A soprano Montserrat Caballé morreu na madrugada de hoje, aos 85 anos, no Hospital de Sant Pau de Barcelona, informaram fontes hospitalares citadas pela Efe e pela AFP. A soprano, cuja saúde estava fragilizada há vários anos, encontrava-se internada desde o mês passado. “Ela morreu durante a noite no hospital de Sant Pau”, disse à AFP uma fonte neste hospital em Barcelona.

Retirada há vários anos devido a problemas de saúde, Montserrat Caballé, que já havia sofrido um derrame, foi hospitalizada em meados de setembro, devido a um problema na bexiga, segundo os meios de comunicação social espanhóis.

O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, considerou no ‘Twitter’ que a morte da cantora lírica é uma “triste notícia”, realçando que Caballé era uma “grande embaixadora” de Espanha, uma soprano “reconhecida internacionalmente”. “Montserrat Caballé, a sua voz e doçura estarão sempre connosco”, acrescentou.

Nascida a 12 de abril de 1933 em Barcelona, numa família modesta, Maria de Montserrat Caballé Viviana Concepción i Folch entrou para o “Conservatori Superior de Música del Liceu”, em Barcelona, aos 11 anos, e debutou na Ópera de Bâle em 1956, com “La Boheme”, de Giacomo Puccini. A catalã – cuja arte de “pianissimo” era lendária, tal como a sua potência vocal – cantava tão bem Rossini, Bellini e Donizetti como Mozart ou Dvorak.

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A 7 de janeiro de 1962, após dois anos em Bremen (Alemanha), Montserrat Caballé finalmente juntou-se à Ópera de Barcelona, o Gran Teatre del Liceu, e foi o início de uma longa história de amor entre a cantora e o seu público.

A sua carreira atingiu dimensão internacional em 1965, quando substituiu outra soprano no papel de Lucrezia Borgia, no Carnegie Hall em Nova Iorque. A performance foi tão elogiada que, como escreve o El País, o New York Times descreveu a sua voz como uma combinação de Maria Callas e Renata Tebaldi.

Caballé fez então várias ’tournées’ de sucesso no mundo, muitas vezes com a sua amiga, a cantora Marilyn Horne, e triunfou em 1972 no La Scala, em Milão, na “Norma” de Bellini. Desde então, deu mais de quatro mil espetáculos e partilhou o palco com os grandes tenores como Luciano Pavarotti, José Carreras ou Plácido Domingo. Tornou-se mais conhecida do grande público após o lançamento do tema “Barcelona”, cantado em dueto com Freddy Mercury, a propósito dos Jogos Olímpicos de 1992.

A partir de 1992, os seus problemas de saúde forçaram-na a reduzir a sua presença no palco. Regressou em 5 de janeiro de 2002 ao Gran Teatre del Liceu, para assinalar o 40º aniversário de sua primeira aparição, o que lhe rendeu uma ovação de mais de dez minutos. Para assinalar os 50 anos da sua carreira, regressou a 3 de janeiro de 2012 à Ópera de Barcelona para “Outra Noite de Montserrat Caballé”.

A cantora teve a sua filha Montserrat Martí a 15 de novembro de 1972, na sequência do casamento com o tenor espanhol Bernabé Martí, em 1964. Às vezes cantava com a sua filha, também ela uma soprano.

Montserrat Caballé teve problemas com as autoridades fiscais espanholas nos últimos anos, tendo sido sentenciada, em dezembro de 2015, a seis meses de prisão, que não cumpriu, e a uma multa de 250.000 euros por evasão fiscal.

O funeral da artista vai acontecer na segunda-feira, às 12:00, no cemitério de Barcelona.

Plácido Domingo diz que foi “um privilégio” cantar a soprano

O tenor Plácido Domingo afirmou que partilhar os palcos com a soprano Montserrat Caballé, falecida em Barcelona aos 85 anos, foi “um privilégio” pela sua “incrível” voz e talento.

“Minha querida Montserrat, que impressionante vida e carreira tiveste. Obrigada pela tua voz incrível, o teu talento. Descansa em paz. Deus chamou outro anjo para o seu reino”, escreveu o artista na sua conta pessoal da rede social Twitter.

João Pereira Bastos lamenta morte de “uma das maiores sopranos de sempre”

Numa reação à morte de Montserrat Caballé, o antigo diretor do Teatro Nacional de S. Carlos João Pereira Bastos considerou-a “um autêntico pináculo do canto lírico do século XX”.

Para João Pereira Bastos, que também foi diretor da Antena 2, a soprano Montserrat Caballé está ao nível de outras “divas” do século XX como Gina Sinha, Zinca Milanov, Maria Callas, Giulietta Simionato, Fiorenza Cossoto, a Tebaldi, Mirella Freni e Joan Sutterland.

É uma perda muito grande, sustentou o antigo diretor do Festival de Macau, considerando que atualmente há “canto a rodos” e “cantores do melhor que há” mas que “não têm a personalidade nem o recorte específico que estas grandes divas do século XX tinham”.

Para João Pereira Bastos, Montserrat Caballé “era uma das maiores sopranos de sempre da história da música do século XX” e tinha “uma voz de soprano lírico com algumas características invulgares, sobretudo ao nível do ‘apianar’ de notas agudas (…) muito vizinhas do dó de peito que um cantor daquelas características não produz”.

Monserrat Caballé, afirmou, “apianava ao nível de não se ouvir uma mosca na sala, como se diz, porque era de uma perfeição tal que era estranho uma voz tão forte ter esse tipo de características”.

“Caballé pertence a uma época em que havia quatro, cinco, seis cantores fantásticos e depois havia uma plêiade de cantores bons mas já de uma segunda linha de luxo, mas era uma segunda linha”, mencionou ainda.