Minuto 39. Cervi dá para Grimaldo, que devolve ao argentino numa combinação notável pelo flanco esquerdo, com o pequeno extremo a servir Pizzi à entrada da área para o remate certeiro do médio português — seria uma das melhores jogadas coletivas dos encarnados em todo o encontro frente ao PAOK, o terceiro golo português na partida, que deixava o Benfica a respirar de alívio e a razão para mais uma intervenção vinda de Manchester, desta feita, sob a forma de declaração de amor.

Que Bernardo Silva joga no Manchester City, mas deixou uma costela na Luz, não é novidade para ninguém; o que talvez seja notícia para os mais desatentos é o apreço do astro campeão inglês pelo camisola 21 do Benfica. Depois de ver Pizzi on fire aquando do hattrick do internacional português frente ao V. Guimarães, Bernardo Silva publicou um tweet onde exprime o seu amor pelo autor do terceiro golo encarnado na partida. E o caso não é para menos, já que Pizzi leva seis golos em sete jogos, tantos quantos apontou em toda a temporada passada.

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PAOK-Benfica, 1-4

2.ª mão do playoff da Liga dos Campeões

Estádio Toumba, em Salónica, Grécia

Árbitro: Felix Brych (Alemanha)

PAOK: Paschalakis, Léo Matos, Varela, Crespo e Vieirinha; Maurício e Cañas (Shakov, 64′); Limnios (Warda, 46′), Pelkas, El Kaddouri (Akpom, 76′) e Prijovic

Suplentes não utilizados: Rodrigo Rey, Léo Jaba, Khacheridi e Stelios Kitsiou

Treinador: Razvan Lucescu

Benfica: Odysseas; André Almeida, Rúben Dias, Jardel e Grimaldo; Fejsa, Pizzi (Zivkovic, 76′) e Gedson; Salvio (Alfa Semedo, 63′), Cervi e Seferovic (João Félix, 85′)

Suplentes não utilizados: Svilar, Conti, Rafa e Ferreyra

Treinador: Rui Vitória

Golos: Prijovic (13′), Jardel (20′), Salvio (26′ e 50′) e Pizzi (39′)

Ação disciplinar: cartão amarelo para André Almeida (1′), Léo Matos (8′ e 77′), Jardel (34′), Maurício (34′), Varela (49′), Pelkas (75′) e Shakov (85′). Cartão vermelho para Léo Matos (77′)

E que importante foi o tento de Pizzi no embarque encarnado no comboio dos milhões. É que, até ao momento, e pese embora a vantagem encarnada, o PAOK mostrava-se melhor no encontro e obrigava o Benfica a aproximar-se da baliza grega apenas em lances de bola parada (talvez, a prever isso, Rui Vitória tenha promovido a primeira titularidade de Seferovic nesta época). Depois do lance do terceiro golo, tudo mudou e o Benfica entrou para o segundo tempo disposto a transformar o susto em goleada e seguir caminho num comboio que já só para no lago dos tubarões.

O PAOK queria, desde cedo, abrir caminho para a sua estreia na fase de grupos da Liga dos Campeões e a entrada em campo foi feita a todo o vapor: aos cinco minutos, a formação grega já tinha obrigado André Almeida a ver o primeiro amarelo da partida, conquistado um livre perigoso e forçado Grimaldo a esticar-se para evitar que o remate de Limnios fosse na direção da baliza.

Os encarnados iam revelando algum nervosismo, fruto da importância da partida a nível desportivo e financeiro, mas também graças à imponente entrada dos gregos em campo, que encostou os encarnados ao seu meio-campo, de onde demonstravam dificuldades em sair, com perdas de bola pouco usuais na zona de construção mais recuada.

Pouco habituais, também na equipa de Rui Vitória, são os momentos de desconcentração defensiva, principalmente, em lances de bola parada. Mas foi o que aconteceu: pontapé de livre para o PAOK a meio-campo, jogada estudada e, em três toques, Maurício ficou isolado na cara de Vlachodimos e serviu Prijovic, que se limitou a encostar para a baliza deserta.

