A forma como Nelson Évora manteve sempre a calma mesmo partindo atrás na final do triplo salto no Campeonato da Europa foi um exemplo. A maneira confiante com que partiu para o quinto salto é uma inspiração. Mas as palavras no final de mais uma grande conquista internacional, neste caso uma das poucas ou nenhumas que ainda lhe faltavam, ficará para sempre como paradigma daquilo que constrói um verdadeiro campeão. É certo que o saltador sabe bem o seu lugar na história do desporto nacional, é verdade que conseguiu sempre ir controlando esta final feita à sua medida, mas entre a festa e o regresso ao trabalho existe já um objetivo muito bem balizado: chegar aos Jogos Olímpicos de Tóquio e lutar pelo ouro.

Nelson Évora ganha a primeira medalha (e logo a de ouro) em Campeonatos da Europa aos 34 anos

“Não me podia sentir melhor! Foi uma prova bastante difícil, como viram, mas tive de jogar com a experiência. O pódio fala por si, pois os mais velhos foram também os medalhados [além de Nelson Évora, o azeri Alexis Copello ficou com a prata e o grego Dimitrios Tsiamis com o bronze]. Esta era uma pista extremamente difícil para saltar mas sabia que tinha bons saltos para fazer. Até aos 16.93 teria só de melhorar pequenas coisas para ir mais longo e jogo sempre pelo seguro. Há atletas que arriscam em demasia sem necessidade. Os campeonatos são feitos para ganhar e há que assegurar os títulos. Foi isso que fiz”, comentou o novo campeão europeu de 34 anos, nas primeiras declarações após o triunfo à RTP3.

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“Se sei que estou na galeria dos melhores do atletismo português? Sei. Sei e era esse o meu sonho quando comecei a minha carreira. O meu principal objetivo era fazer história e orgulhar todos os portugueses que gostam de desporto e que apoiam os seus. Tenho de agradecer esse apoio e reconhecimento dado ao longo destes anos”, acrescentou, antes de virar o discurso para os Jogos de 2020, no Japão, altura em que já terá 36 anos. Algo que, ao mesmo tempo, não lhe tolda a ambição.

Dez anos depois, Nelson deu mais um salto. E este ficou ainda mais na história

“O objetivo é chegar a Tóquio na melhor forma possível e lutar pelo ouro, seja quem for o adversário, acreditem. Este ano é o mais baixo a nível de trabalho, os próximos dois serão mais fortes nos resultados. Agora há que continuar a trabalhar e acreditar”, disse o atleta do Sporting, prometendo mais vitórias individuais e Portugal na segunda metade deste ciclo olímpico.

Aos 34 anos, Évora, um dos quatro portugueses campeões olímpicos depois de Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro, conquistou a primeira medalha (e logo a principal) em Europeus ao Ar Livres, somando ainda um ouro em Campeonatos do Mundo (2007) e dois em Europeus de Pista Coberta (2015 e 2017), entre outras medalhas. Como júnior, tinha vencido no mesmo ano de 2003, em Tampere, o salto em comprimento e o triplo salto dos Europeus. Em paralelo, o saltador tem também um total de 25 Campeonatos de Portugal individuais, entre triplo e comprimento, Ar Livre e Pista Coberta.

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No entanto, existe um “adversário” a ter em conta por Nelson Évora: Pedro Pablo Pichardo, atleta nascido em Cuba que se naturalizou português em 2017 e que chegou a estar pré-inscritos nos Europeus, falhando a prova pela falta de uma resposta positiva da Federação Internacional de Atletismo sem a qual a Associação Europeia de Atletismo daria o ‘ok’. “Sem a minha presença é fácil. Campeão!”, escreveu nas Histórias do Instagram o detentor da melhor marca do ano (17.95).

Já o Benfica protestou em comunicado com a transmissão da prova na RTP: “Os comentários colocando em causa a naturalização do atleta Pedro Pablo Pichardo, assim como a sua postura discriminatória em relação aos atletas do Sport Lisboa e Benfica durante a competição de Berlim, são inqualificáveis e intoleráveis num canal público de televisão. O clube critica veementemente este comportamento xenófobo e racista inaceitável e irá formalmente denunciar junto da RTP esta atitude absolutamente deplorável que revela total falta de isenção e até de cultura desportiva. Recorde-se que Pedro Pichardo foi impedido de participar no Campeonato da Europa pela IAAF e não pela Federação Portuguesa de Atletismo. A FPA, após um período de hesitação institucional, tudo tem feito nas últimas semanas para normalizar a situação competitiva de um atleta de enorme valia e reconhecimento internacional, que irá de encontro ao interesse nacional. O Benfica está confiante que Pedro Pichardo tem todas as qualidades para levar o atletismo português a um patamar superior na disciplina do triplo salto”.