Jair Messias Bolsonaro preferia ter um filho morto num acidente de carro do que vê-lo gay, acompanhado por um qualquer “bigodudo”. Na opinião do candidato presidencial brasileiro, esfaqueado esta quinta-feira durante uma ação de campanha, os negros descendentes de escravos “não fazem nada” e não servem “nem para procriar”. Teve quatro filhos e, depois, uma filha – foi uma “fraquejada”, comentou o homem que, certo dia, se irritou com uma deputada do PT (de Lula e Dilma) e disse que nunca a violaria porque era “feia” e não “merecia”.
Ditadura errou ao “torturar e não matar”
Estas são algumas das frases e ideias mais polémicas do candidato presidencial, que se viu envolvido num ataque que, para a ex-presidente Dilma Rousseff, é um resultado direto do “incentivo ao ódio” que Bolsonaro sempre promoveu. Na votação do impeachment de Dilma Rousseff, Bolsonaro dedicou o seu voto ao coronel Brilhante Ustra, que era o líder do DOI-Codi, a polícia política da ditadura, que torturou Dilma.
Desde o final dos anos 90 que o deputado federal intervém na vida pública brasileira defendendo que o tempo da ditadura (1964-1985) foi uma época gloriosa na história do Brasil — foram “20 anos de ordem e progresso“, defendeu num artigo de opinião. O principal erro da ditadura no Brasil, “foi torturar e não matar”. No Chile, por exemplo, Augusto Pinochet matou mais de três mil pessoas mas “devia ter matado mais gente”, defendeu Bolsonaro. “Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso”, afirmou num programa de TV, em 1999.
Para o antigo militar, a democracia é uma “porcaria” e garantiu em 1999 que, se fosse presidente do país, “não havia a menor dúvida de que fecharia o Congresso. Daria o golpe no mesmo dia”. Foi também no final dos anos 90 que, no programa de Jô Soares, que explicou porque é que “deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso”: isso não é barbaridade, defendeu, “barbaridade é privatizar a Vale e as telecomunicações, entregar as nossas reservas petrolíferas ao capital externo”.
Em 1993, num perfil publicado no The New York Times, Bolsonaro defendeu que apenas o regresso de um regime militar conduziria a um Brasil mais “próspero e sustentável”.
Se um filho começa a ficar “meio gayzinho”, dá-se-lhe um “coro” para ensinar a ser homem
Sobre a homossexualidade, o candidato presidencial garantiu que “seria incapaz de amar” um filho seu, caso fosse homossexual. “Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”. Seja como for, Bolsonaro sempre se mostrou confiante de que não corria o “risco” de ter um filho gay: “meus filhos foram muito bem educados”.
E como é que se educa um filho “muito bem”, para que não se “torne” gay? É fácil: “o filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro e aí ele muda o comportamento dele. Tá certo? Já ouvi de alguns aqui, olha, ainda bem que levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem”, comentou Bolsonaro num programa de televisão em 2010.
Eu acredito em Deus. Sou católico (…). Eu já li a Bíblia inteirinha, com atenção. Levei uns sete anos para ler. Você tem bons exemplos ali.”
Bolsonaro nega ser homobófico — está, ao invés, a defender a palavra de Deus, garante. Diz que já teve a trabalhar consigo homens gays e que nunca houve problema desde que mantivessem o “respeito” e tivessem “comportamentos” em público que indiciassem homossexualidade — “aí eu mando embora“, garantiu.
“Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater”, disse, em 2002, numa entrevista sobre uma foto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ter posado em foto com a bandeira gay e defendido a união civil. A principal preocupação de Jair Messias Bolsonaro era que um casal de gays fossem viver para uma casa perto da sua: “Aí o preço da minha casa vai desvalorizar-se”.
Adoção por casais gay é que nem pensar. “90% desses meninos adotados vão ser homossexuais e vão ser garotos de programa, com toda certeza, desse casal”, afirmou noutro programa, de Danilo Gentily, em que se discutia a adoção por casais gays). Além disso, seriam crianças que iam crescer sem saber se gostavam mais da “mãe careca” ou da “mãe bigoduda”.
Os negros que “não fazem nada”, nem para “procriar servem”
Além de terem sido “muito bem educados” para não serem gays, os filhos de Bolsonaro também terão sido “bem educados” para não se apaixonarem por mulheres negras. À cantora Preta Gil, filha de Gilberto Gil, Bolsonaro respondeu o que faria se um dos seus filhos quisesse namorar ou casar com uma mulher negra, o que seria uma “promiscuidade”: “ô Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”. Foi em março de 2011.
Mais recentemente, em abril de 2017, foi a um “quilombola”, uma comunidade rural de descendentes de escravos “em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de um bilião de reais por ano é gastado com eles”, criticou.
Jair Bolsonaro chegou a ser condenado a pagar uma indemnização de 50 mil reais (10,5 mil euros, ao câmbio atual) por ofensas à população negra. Também pagou 150 mil reais por ofensas aos homossexuais.
“Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque é feia, não merece”
Na mesma palestra onde falou sobre o afrodescendente que pesava “sete arrobas”, Bolsonaro disse que teve quatro filhos mas que, ao quinto, saiu uma menina. “Fui com os meus três filhos, o outro foi também, foram quatro. Eu tenho o quinto também, o quinto eu dei uma fraquejada. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher“, disse, mais tarde garantindo que era uma “brincadeira”.
Além da indemnização por comentários racistas, seguiu, também, uma queixa para o Supremo Tribunal contra o deputado do PSL por incitação a crimes sexuais. Num confronto público com uma deputada do partido de Lula e Dilma, Maria do Rosário, Bolsonaro passou ao ataque: “fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias, tu me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui p’ra ouvir”.
Depois, tentou explicar melhor o que queria dizer com “merecer” ser violada: “Ela não merece (ser violada) porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu género, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar ela porque não merece”.
O deputado federal já defendeu que as mulheres devem receber salários menores porque engravidam. Bolsonaro é, também, contra a definição de quotas para homens e mulheres. “Não é questão de género. Tem que botar quem dê conta do recado. Se botar as mulheres vou ter que indicar quantos afrodescendentes”, afirmou numa entrevista em Pouso Alegre, quando lhe perguntaram se aumentaria o número de mulheres no governo, caso vencesse as eleições de outubro.