Estava feito o 1-0 para a equipa da casa, justificando a vantagem com a boa entrada em campo, numa altura em que o Benfica não conseguia sair a jogar. Mas também não precisava de o fazer: respondendo à bola parada dos gregos, Pizzi bateu um pontapé de canto com a medida certa para Jardel ganhar nas alturas e fuzilar Paschalakis, no primeiro remate encarnado enquadrado com a baliza.

O golo do Benfica desequilibrou a balança para o lado português. O nervosismo sentido nos vice-campeões nacionais mudou-se para a formação grega e não demorou a fazer efeito — o guardião Paschalakis tentou evitar a saída da bola, mas entregou-a a Cervi, que tentou fugir ao grego, mas acabou derrubado na grande área. Resultado: grande penalidade convertida por Salvio e estava feito o 2-1, ao segundo remate português enquadrado com a baliza. E o terceiro golo de bola parada no encontro.

Estava visto que, no Estádio Toumba, as oportunidades de golo eram poucas, mas surgiam de duas maneiras possíveis: bolas paradas ou erros individuais. Pelkas bateu o pontapé de livre para a área onde apareceu Léo Matos com um cabeceamento fulminante para defesa vistosa de Vlachodimos, minutos antes de ver o seu guardião voltar a ficar mal na fotografia e entregar a bola a Seferovic, que atirou para uma primeira intervenção, antes de voltar a tentar a sua sorte, por cima do alvo.

Mas faltava aparecer o goleador encarnado na presente temporada. À falta de golos dos avançados, Pizzi tem assumido as despesas ofensivas do Benfica e voltou a não deixar o crédito por mãos alheias. E naquela que foi a melhor jogada de bola corrida do encontro, com Grimaldo e Cervi a combinarem bem na ala esquerda, antes do argentino cruzar atrasado para a entrada do médio português, que recebeu no pé, olhou para a baliza e atirou a contar para o golo que colocava os comandados de Rui Vitória no caminho da Liga Milionária.

Ao intervalo, os encarnados podiam respirar de alívio depois de uma má entrada na partida e estavam com um pé na fase de grupos da Liga dos Campeões, já que precisavam de sofrer três golos para ficar de fora da principal prova europeia. Não era impossível, mas parecia difícil fazer descarrilar um Benfica com dois golos de vantagem.

Do susto à goleada foi uma questão de cinco minutos e nova grande penalidade para o Benfica. Jardel foi agarrado por Varela e, aos 50 minutos, Salvio voltou a enganar Paschalakis e assinou o 4-1. Por esta altura, os encarnados já tinham embarcado no comboio dos milhões; restava-lhes esperar que este chegasse ao destino. Por outras palavras, bastava gerir o encontro até que terminasse com o apuramento português.

Com uma hora de jogo, Rui Vitória tirou Salvio de campo e lançou Alfa Semedo, colocando-o ao lado de Fejsa e fechando os caminhos para a sua baliza.

Era o que o jogo precisava para seguir em ritmo de cruzeiro até ao final. Se o PAOK parecia conformado com a eliminação, o Benfica apresentava a sensação de dever cumprido e os minutos arrastavam-se no relógio de jogo.

Quando tudo já estava complicado para o PAOK, mais ficou com a expulsão de Léo Matos, que entrou duro sobre Cervi e foi mais cedo para os balneários. No fundo, fez o que todos os jogadores já queriam fazer há algum tempo, desde o quarto golo encarnado que sentenciou a partida.

O Benfica limitava-se a gerir a posse de bola, com tranquilidade, mas nem por isso os gregos corriam atrás dela. Se com onze a toalha já tinha sido atirada ao chão, com dez era caso para dizer que o PAOK ficava a ver passar comboios, milhões e um histórico acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, que ficaria pelo caminho com o apito final do alemão Felix Brych.

O Benfica voltou a faturar quatro golos fora de portas numa prova europeia, 14 anos depois, e marca presença na fase de grupos da Liga dos Campeões pela nona vez consecutiva, igualando um feito alcançado por Real Madrid e Barcelona. Afastado o nervosismo inicial, os encarnados tomaram conta da partida, gelaram o inferno de Toumba e avançaram para a Liga dos Campeões. Para já, a presença na fase de grupos vale aos cofres da Luz 43 milhões de euros — e novas oportunidades para declarações de amor de Bernardo Silva.