Otavio Frias Filho, diretor da Folha de São Paulo nos últimos 34 anos, morreu esta terça-feira vítima de um cancro no pâncreas que lhe foi diagnosticado em setembro de 2017. O jornalista, ensaísta e dramaturgo tinha 61 anos. Era casado com a editora Fernanda Diamant com quem tinha duas filhas.

Filho de Dagmar Frias de Oliveira e de Octavio Frias de Oliveira, empresário que comprou a Folha  em 1962, Otavio Frias Filho tornou-se uma das figuras mais revelantes do meio editorial brasileiro pela forma como, sob a sua liderança, modernizou o jornal paulista herdado do seu pai e o tornou num dos órgãos de comunicação mais influentes do Brasil. Uma herança que, aliás, sempre valorizou. “A memória do meu pai é um emblema muito importante na minha vida, na minha formação”, disse numa entrevista. Aliás, foi ainda sob a direção do seu pai que a Folha abriu as suas páginas a diferentes correntes de opinião, incluindo os que se opunham à ditadura militar.

Antes de assumir a direção do jornal, estudou Direito e Ciências Sociais na Universidade de São Paulo entre 1975 e 1983, ao mesmo tempo que assessorava o então diretor de redação, Cláudio Abramo, e seu pai, publisher do jornal. a ligação ao jornalismo nunca mais se perdeu, tendo subido a diretor da redação em 1984, com apenas 26 anos. Além das reformas internas na publicação — entre as quais a criação de um livro de estilo e da figura do provedor, para controlo da qualidade editorial — marcou posição com uma série de causas públicas inéditas, como foi o caso do lançamento do movimento ‘Diretas Já’, que defendia eleições diretas para a Presidência do país.

“Fazer jornalismo crítico, apartidário e pluralista”, conforme defendeu numa entrevista ao programa ‘Roda Vida’, da TV Cultura, em 1996, era um dos seus objetivos primordiais. “Um jornalismo que se preocupa em trazer ao leitor todo o tipo de controvérsia e que procura espelhar nas suas páginas as diversas tendências políticas, económicas ou culturais”, explicou então.

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Mais tarde, numa outra entrevista, definiu-se como “um moderador” de “inúmeras tensões”, algo que via como positivo pelo simples facto de ver no debate e confronto de ideias uma forma de evitar uma imprensa “monolítica, de pensamento único”.

O jornalismo, apesar das suas severas limitações, é uma forma legítima de conhecimento sobre o nível mais imediato da realidade. Para afirmar a sua autonomia, precisa de cultivar valores, métodos e regras”, escreveu na coluna mensal sob o título “Jornalismo, um mal necessário“, em fevereiro deste ano.

Embora reconhecesse que “não tinha a paixão da notícia” como um repórter, dedicou-se por inteiro ao jornalismo, interesse que partilhava com o teatro tendo escrito três peças que foram publicadas e mais quatro que subiram ao palco. Escreveu ainda o livro de ensaios ‘Queda Livre’ (publicado em 2003), que junta reportagem, autobiografia e observação antropológica. É também autor de ‘Seleção Natural’, de 2009. Entre as várias distinções, destaca-se a que recebeu em 1991, em nome do jornal: o prémio Maria Moors Cabot de jornalismo, da norte-americana Universidade de Columbia.

A família de Otavio Frias Filho mantém o controlo do Grupo Folha, um dos principais grupos de media do país, que agrega várias empresas além do jornal: Folha (empresa de conteúdos), UOL (produtos e serviços de internet), Plural (gráfica), Publifolha (editora), Datafolha (pesquisa e tratamento de dados) e PagSeguro (empresa de pagamentos eletrónicos). Um grupo que começou a formar-se em 1921, com o lançamento do jornal Folha da Noite, em São Paulo. Depois vieram o matutino Folha da Manhã (1925) e o vespertino Folha da Tarde (1949). Os três jornais acabaram fundidos em 1960 para dar origem à Folha de S .Paulo, atualmente líder em circulação e audiências no país.