É o próprio Augusto Inácio, quarta referência do Sporting a conseguir ser campeão como jogador e treinador depois de Juca, Mário Lino e Fernando Mendes, que assume: em 2000, ano em que os leões quebraram o maior jejum sem Campeonatos na sua história, dificilmente a equipa conseguiria alcançar o primeiro lugar sem a chegada do central no mercado de Inverno. Muitas coisas mudaram daí para a frente, o clube voltou a festejar em 2002 também com o brasileiro mas atravessa agora o segundo maior período sem o principal título nacional. Por coincidência, talismã ou reconhecimento, André Cruz está de volta, desta vez como possível diretor desportivo do futebol caso João Benedito vença as eleições a 8 de setembro.
À beira de completar 50 anos (em setembro), o antigo internacional, vencedor da Copa América de 1989 no ano seguinte à prata nos Jogos Olímpicos de Seul ao lado de nomes como Romário, Bebeto, Taffarel, Jorginho, Valdo, Aloísio ou Careca, continua a ser tido como um elemento marcante da história do futebol verde e branco neste século. E isso é percetível não só nos quatro títulos (dois Campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça) mas também naquela que ficou como imagem de marca ao longo da carreira como jogador: os golos de bola parada, sobretudo de livre direto. “Tudo trabalho”, contou no programa “Senadores” da Sporting TV. “Tive um treinador que sempre me disse para treinar a finalização, não só os livres mas também os cabeceamentos na sequência de cantos”, explicou, numa prática que vem desde o Ponte Preta, onde acabou a formação. “Verdade. A seguir a todos os treinos, lá tinha o seu período específico a treinar os lances de bola parada. Às vezes até ia amarrar um colete entre a trave e o poste e era por ali que a bola tinha de entrar”, recordou Augusto Inácio.
No final dos anos 80, já como figura também da seleção brasileira, reforçou o Flamengo após disputa com o Vasco da Gama mas não demorou a saltar para a Europa: começou com quatro anos nos belgas do Standard Liège, assinou em 1994 pelo Nápoles, foi comprado em 1997 pelo AC Milan onde partilhava balneário com nomes como Paolo Maldini ou Costacurta. Devido a lesão acabou por não jogar tanto nos rossoneri (apesar de ter estado no Mundial de 1998, ganho pela França na final contra o Brasil), esteve cedido ao Standard e ao Torino e chega ao Sporting no final de 1999, naquela que curiosamente foi a primeira contratação de sempre de um gestor de ativos que colaborava há pouco tempo com o clube: Carlos Freitas.
Em Alvalade, deixou um legado como poucos conseguiram em tão pouco tempo (dois anos e meio): descrito como alguém com personalidade reservada mas com capacidade inata para liderar dentro e fora de campo, que se fazia respeitar e era um exemplo no balneário, esteve nos últimos dois Campeonatos do Sporting com 15 golos em pouco mais de 100 jogos e manteve-se sempre ligado à realidade do clube depois de pendurar as chuteiras (passaria ainda pelo Goiás e pelo Internacional), chegando mesmo a indicar alguns jogadores da escola de futebol de Campinas com quem trabalha aos leões. Nos primeiros anos com Bruno de Carvalho na presidência, chegou a ser falada uma ligação mais próxima ao clube mas que não se concretizou.
Curiosamente, André Cruz também deixou a sua marca em… Cristiano Ronaldo. Apesar de ter trabalhado pouco tempo com o então miúdo dos juniores, Hugo Pina, antigo companheiro do agora avançado da Juventus, contou ao UOL Esporte que o ex-central foi uma das principais inspirações para o “culto do corpo” do capitão de Portugal: “Queria ser o melhor sempre. Uma vez viu o Thierry Henry num jogo do Arsenal e disse que iria ser mais rápido que ele. Noutra ocasião, num treino, chamou a atenção para as pernas do André Cruz, que comparou com troncos de árvore, e garantiu que as dele ficariam assim”.
André Cruz será apresentado esta terça-feira ao final da tarde como “reforço” da equipa de João Benedito nestas eleições do Sporting, ficando como diretor desportivo em caso de triunfo no sufrágio de 8 de setembro. E poderá não ser o único jogador (e referência) do futebol verde e branco a juntar-se à estrutura gizada pelo gestor e antigo capitão do futsal leonino.