O Ministério Público responsabiliza a Proteção Civil — nomeadamente os comandantes operacionais responsáveis pelo combate ao fogo — pelas mortes no incêndio de Pedrógão Grande do ano passado, escreve este sábado o semanário Expresso, que cita uma fonte judicial para afirmar que a acusação deverá ficar pronta nas próximas duas semanas.

Segundo o Expresso, a acusação conclui que houve falhas em toda a linha de atuação, desde a prevenção e limpeza daquela região, sobretudo junto aos cabos elétricos, ao combate. Ainda assim, dos 18 arguidos, nem todos serão acusados, acrescenta o jornal.

Em causa estão pelo menos 64 crimes de homicídio por negligência. Este número poderá chegar aos 66 se a acusação incluir também os casos de Alzira Costa (que morreu atropelada ao fugir das chamas) e de José Tomás (que viria a morrer mais de um mês depois do fogo, vítima de pneumonia).

Na mira da acusação estão, sobretudo, os três principais responsáveis operacionais pelo combate: o comandante do Centro Distrital de Operações de Socorro de Leiria, Mário Cerol, responsável por comandar as operações no terreno; António Arnaut, comandante dos bombeiros de Pedrógão Grande, e ainda Sérgio Gomes, comandante distrital que na altura do incêndio estava hospitalizado e que tentou comandar as operações através do telefone.

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No que toca ao combate, a acusação deverá afirmar que os erros começaram a ser cometidos desde o princípio, nomeadamente ao não terem sido pedidos de imediato dois meios aéreos — que só foram chamados numa altura em que o incêndio já tinha grandes dimensões — e ao não cortar a EN 236-1, onde morreram 47 pessoas. Segundo o Ministério Público, a estrada teria sido cortada caso os responsáveis pelo combate ao fogo tivessem pedido uma atualização da informação meteorológica para a zona da estrada.

Além disso, houve falhas na proteção das povoações, que deviam ter sido aconselhadas a não fugir sem rumo das suas casas que acabaram por não ser atingidas pelo fogo e, no geral, houve má gestão na mobilização dos meios de combate e de apoio às populações.

Os presidentes das câmaras de Figueiró dos Vinhos e de Castanheira de Pera e o vice-presidente da autarquia de Pedrógão Grande deverão também ser acusados no que diz respeito à negligente gestão de combustíveis, e a Ascendi, concessionária da autoestrada que passa ali, a A13, também verá dois dos seus funcionários entre os acusados uma vez que não cumpriu a obrigação de limpar a floresta em torno da via.

Dois funcionários da EDP, empresa responsável pela limpeza da mata debaixo dos cabos elétricos, deverão responder também perante o tribunal, uma vez que terá sido essa falta de limpeza junto aos cabos que fez com que o incêndio ganhasse grandes dimensões. A empresa não deverá ser visada porque a lei não o permite.