O fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, escreveu esta quarta-feira no Twitter que vai cancelar o convite que fez a Marine Le Pen, depois de todas as reações que leu online na noite passada e dos conselhos que recebeu.
“É claro para mim que a decisão correta para a Web Summit é rescindir o convite a Marine Le Pen. A sua presença é desrespeitosa para o nosso país anfitrião. E também é desrespeitosa para os muitos milhares de participantes que se vão juntar a nós de todo o mundo”, escreveu no Twitter Paddy Cosgrave.
Based on advice we have received and the large reaction online overnight, her presence is disrespectful in particular to our host country. It is also disrespectful to some of the many tens of thousands of attendees who join us from around the world.
— Paddy Cosgrave (@paddycosgrave) August 15, 2018
We welcome any suggestions as to who might be appropriate and also inappropriate to speak on a whole range of issues affecting society and technology.
— Paddy Cosgrave (@paddycosgrave) August 15, 2018
O líder daquela que é a maior conferência de empreendedorismo e tecnologia da Europa mostra-se disponível para receber sugestões de pessoas que sejam “consideradas apropriadas para discutir uma série de assuntos que afetem a tecnologia e a sociedade” e que a sua ambição é que a Web Summit seja reconhecida como uma “plataforma de debate rigoroso”.
Na terça-feira, Paddy tinha escrito um longo texto no Medium no qual afirmava que estava disposto a cancelar o convite que fez à líder do partido de extrema direita Frente Nacional se o Governo assim o entendesse e pedisse: “Se os nossos anfitriões em Portugal, o governo português, nos pedirem para cancelar o convite de Marine Le Pen, iremos, evidentemente, respeitar esse pedido e fazê-lo imediatamente”, escreveu.
Na manhã desta quarta-feira, o Ministério da Economia emitiu um comunicado no qual afirmava que não iria envolver-se na polémica que envolve Le Pen e se demarcava de qualquer intervenção na seleção de oradores de uma conferência privada.
“A Web Summit é um evento tecnológico e de inovação, com milhares de oradores, que atrai anualmente a Portugal dezenas de milhares de empreendedores e investidores. Trata-se de um fórum alargado de discussão de tendências de mercado, cujo alinhamento – oradores e programa – é da exclusiva responsabilidade da organização”, lê-se na nota, que é citada pelo Dinheiro Vivo.
O convite que a Web Summit fez a Le Pen tem estado debaixo de críticas, o que levou a SOS Racismo a lançar uma petição para impedir a líder da Frente Nacional de vir a Lisboa e o PSD a afirmar que caso Le Pen venha a Portugal, só há uma solução: a Câmara Municipal de Lisboa retirar o patrocínio que faz à Web Summit.
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Na terça-feira, Paddy Cosgrave admite que a “decisão fácil” seria cancelar o convite a Marine Le Pen, mas que tinha optado por não o fazer, porque acreditava que “proibir ou tentar ignorar estes pontos de vista, que foram difundidos pela tecnologia, pouco contribui para promover a compreensão”. No entanto, mostrou-se sensível à opinião do Governo e dos portugueses.
“A história recente de Portugal é algo diferente e eu estou de mente aberta e sensível a esse facto. Em última instância, os interesses dos nossos anfitriões, Portugal, e do povo português devem ser postos acima dos interesses da Web Summit”, concluiu., escreveu Paddy.
Menos de 24 horas depois, surgiu o cancelamento oficial. A edição deste ano da Web Summit realiza-se entre 5 e 8 de novembro, no Altice Arena e na FIL. São esperadas cerca de 70 mil pessoas. Na edição do ano passado, participaram no evento, segundo a organização, 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil startups, 1.400 investidores e 2.500 jornalistas acreditados.
Fundada por Paddy Cosgrave, na Irlanda, em 2010, a Web Summit tornou-se num dos eventos de empreendedorismo e tecnologia mais importantes do mundo. O contrato com o Governo português termina em 2018, mas o executivo tem estado a tentar convencer os irlandeses a ficar no país por mais 10 anos. A proposta portuguesa está a concorrer com a de cidades como Madrid, Londres, Paris e Valência e, segundo o que o Observador apurou, está “em desvantagem”.
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