resgate terá de avançar já — mas a morte do mergulhador pode agora obrigar a rever os planos das autoridades e atirar as hipóteses de resgate das 12 crianças presas dentro de uma gruta para outubro.
Para já, mantém-se o plano de avançar com o resgate entre esta sexta-feira feira e sábado. Em caso de insucesso, e tendo em conta que a época das chuvas naquela zona da Ásia começa em julho e estende-se até outubro, novas tentativas de resgate só serão possíveis daqui a três meses.
[Veja no vídeo os difíceis obstáculos que os mergulhadores têm de enfrentar na Tailândia]
Os socorristas esperam conseguir, com a ajuda de bombas, baixar o nível da água, de modo a permitir que as crianças não tenham que mergulhar durante muito tempo. Até ao momento, um mergulhador experimentado demora cerca de 11 horas a chegar ao local onde se encontram as crianças: seis horas para ir e cinco horas para regressar, graças a corrente. O percurso estende-se por vários quilómetros através de canais acidentes, com passagens difíceis sob a água.
“Corrida contra a água”
Já passaram 12 dias desde que um grupo de crianças e um adulto ficaram presos no interior de uma gruta na Tailândia. O grupo foi encontrado a quatro quilómetros da entrada da gruta, depois de estar desaparecido durante nove dias, no ponto alto de uma câmara.
Nos primeiros contactos, os rapazes foram sujeitos a cuidados médicos e receberam comida e cobertores térmicos. Porém, o resgate do grupo teve de esperar por se tratar de uma operação extremamente complexa. Seria necessário ensinar o grupo a nadar e a utilizar material de mergulho, o que poderia demorar meses.
Nos últimos dias a chuva deu um raro período de tréguas com as equipas de resgate. Contudo, a época das chuvas neste país começa em julho e estende-se até outubro. No entanto, está a aproximar-se a época das chuvas e as autoridades preveem um dilúvio já no próximo domingo.
“É uma corrida contra a água”, disse o governador de Chiang Rai, Narongsak Osotthanakorn. “Estamos a calcular quanto tempo temos caso chova, quantas horas, quantos dias”, acrescentou.
Tailândia. Como sobrevivem os 12 rapazes numa gruta a mil metros de profundidade
Até esta quinta-feira cerca de 128 milhões de litros de água foram retirados do interior da gruta (cerca de 40% da água que estava no interior), com o nível da água a baixar em média 1.5 cm por hora. Em termos práticos, significa que as equipas de resgate já conseguem ir a pé 1.5km no interior da gruta. Mesmo depois de um grupo de voluntários ter prejudicado as operações, bombeando água para o interior da gruta.
O objetivo é reduzir a água na terceira câmara ao ponto em que não seja preciso usar equipamento de mergulho”, afirmou um responsável pelas equipas de resgate ao The Guardian, permitindo ao grupo passar por aquela zona com água pela cintura e a usar apenas coletes salva-vidas.
Ultrapassado este obstáculo, sobram apenas dois quilómetros e meio até à câmara onde se encontram as crianças, com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos, o treinador, de 25, e ainda os sete mergulhadores — entre eles médicos — que estão com o grupo.
Outras opções não estão descartadas. Uma equipa de superfície continua em busca de uma entrada direta para a câmara onde se encontram os rapazes. De acordo com a AFP, foram recrutados observadores de pássaros, porque as suas capacidades de encontrar buracos escondidos no meio da floresta pode ser fundamental. Ao todo, são 30 equipas a trabalhar à superfície para encontrar uma entrada, segundo Bangok Post.
Por outro lado, centenas de trabalhadores e engenheiros fazem esforços para abrir caminhos e colocam barreiras de cascalho para aguentar a lama que se acumula no local. Também não há falta de voluntários para desempenhar tarefas de apoio a todos os trabalhadores envolvidos, distribuindo água e comida.
As hipóteses de retirar as crianças com equipamento de mergulho ainda está em cima da mesa. Neste momento, as crianças continuam a ter aulas de natação e de mergulho, mesmo sendo consensual de que essa não é a opção mais viável. Alguns dos rapazes não sabem nadar e a possibilidade de um ataque de pânico num ambiente tão estreito e tão escuro não pode ser afastada.
De acordo com um mergulhador que falou à BBC, tal operação poderia demorar cerca de 5 horas por criança. Tempo que as equipas de resgate não têm.
“Pensávamos que os rapazes ficariam seguros dentro da caverna por algum tempo”
O comandante dos fuzileiros tailandeses, Arpakorn Yookongkaew, disse numa conferência de imprensa, citado pela agência Lusa, que a situação tornou-se mais complicada: “Não podemos continuar à espera de ter condições porque as circunstâncias estão a pressionar-nos”, disse.
“Pensávamos que os rapazes ficariam seguros dentro da caverna por algum tempo, mas as circunstâncias mudaram. Temos um tempo limitado”, acrescentou o comandante.
Os níveis de oxigénio estão a diminuir por causa dos trabalhadores que estão dentro da caverna e que estão a tentar levar mais oxigénio para as câmaras, além das botijas de oxigénios usadas pelos mergulhadores, segundo o governador da província de Chiang Rai, Narongsak Osatanakorn.
FIFA convidou os jovens tailandeses para a final do Mundial
O presidente da FIFA, Gianni Infantino, enviou uma carta ao presidente da federação tailandesa de futebol, expressando a sua “simpatia para com as famílias dos 12 jovens e do treinador” e deixou ainda um convite: “Como todos desejam, se eles se reunirem com as famílias nos próximos dias e se a sua saúde permitir que eles viajem, a FIFA gostaria de convidá-los para assistir à final do Mundial 2018”.
FIFA, via a letter from Gianni Infantino to the FA Thailand President, have invited the children and coach currently in the cave to the World Cup final if circumstances allow. pic.twitter.com/ycC2GfPfeA
— David Phillips (@lovefutebol) July 6, 2018