O secretário-geral do PCP inaugurou a 42ª Festa do Avante! com uma intervenção em que renovou a confiança na estratégia que o partido tem seguido desde o final de 2015, quando a “geringonça” foi criada. “Sabemos que a intervenção e os combates que travamos terão tanto mais êxito quanto mais os trabalhadores lutarem, partindo da justeza dos seus objetivos, dos seus anseios, de defesa e conquista de direitos, luta que não é delegável a quem quer que seja, mas que reclama compromisso das forças políticas. E esse compromisso o PCP assume-o”, garantiu.
E deixou uma pista para aquilo que entende ser o caminho do sucesso: “sempre que o Governo minoritário do PS se entendeu com a direita, e com a política da direita, perderam os trabalhadores, o povo e o país; mas sempre que convergiu com o PCP houve avanços, houve reposição e conquista de direitos”.
No entanto, Jerónimo de Sousa não desperdiçou a oportunidade de estar a falar para um público de apoiantes e deixou as primeiras farpas a PSD, CDS e PS. “Ouvir choros e lamentos do PSD e CDS face à situação nos serviços públicos é, como diz o nosso povo, atirar a pedra e esconder a mão”, afirmou. E acrescentou: “Não deixa de preocupar o facto de, neste quadro, numa questão tão relevante como é a legislação laboral, tenha acordado com PSD e CDS”. O Bloco de Esquerda foi mais uma vez ignorado num discurso também virado para o interior do PCP.
Em cima de um palco de madeira de baixa elevação, que mais parecia um palanque, Jerónimo de Sousa falou para uma plateia de efusivos apoiantes, sempre prontos a agitar as bandeiras da JCP e do PCP. Fizeram-no com vigor quando o secretário-geral comunista deixou o caderno de encargos para o último Orçamento de Estado desta legislatura. Aumentar “o salário mínimo nacional para 650 euros em janeiro de 2019”, “valorizar reformas e pensões”, “valorizar os abonos de família” e “baixar o IVA no preço da luz e da botija de gás”. Esta última é uma medida cuja autoria estão a tentar disputar com o BE.
Aliás, apesar do discurso afinado, houve nuances que fizeram lembrar aquele que Catarina Martins proferiu há menos de uma semana na rentrée do Bloco de Esquerda. A ideia que ambos parecem querer passar é a de que a solução de governação não é perfeita, mas que é a possível e permite, tanto a BE como a PCP influenciar a tomada de decisões. “Não perderemos nenhuma oportunidade para valorizar salários”, referiu Jerónimo de Sousa, deixando margem para futuros entendimentos.
Numa intervenção curta, de cerca de dez minutos, o deputado não se esqueceu da atualidade e respondeu com uma frase que não estava escrita no discurso à notícia do Jornal de Negócios — que dá conta de que a Festa do Avante causou um prejuízo de cerca de um milhão de euros nos últimos quatro anos. “Não é prejuízo: é investir no futuro da festa”, explicou, recebendo uma forte reação por parte dos presentes.
A Festa do Avante! começou esta sexta-feira e estende-se até domingo. Nesta edição, será dado especial destaque ao bicentenário de Karl Mark. Pelo festival vão passar artistas como os Xutos & Pontapés, Sérgio Godinho ou Jorge Palma, que encerra o festival. Jerónimo de Sousa volta a passar pelo recinto sábado e depois no domingo, dia em que fará o discurso mais importante da rentrée comunista.