Pedro Duarte lança este sábado o “Manifesto X”. Uma iniciativa que tem um único objetivo: “criar um programa alternativo para o país”, garante ao Observador. O social-democrata assegura que não se trata de uma forma de organizar a oposição interna a Rui Rio. “Não é de maneira nenhuma uma forma de conspiração”, diz. E para que não restem dúvidas estabelece uma condição para integrar o manifesto: “militante do PSD não entra”.
Há cerca de um mês e meio, Pedro Duarte afirmou, em entrevista ao Expresso, que está disposto a avançar contra Rui Rio para liderar o PSD. Muito crítico do atual líder e do caminho que a direção do partido tem seguido, o social-democrata anunciou sem tabus a sua intenção de liderar uma alternativa. Este contexto pode suscitar dúvidas quanto à verdadeira natureza do manifesto que lança este sábado, mas o ex-governante não se mostra beliscado por essa análise. “Pretendo fazer isto pela positiva e por fora. É apenas isto. A partir daqui, cada um que faça a análise que entender”.
No entanto, não recusa a ideia de que esta iniciativa pode vir a ser útil para solidificar uma futura candidatura à liderança do PSD. “Claro que pode ser uma boa fonte de inspiração quando se concretizar a candidatura”, vaticina. “Mas não se trata de um projeto pessoal”, esclarece.
O manifesto pretende reunir sobretudo pessoas “independentes que nunca tiveram qualquer tipo de intervenção política em partidos” e colocá-las a debater as diferentes áreas de governação. O objetivo final é o de criar um programa alternativo de governo, que “pense no País”. Os amigos do PSD com quem Pedro Duarte foi falando “reagiram de forma positiva” à iniciativa, adianta ainda.
Para o efeito, escolheu dez relatores. Cada um destinado a coordenar uma dessas áreas. O académico Nuno Garoupa, professor na Universidade de Washington e ex-presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, será o responsável pela pasta da Justiça. Já Francisco Ramos, que dirige o movimento “Porto, Nosso Movimento” – de Rui Moreira – e administrador do Grupo Auto Sueco, será o responsável pelo Território.
Mas também há, entre os dez relatores já confirmados, “dois millenials” – Hugo Carvalho, presidente do Conselho Nacional de Juventude, que será responsável pela área da Inovação; e Inês Ramalho, jurista que integrou a Estrutura de Acompanhamento dos Memorandos da Troika. “Houve a preocupação de diversificar também na idade das pessoas que vão participar na elaboração do manifesto”, explicou o ex-presidente da Juventude Social-Democrata.
Por princípio, qualquer pessoa pode integrar esta iniciativa e participar na elaboração do programa. “O objetivo é que seja um movimento aberto a todos”. Até aos de esquerda, embora os dez pilares que o manifesto apresenta como “balizas de atuação” possam fazer com que haja pessoas que à partida não se identifiquem e não queiram participar. “Temos pilares básicos como a democracia com que todos concordarão mas outros que excluirão à partida pessoas que se identifiquem mais com o Bloco de Esquerda ou com o PCP“, sublinha.
Veja-se por exemplo o que diz o documento onde estão inscritos os dez pilares sobre cooperação – “o Manifesto (…) rejeita a noção
de trabalho contra capital e de proletariado contra o que quer que seja” – ou sobre mercados – “o Manifesto não é contra um sistema capitalista“.
Pedro Duarte pretende organizar uma série de sessões de debate e discussão para que o documento final “seja o mais completo possível”. A primeira deve acontecer já no dia 5 de outubro com direito a transmissão online. O resto do calendário não está fechado, “até porque podem vir a incluir-se sugestões de pessoas que venham a juntar-se ao manifesto”.
O social-democrata já escolheu três conferencistas para participarem nestas sessões. O nome mais sonante até ao momento é o de Manuel Ramalho Eanes, filho do ex-Presidente da República, que irá falar sobre “A Nova Organização do Estado”.
O surgimento do “Manifesto X” acontece numa semana particularmente turbulenta no seio do PSD. Além de se tratar da semana em que Pedro Santana Lopes entregou as assinaturas para formalizar o Aliança no Tribunal Constitucional, foi a mesma semana em que a direção do partido pediu a todas as distritais que assinassem um acordo escrito de apoio “inequívoco” a Rui Rio, tendo recebido uma nega da parte do PSD-Lisboa, liderado por Pedro Pinto, que se recusou a assinar esta espécie de moção de confiança interna. Para culminar, ficou a saber-se nesta sexta-feira que o ex-ministro Martins da Cruz abandonou o partido por não concordar com o rumo seguido pela nova direção social-democrata.