João Ribas reiterou que apresentou a demissão do cargo de diretor artístico do Museu de Serralves, no Porto, porque a exposição do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, de que foi curador, foi alvo de censura por parte do conselho de administração da fundação que gere o organismo. “Demiti-me porque não podia tolerar a censura no Museu de Serralves, uma das mais importantes instituições de arte contemporânea da Europa”, afirmou no Parlamento, onde foi ouvido esta terça-feira. Do outro lado, a administração, ouvida depois de Ribas pela comissão de Cultura, garantiu que não houve censura nenhuma e que o comportamento do ex-diretor tem sido estranho e contraditório. No final da audição, pouco se adiantou em relação ao assunto, permanecendo no ar as mesmas questões que, ao que parece, continuarão sem resposta.
O antigo diretor do museu foi chamado esta terça-feira à comissão parlamentar de Cultura, Comunicação e Desporto na sequência dos requerimentos apresentados pelos grupos parlamentares do PS e do Bloco de Esquerda sobre a sua demissão do cargo de diretor artístico do Museu de Serralves no final do mês de setembro. João Ribas apresentou a sua demissão no passado dia 21 de setembro por considerar que “já não tinha condições para continuar à frente da instituição” depois da polémica em torno da proibição da entrada de menores de 18 anos numa parte da exposição do fotógrafo Robert Mapplethorpe, a primeira dedicada ao norte-americano em Portugal, por parte da administração, por conter obras com conteúdo sexualmente explícito.
Durante a cerca de duas horas que durou a audição, o diretor demissionário garantiu em diversos momentos que foi alvo de pressões e que a exposição de que foi curador foi censurada, sem porém dizer em momento algum qual a fonte da censura e das ingerências que acabaram por ditar várias alterações na mostra a dias da sua abertura ao público, nomeadamente no acesso à mesma e na alegada retirada de duas fotografias a apenas uma hora da inauguração. Questionado pelo deputado do Bloco de Esquerda Jorge Campos sobre o porquê de se ter demitido um dia depois disso, João Ribas explicou que, perante a intervenção da administração, decidiu “não compactuar” com aquilo que considerou “atos de censura”. “A liberdade de criação artística é um valor que acho fundamental e que deve ser defendido”, afirmou.
Admitindo que “a proposta da exposição” foi inicialmente “recebida de uma forma muito entusiasta pela administração”, com a qual trabalhou durante ano e meio e que considera ter sido “um sucesso”, Ribas salientou que “é rigorosamente verdade que houve” interferências “na semana de montagem, que começou no dia 15 de setembro”. Na segunda-feira, dia 17 de setembro, o diretor demissionário relatou que foi chamado “pela comissão executiva para construir um muro para separar partes da sala” e para fazer alterações na mostra. No dia seguinte, 18 de setembro, foi obrigado a “refazer parte da exposição” e a 19 de setembro, altura em que chegaram os representantes norte-americanos da Fundação Mapplethorpe, “a palavra ‘cancelada’ foi proferida”. João Ribas admitiu ter seguido as alegadas indicações do conselho de administração precisamente porque havia este “risco de cancelamento”, que, para o ex-diretor, seria “um mal maior”.
Na data da abertura da exposição, 20 de setembro, uma hora antes da conferência de imprensa, terão sido retiradas duas obras, Larry (1979) e Dennis Speight (1980), o que o ex-diretor considerou como “atos de censura”. De acordo com João Ribas, este foi um processo “a que várias pessoas assistiram” e que foi inclusivamente filmado pelas câmaras de vigilância. Estas fotografias não estavam no interior da sala restrita a menores de 18 anos e não tinham o mesmo teor de “sexo explícito” que as obras aí expostas. “Sempre segui os princípios do bom senso”, frisou.
Perante as questões da deputada comunista Ana Mesquita sobre o porquê de ter decidido manter o silêncio perante a interferência do conselho de administração apenas uma hora antes da abertura ao público da exposição do fotógrafo norte-americano, Ribas explicou que estava numa situação em que tinha de se “conter” para “evitar um mal maior”. “Seria para mim um mal maior se a exposição não estivesse disponível de nenhuma forma. O cancelamento da exposição estava em causa. Para mim, o importante era fechar o trabalho, acabar de melhor forma possível, contornar, não compactuar e depois tomar esta decisão [de apresentar a demissã0] depois de refletir”, salientou.
O importante era a exposição abrir. Tentei fazer o melhor que pude para contornar estas ingerências, que foram a gota de agua naquilo que considero uma pressão intolerável que quebra todos os princípios fundamentais de uma instituição cultural.”
Quem falou em cancelamento? João Ribas não quis dizer
À socialista Carla Sousa, que integra a comissão parlamentar de Cultura, Comunicação e Desporto, o antigo diretor do museu não quis dizer quem usou a palavra “cancelamento” numa reunião, na véspera da inauguração da exposição. Disse apenas: “Não foi usada por mim e também não foi usada por um elemento do conselho de administração”.
