Uma bolsa de 400 voluntários, coordenada por uma associação de defesa dos animais, está a providenciar cuidados a mais de meio milhar de galgos que foram abandonados no canídromo de Macau pela empresa que explorava aquele espaço.

A Anima – Sociedade Protetora dos Animais de Macau – “chamou 400 voluntários no total para ajudarem a tratar dos galgos, para lhes dar banho, para os alimentar e para os passear no exterior”, disse  esta quinta-feira à agência Lusa um dos elementos da associação que coordena os trabalhos, Zoe Tang. “Portanto, temos pelo menos 50 voluntários para ajudar de manhã e 50 à tarde. No total são 100 [por dia]”, acrescentou, sublinhando que toda a operação de adoção, que ganhou uma escala mundial, enfrenta agora dois grandes desafios: as viagens para outros países e outros continentes, bem como a esterilização de cada um dos galgos.

“Temos 533 galgos, 300 são machos e os restantes são fêmeas e não estão esterilizados. Estão a ser bem cuidados neste momento. Alguns dos cães têm problemas de pele, alguns têm diarreia, mas estão a tomar medicação”, explicou à Lusa Zoe Tang, destacando a dificuldade logística que o processo de esterilização irá causar, com a necessária separação dos galgos no recobro das cirurgias.

Os pedidos de adoção chegaram já da Austrália, França, Taiwan, Hong Kong, Reino Unido e Estados Unidos. Uma boa notícia, salientou Tang, mas que coloca um sério desafio quanto à capacidade de todas as associações envolvidas em garantir as viagens, por mar e por avião, para fora de Macau. “Cada viagem para a Europa custa à volta de 30 mil patacas (três mil e duzentos euros) a não ser que haja uma grande campanha de donativos”, a Anima terá muita dificuldade em conseguir transportar os animais para fora de Macau, disse no sábado, à Lusa, o presidente da associação, Albano Martins.

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A campanha de angariação de fundos para realojar os animais está a ser organizada com a associação italiana Pet Levrieri e com a norte-americana Grey2k. Já o recrutamento dos voluntários foi garantido pela Anima, MASDAW (Associação para Cães de Rua e o Bem-Estar Animal em Macau), Associação Protetora para os Cão Vadio de Macau, Everyone Stray Dogs Macau Volunteer Group e Long Long (Macao) Volunteers Group.

No final desta quinta-feira, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais de Macau (IACM) informou ter recebido um pedido apresentado pela Companhia de Corridas de Galgos Macau (Yat Yuen), no qual esta reclama os galgos “deixados no canídromo, e uma proposta concreta de deslocação [dos animais]”. O IACM referiu, em comunicado, que está a avaliar a viabilidade da proposta.

No sábado, as autoridades de Macau acusaram a Companhia de Corridas de Galgos Macau de ter abandonado os galgos nas instalações e ameaçou aplicar sanções financeiras com base na Lei de Proteção dos Animais. “Findo o prazo para deslocação do canídromo da Companhia de Corridas de Galgos Macau (…) a empresa não assumiu as responsabilidades e as obrigações devidas […], deixando 533 galgos abandonados no referido local”, sublinhou então o IACM.

A Companhia de Corridas de Galgos tinha entregado na semana passada, na véspera de terminar o contrato de exploração, uma carta às autoridades de Macau na qual referia que os galgos do canídromo se tratavam de bens que deviam reverter a favor das autoridades do território. Até aqui, a empresa, que pertence à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, fundada pelo magnata do jogo Stanley Ho, “não se dedicou a encontrar solução adequada para colocar esses galgos existentes, e agora quer passar as responsabilidades para o Governo e para a sociedade”, reagiu o IACM.

A 12 de julho, o IACM já tinha exigido à Companhia de Corridas de Galgos a entrega imediata de um plano concreto para realojamento dos galgos, depois de a Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos ter recusado prolongar o contrato de exploração do canídromo, a operar há mais de 50 anos no território.