Mais de 80 carros arderam na noite passada em vários bairros de Gotemburgo e na cidade de Trollhättan, incendiados por grupos de jovens mascarados que também atiraram pedras à polícia e aos carros que encontraram. As autoridades suecas colocam a hipótese de se tratar de um ato de vandalismo concertado. “Dado que a maioria dos incêndios deflagraram num curto período de tempo, não podemos descartar que haja uma ligação entre eles”, apontaram as autoridades, citadas pela agência de notícias Bloomberg.

Só no bairro de Frölunda, na segunda maior cidade da Suécia, Gotemburgo, arderam 31 carros e outros 31 ficaram danificados. Nas redes sociais estão a ser divulgados vídeos impressionantes dos atos de vandalismo, que envolveram ainda carros destruídos em centros comerciais e num parque de estacionamento de um hospital em Frölunda.

Aparentemente, é habitual jovens incendiarem carros na Suécia na semana anterior ao início de aulas — mas não a esta escala. Foi o que deu a entender a porta-voz da polícia sueca Ulla Brehm, em declarações à agência noticiosa TT: “Sabemos por experiência que este tipo de incêndios acontecem mais habitual na semana antes das aulas começarem do que noutras semanas”.

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Devido a essa periodicidade anual de vandalismo, a polícia não acredita que ocorrências semelhantes mas de menor escala em Malmö and Helsingborg, cidades em que também arderam carros na noite passada, estejam relacionadas com os motins de Gotemburgo e Trollhättan. Acredito, isso sim, que são sintomas do crescendo de violência no país. Ainda assim, haverá investigações.

Em declarações à rádio pública sueca (Swedish Radio), o primeiro-ministro do país, Stefan Lofven, indignou-se:

“Fico zangado, fico mesmo. Honestamente. O que é que raio é que vocês andam a fazer? Estão a destruir coisas vossas, dos vossos pais, da vossa área de residência. A sociedade tem de responder de forma dura.”

Daqui a menos de um mês, dia 9 de setembro, a Suécia vai a eleições. As sondagens mais recentes sugerem que o Partido Social Democrata sueco, de centro-esquerda e atualmente no Governo, é o favorito a vencer as eleições, mas com aquele que pode ser o resultado mais baixo em muitos anos. A divisão eleitoral é grande e, à direita, o partido nacionalista e de extrema-direita Democratas Suecos disputa o eleitorado com o Partido Moderado, mais centrista.

A última sondagem coloca mesmo os nacionalistas suecos, que têm posições críticas da abertura de fronteiras, do acolhimento de migrantes e da União Europeia e que já tiveram dirigentes acusados de racismo, a apenas 3.5 pontos percentuais dos seus rivais à direita. Apesar do Partido Moderado continuar a recusar coligações com os nacionalistas, as últimas declarações dos seus dirigentes parecem colocar a hipótese de acordos de Governo (sem coligação formal) à direita.

Do lado dos nacionalistas, já houve uma reação forte aos atos de vandalismo desta segunda-feira. “A 9 de setembro voltaremos a tornar a Suécia segura”, anunciou o partido nas redes sociais. Não foi por acaso: no Twitter e no Instagram, são muitos os que associam os atos de vandalismo a imigrantes, culpando o multiculturalismo pela insegurança. Há, também, quem insinue que os motins poderão ter sido provocados para influenciar as eleições.