Diz que não tem como objetivo “desgastar a liderança” de Rui Rio ou “pôr areia na engrenagem”, mas Pedro Duarte chega com um camião cheio a menos de um ano de eleições no país. O desafio é claro e, em entrevista ao semanário Expresso o ex-líder da JSD diz (a entrevista só está disponível para assinantes) que está “preparado para liderar uma nova estratégia no PSD e uma nova esperança para o país, em nome do interesse nacional”. Por outras palavras: o PSD deve “mudar de estratégia e de liderança tão cedo quanto possível” e ele, Pedro Duarte, está “a afirmar o que pensa e a desafiar a liderança do PSD e o partido para que faça esta reflexão”.
O ex-líder da Juventude Social Democrata é o primeiro militante com notoriedade do PSD a desafiar abertamente Rui Rio na liderança do partido e, sabe o Observador, antes de dar este passo Pedro Duarte ouviu outros quadros do partido que o incentivaram, insatisfeitos com a gestão interna de Rio. O timing também foi pensado: ao fim de seis meses de Rui Rio e com a distância suficiente para as primeiras eleições do próximo ciclo político, as europeias (que devem ser em maio do próximo ano). Com isto, confirmou o Observador entre o ciclo mais próximo do social-democrata, Pedro Duarte quis evitar fragilizar o partido mesmo em cima das eleições.
Na entrevista publicada este sábado, Pedro Duarte, de 45 anos, acusa o partido de andar a ser “aliado do Governo socialista” desde que Rui Rio é líder. O social-democrata apelida de “estratégia legítima” o caminho de Rio, mas critica a opção do líder social-democrata em não apresentar “uma única crítica direta ao primeiro-ministro ou ao PS” e de culpar apenas o modelo “geringonça” pelos erros de governação. Segundo, Pedro Duarte, esta linha relega o líder do maior partido no parlamento, o PSD, a muleta do PS de António Costa. Além disso, está convencido que, dentro do seu partido, “a maioria não quer esta opção“. Rui Rio foi eleito líder em janeiro, nas diretas do PSD onde teve como único adversário Pedro Santana Lopes.
Apesar do desafio ao líder do PSD, Pedro Duarte garante que não está “interessado em criar manobras conspirativas que visem criar turbulência” e a que sua postura é “diferente da de outros”, por não “estar com calculismos nem à espera do que possa acontecer nas legislativas para tirar proveito disso”. É por causa disso que, garante, não tem andado a reunir apoios ou a pensar em congressos extraordinários, apesar da notoriedade que ganhou no partido por ter sido líder da “jota”.
“A minha consciência cívica obriga-me a dar este passo. Faço-o por causas, não por calculismos, ou taticismos ou por ter apoios. (…) Não perdi um segundo a pensar nos métodos, no processo como isto se possa desenrolar”, garante. Também assegura que não quer tirar o partido do centro-direita: “Hoje identifico-me muito mais com visões de alguém como Emmanuel Macron, ou de partidos como o Ciudadanos, do que com muitos partidos que integram o PPE [Partido Popular Europeu] e defendem visões nacionalistas ou estão até coligados com a extrema-direita. O PSD deveria estar a provocar este debate dentro do PPE, porque é o debate que interessa — mas sobre isso não ouvi nada a Rui Rio”, aponta ainda.
José Eduardo Martins não terá outro candidato que não este
Pedro Duarte já tinha sido uma voz crítica da liderança de Pedro Passos Coelho, ainda assim, em outubro do ano passado veio excluir-se da luta pela sucessão, aquela de onde haveria de sair Rui Rio como líder. Nos tempos da oposição a Passos, a sua voz apareceu quase sempre junto da de José Eduardo Martins que este sábado já veio apoiar o avanço de Pedro Duarte.
Numa publicação na sua página de facebook, o social-democrata partilha uma fotografia da primeira página do “Expresso” e elogia Pedro Duarte, declarando-lhe apoio: “Bem o Pedro M A Duarte, a dizer o que deve ser dito. E, hoje como antes, quando ele for candidato, não terei outro. Gosto de clareza. E de lealdade“.
Artigo atualizado às 13h com a reação de José Eduardo Martins