Rui Rio não queria fazer um discurso de rentrée — “para isso teria de ter feito um de sortie” — e demorou mais tempo a discursar do que seria de esperar numa festa popular como a festa do Pontal: 33 minutos e 40 segundos. Mas o que acabou por fazer em Fonte Filipe, Loulé, não foi muito diferente daquilo que se imagina ser um discurso de rentrée. Atacou o governo, que “não tem a vida facilitada até às eleições”, explicou-se aos militantes que porventura não compreendem o seu “estilo diferente do habitual”, e disse que “o PSD só não ganha se não quiser”. Mas a crítica mais dura foi para os seus opositores internos, que, diz, só o estão a atacar porque “querem ser alguém na política”, e estão à procura de um “lugarzinho” mas, no fim, só estão a dar mais força ao PS.

“Para quem percebe o fenómeno político, ao contrário do que muitos dizem, este governo não tem a vida tão facilitada assim até às eleições de 2019. Só terá se nós quisermos. Eu não posso aceitar que haja quem dentro do PSD esteja permanentemente, através das críticas internas, a tentar salvaguardar as vitórias do PS e a proteger o PS”, disse o líder do PSD durante o discurso do Pontal, a primeira intervenção política depois da muito criticada interrupção de um mês para férias.

Esta foi a vez em que Rui Rio mais endureceu o discurso, tanto contra os chamados críticos internos, como contra o governo. Mas sobretudo contra aqueles que, como ele, vestem de laranja. A esses, deixou uma garantia: “podem esperar sentados”, porque Rio sempre cumpriu os mandatos até ao fim, lembrando que deixou a câmara do Porto “no último segundo” do mandato, e é o que vai continuar a fazer. “Quem anda na política há tantos anos e tem uma carreira com esta marca, acreditem, e podem esperar sentados, vou cumprir o meu compromisso até ao último minuto, tal como sempre fiz na minha vida”, disse.

O ataque aos críticos que “não perdem um dia da semana, nem o domingo, para fazer críticas ao PSD” foram ferozes e muito aplaudidos. Rio disse que os seus opositores fazem críticas “táticas” e não “genuínas” apenas porque têm um “projeto pessoal” e “querem ser alguém na política”. Mas deixou claro que não é assim que, consigo, vão a algum lado. “Comigo é só com trabalho e com lealdade, não é com conspiração nem com intriga nos jornais”, disse.

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O governo de António Costa, ao contrário do que lhe apontam esses mesmos opositores, foi também um dos alvos preferenciais de Rio neste discurso de rentrée (que não é uma rentrée). Desde a forma como Costa se congratulou pelo “êxito” da operação de combate aos fogos em Monchique, que Rio diz que é “poucochinho” porque, apesar da poupança de vidas humanas, arderam 27 mil hectares quando havia “todos os meios à disposição”, à forma como “não investe no Serviço Nacional de Saúde”.

Temos o governo mais à esquerda de que há memória, um governo que enche a boca com o social mas, numa matéria tão importante como a saúde das pessoas, não só não resolve como agrava o problema”, disse, apontando nomeadamente o problema das listas de espera para cirurgia e consultas, como também o número de famílias que continuam sem médico de família.

Para o líder dos social-democratas, é “notório” que, com o passar do tempo, “cada vez mais portugueses se apercebem dos falhanços desta governação e das limitações desta solução política”, o que abre a porta para que o PSD possa percorrer um “caminho favorável”. Rio propôs-se mesmo a ganhar as três eleições que aí vêm, das europeias às legislativas passando pelas regionais da Madeira, mas admitiu que o ano que aí vem, com os desafios que lhe estão associados, é um ano “dificílimo”.