Todos os anos, em janeiro, Las Vegas recebe cerca de 180 mil pessoas no evento que em 2018 até levou robôs strippers à cidade do pecado. Chama-se CES (Consumer Electronic Show) e é a maior feira internacional de tecnologia do mundo. É lá que a indústria tecnológica revela o que os consumidores vão querer comprar em cada ano. Em antecipação da edição de 2019, esta quarta-feira passou por Paris uma ‘mini-CES’ com drones submarinos, meias inteligentes para bebés e a opinião de que “a proteção de dados é um problema de primeiro mundo”.
A CES Unveiled Paris destaca o espírito de inovação que alimenta o dinâmico mercado tecnológico europeu”, explicou Karen Chupka, vice-presidente da Consumer Tecnology Association (CTA), organizadora da CES.
CES 2018. A maior feira de tecnologia do mundo em sete novidades
Pela primeira vez desde 2013, a CES Unveiled Paris juntou-se ao Mondial Paris Motor Show, uma exposição bienal de automóveis que é das maiores da Europa. A parceria foi uma “oportunidade” para expandir o alcance de evento, explicou ao Observador Gary Shapiro, presidente da CTA. “Estes eventos estão feitos para dar um pequeno vislumbre [unveiled, em inglês] do que é a CES em Las Vegas”, afirmou o executivo. Contudo, o objetivo continua a ser o mesmo da edição principal: “juntar empresas inovadoras com outras empresas inovadoras para fazerem negócios” e mostrarem os seus produtos.
Sendo em Paris, a abertura desta CES em ponto pequeno coube a Valérie Pecresse, presidente da região de Paris. A política falou da vontade europeia de se investir no mercado tecnológico e deixou a promessa: “Brevemente teremos novos unicórnios no mercado da União Europeia”. Por coincidência, no mesmo dia, o mundo viu nascer o terceiro unicórnio com ADN português — empresa com valorização superior a mil milhões de dólares — a Talkdesk. À semelhança da Startup Portugal na CES 2018, Pecresse também motivou que startups francesas estivessem em Las Vegas, o que valeu um reconhecimento direto de Shapiro após ter finalizado o discurso de abertura.
Antes de o pavilhão com gadgets e novidades das empresas abrir portas, a sessão de abertura da edição de 2018 deste Unveiled ainda teve dois painéis de discussão. A palco subiram nomes como Pascal Cagni, antigo vice-presidente da Apple Europa, Médio Oriente, Índia e África, Guillaume Borie, chefe de inovação da Axa, Isabelle Falque-Pierrotin, presidente da comissão de proteção de dados francesa e uma das pessoas por detrás do RGPD — regulamento geral sobre a proteção de dados –, e Suju Rajan, vice-presidente da Criteo, um dos unicórnios franceses.
Nos painéis discutiu-se “como promover a inovação” e “como conciliar a inovação com segurança”. Apesar de a discussão ser em inglês, os convidados eram todos franceses e alguns dos consensos alcançados na discussão são ouvidos, por vezes, em Portugal: “Não temos [França] cultura de segunda oportunidade. Na política há segunda, terceira, quarta chance. Mas nos negócios não”, como afirmou Christophe Bechu, presidente da câmara de Angers, outro dos convidados.
A “cultura do risco” para promover a inovação pode estar a mudar em França e gerou consensos na discussão, mas foi no último painel, sobre a conciliação da inovação com segurança, que a legislação europeia mostrou que os convidados estavam em desacordo com Gary Shapiro. “A primeira medida do RGPD é criar um mercado único digital na Europa que põe o humano no centro”, afirmou Pierrotin. Já Shapiro, o único americano em palco, discordou e afirmou sem rodeios que “a proteção de dados é um problema de primeiro mundo” e legislação como o RGPD é um entrave à inovação.
Depois de fechada a sessão inicial, durante a tarde, após se saber o que esperar para a edição da CES em 2019, foi a vez de as empresas europeias, maioritariamente francesas, mostrarem os seus produtos.
Um drone submarino e uma meia inteligente. A CES Paris em 19 imagens
O vai a CES trazer em 2019?
Em 2018, já houve óculos inteligentes e um portátil que é um smartphone, mas a poucos meses do próximo grande evento que junta mais de duas mil empresas tecnológicas em Las Vegas, houve uma pré-apresentação do que a CES vai mostrar em 2019. A primeira grande novidade foi quanto aos oradores principais da CES 2019: Lisa Su, presidente executiva da AMD (a concorrente direta da Intel), vai juntar-se a Ginni Rometty, presidente executiva da IBM. A seguir, falou-se das próximas tendências tecnológicas.
Em 2000 estávamos na Era digital, em 2010 entrámos na Era conectada e,em 2020, vem a Era dos Dados”, explicou Steve Koening, vice-presidente da CTA.
É na preparação da “Era dos Dados” que a próxima CES se vai focar, como de costume, nos produtos do futuro. Computadores por voz, robótica, 5G, Inteligência Artificial são os “ingredientes” para as empresas irem apresentar novas assistentes digitais, carros autónomos, saúde digital e novas forma de utilizar realidade virtual e aumentada.
Estas tecnologias, como as ligações 5G que vão substituir o 4G, ainda não estão implementadas a 100%, mas vão ser a norma e já há produtos a serem criados para elas, explicou Koening. A aposta na “Internet das Coisas” (integração de produtos com a rede), vai continuar a ser a tendência em novos produtos e anunciou que em 2019 a feira vai um foco na saúde e tecnologia. Na próxima CES vamos poder ver desde novas formas de médicos realizarem teleconsultas a wearables — tecnologia que se veste — que dizem o nosso estado de saúde sem exames em hospitais.
Quanto à inteligência artificial, sem antecipar nenhum produto, Koening falou do que o mercado tem visto: uma integração cada vez maior desta tecnologia nestes produtos. Por fim, a última novidade. Na próxima CES, as empresas vão ser desafiadas a mostrarem tecnologia focada no turismo e para cenários de catástrofe, aumentado o espectro das novidades que todos os anos são anunciadas nesta feira.
*O jornalista esteve no CES Unveiled Paris a convite da Consumer Technology Association, organizadora da CES