A antiga campeã de ténis e ativista Martina Navratilova escreveu um artigo para o The New York Times no qual critica Serena Williams e defende as penalizações aplicadas pelo árbitro Carlos Ramos durante a final do US Open, no sábado. Para Navratilova, é “discutível” o argumento usado por Williams de que, se fosse um homem, teria escapado às sanções. A tenista vai ter de pagar uma multa de 17 mil dólares (cerca de 14.700 euros) depois de ter recebido três advertências — por coaching (por receber instruções do treinador), por ter partido uma raqueta e por abuso de linguagem — durante a partida frente a Naomi Osaka, que saiu vencedora.

“Serena Williams tem parte da razão”, começou por dizer Martina Navratilova. “Há uma grande diferença de tratamento no que diz respeito à forma como o mau comportamento é punido em relação às mulheres — e não apenas no ténis. Mas, nos protestos contra o árbitro durante a final de sábado do US Open, ela também esteve, em parte, errada.” Para a antiga tenista, não é “boa ideia aplicar o critério de ‘se os homens escapam sem castigo, então as mulheres também deviam escapar'”. A questão que deve ser colocada é: “Qual é a melhor forma de honrar o nosso desporto e de respeitar os adversários?”.

Tenista Serena Williams multada em 17.000 dólares após insultos a árbitro português na final

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“A senhora Williams optou por discutir sobre o seguinte: insistiu que não fez batota, que não recebeu instruções do treinador e que, portanto, não devia ter sido penalizada. Mas não importa se ela sabia que estava a receber instruções ou não. Ela estava (…) e se ela sabia ou não, não é o importante. Portanto, naquela altura, ela recebeu um aviso, que podia depois ser anulado, e atirou a sua raqueta ao chão, uma violação automática. O senhor Ramos, efetivamente, não tinha outra opção que não retirar-lhe um ponto”, afirmou Navratilova, acrescentando que foi aqui que a tenista começou a perder a compostura. “Ela e o senhor Ramos começaram, de facto, a falar um por cima do outro. Ela insistia que não fez batota — completamente defensável, mas não era esse o ponto –, enquanto ele fazia um call sobre o qual, a determinada altura, foi muito pouco discreto.”

Para Navratilova, que ganhou 18 títulos do Grand Slam, é “difícil, e questionável, saber se a senhora Williams ter-se-ia safado de chamar ao árbitro ladrão se fosse um homem”. E essa nem é a questão principal: “Se os homens são tratados de maneira diferente nas mesmas transgressões, isso tem de ser examinado e corrigido. Não podemos agir de acordo com aquilo que achamos que nos vai safar. Na verdade, este é o tipo de comportamento que ninguém devia ter no campo”, afirmou a ex-tenista, admitindo que houve “muitas vezes” em que quis partir a sua raqueta — tal como Williams fez no sábado. “Depois pensei nas crianças que estavam a assistir. E agarrei-me àquela raqueta de má vontade.”

Billie Jean King sai em defesa da tenista: “Obrigada, Serena Williams”

O artigo de opinião de Martina Navratilova é o comentário mais recente num debate iniciado pouco tempo depois de Serena Williams ter perdido o US Open frente à japonesa Naomi Osaka. Depois do final da partida, a ex-campeã Billie Jean King usou o Twitter para dar os parabéns a Osaka, cuja vitória descreveu como “o início de um futuro brilhante”, e para agradecer a Williams por ter chamado a atenção para “esta diferença de tratamento”. “Quando uma mulher fica emotiva, fica ‘histérica’ e é penalizada por isso. Quando um homem faz o mesmo, não tem rodeios e não existem repercussões”, escreveu a ex-tenista, que defendeu ainda que coaching (receber instruções do treinador), uma das razões pelas quais Williams foi penalizada, devia ser permitido. “Obrigada, Serena Williams.”

Billie Jean King voltou a defender a mesma posição num artigo de opinião publicado no The Washington Post no domingo. Serena Williams “teve razão ao dizer o que pensava, ao dar uma voz à injustiça, e teve razão quando soube pedir para que se acabasse com a controvérsia”, escreveu a antiga campeã de ténis, admitindo entender porque é que Williams “fez o que fez”. “E espero que todas as raparigas e mulheres que assistiram à partida de ontem tenham percebido que devem sempre manter a sua posição e que o que fazem está certo. Nada irá mudar se não o fizerem”, disse ainda. Relativamente ao comportamento do árbitro Carlos Ramos, King defendeu que este “pisou a linha” ao se “envolver” no jogo. “O trabalho de um árbitro é controlar a partida, e ele deixou que esta se descontrolasse”.

A Women’s Tennis Association, fundada por Billie Jean King em 1973, também se pôs do lado de Williams. Cerca de 24 horas depois, emitiu um comunicado no qual afirmou que “não deve haver diferença nos padrões de tolerância proporcionados às emoções expressas por homens e mulheres e estamos comprometidos em trabalhar com o desporto para garantir que não haja discriminação, admitindo que irá trabalhar sempre no sentido de “assegurar que todos os jogadores são tratados da mesma forma”. “Não acreditamos que isso tenha sido feito esta noite”, referia a mesma nota, assinada pelo diretor-geral do organismo, Steve Simon.

O campeão masculino, o sérvio Novak Djokovic, igualmente castigado no passado pelo juiz luso, afirmou não concordar com a posição de Steve Simon, admitindo, no entanto, que o castigo aplicado a Serena Williams não devia ter sido tão duro. “Podia ter sido diferente, mas não mudou o rumo da partida. Na minha opinião, talvez tenha sido desnecessário. Todos temos as nossas emoções, principalmente quanto lutamos por um título do Grand Slam”, disse, acrescentando: “Não vejo as coisas da mesma forma que o senhor [Steve] Simon, realmente não. Acho que homens e mulheres são tratados desta ou daquela forma dependendo da situação. É difícil generalizar as coisas, realmente. Acho que não é necessário haver este debate”.