João Ribas revelou ainda que se tivesse cedido à relocalização das duas obras Larry e Dennis Speight “não teria havido necessidade de retirar duas obras uma hora antes da conferência de imprensa”. Para o antigo diretor de Serralves, “a relocalização [proposta pela administração] para as obras nunca foi para um sítio adequado para serem expostas. Houve sempre uma tentativa de mexer: quatro saem daqui e vão para acolá, etc. Posso dizer que na noite anterior estive até às 4h a montar a exposição”, queixou-se, a propósito das interferências sobre os locais de apresentação das obras por si escolhidas.
Questionado pelo deputado do Partido Socialista José Magalhães, o antigo diretor de Serralves referiu que apenas estas duas obras foram retiradas por interferência do conselho da administração da fundação e as restantes por opção sua: “As outras resultaram de um processo de reestruturação e relocalização da própria exposição”. Ribas deu a entender que essa reestruturação e retirada de 18 obras foi necessária como resposta à primeira ingerência da administração: “Costumo dizer que, num texto, se se tira uma frase ou um parágrafo de uma página, tem de se retirar ou reestruturar o parágrafo anterior”, apontou. Das 171 fotografias adquiridas pela Fundação Serralves para a exposição, apenas 161 foram expostas.
Relativamente aos critérios do conselho de administração para impedir a exibição de duas obras foram “aleatórios. Nunca os percebi”, referiu. Ribas sublinhou que “há padrões estabelecidos no museu para sinalética”. A primeira versão que propôs da exposição incluía, referiu, “uma sinalética a avisar dos conteúdos explícitos”, usada como regra “na entrada da sala”. “É o que usamos sempre, com algumas variações, referindo que há conteúdos gráficos, explícitos ou sensíveis” e que se aconselha a visita a menores de 18 anos apenas acompanhados por um adulto.
“Uma sala interdita a menores de 18 anos para mim é inédito. O próprio Governo, por exemplo, no cinema, decide não aplicar proibição. Temos responsabilidade de informar, mas é importante dar ao visitante a liberdade de escolher ser confrontado com o que quiser, avisando que há conteúdos adequados a adultos ou menores de 18 anos acompanhado por um adulto”, referiu, afirmando mais à frente que o que gostaria de ver era “um museu aberto para todos”. “Um jovem de 15 anos, que tem acesso a tudo na Internet, e às vezes a coisas piores, não podia entrar acompanhado pelo pai para ver uma exposição de um fotógrafo conceituado”.
“Quanto à sinalética, deve haver e deve haver um assistente de sala. A intervenção de uma pessoa também é importante, de um assistente de sala que avise sobre os conteúdos. Serralves tem uma equipa que faz essas intervenções, que tem formação para o fazer. A sinalética existe para gerir a sensibilidade [dos visitantes], para chamar a atenção, mas a escolha [de visitar] deve ser das pessoas”, apontou.
“Uma hora antes da conferência de imprensa? É inadmissível e intolerável”
A deputada do CDS-PP, Teresa Caeiro, defendeu “não ver nenhum ato de censura” da administração da fundação de Serralves neste processo. Assumindo-se “liberal” e portanto alguém para quem “a liberdade individual é um valor intocável” e “a censura um ato de violência gravíssimo”, a deputada centrista sublinhou que a exposição continha “peças não indicadas para menores” e que fazia sentido o aviso de sala reservada a maiores de 18 anos ou menores acompanhados pelos pais. Reservada ou interdita? A questão ficou sem resposta.
Em resposta, o antigo diretor do museu afirmou que há uma diferença entre os avisos habitualmente colocados, que recomendam a visita a núcleos mais sensíveis apenas por adultos ou menores de 18 anos acompanhados pelos pais, e a proibição “inédita nas práticas museológicas” e “não defendida sequer pelas entidades do governo”: “O que aconteceu e acontece sempre no museu é que há um aviso sensato na entrada ou na introdução a esses conteúdos que dá a escolha ao visitante de participar ou não. É um aviso que alerta para os conteúdos. Neste caso houve duas ou três alterações a esse aviso”. Mais tarde, a administração negou, referindo que houve apenas “uma alteração”. Ribas prosseguiu: “o [aviso de proibição de acesso] que estava no dia da conferência de imprensa, o que foi lá colocado na manhã da exposição, não faz sentido na prática de qualquer museu”, apontou João Ribas.
Um assunto totalmente distinto do aviso de acesso a certos núcleos da exposição é a alegada retirada de obras, decisão unilateral que imputa à administração da fundação e que faz com que este se trate, efetivamente e na sua opinião, de um caso de censura: “Em bom latim censura é condenação ou reprovação de certas obras artísticas. Neste caso houve reprovação de duas obras, retiradas uma hora antes da conferência de imprensa e que não foi permitido serem expostas. São obras que não se permitiu que pudessem ser vistas pelo público — considero isso censura”.
A administração da fundação de Serralves recusou sempre, até aqui, ter impossibilitado o seu diretor artístico de exibir obras do fotógrafo Robert Mapplethorpe da exposição.
“Não há nem houve censura” em Serralves, reafirma administração
O Conselho de Administração — composto pela presidente Ana Pinho, os vice-presidentes Manuel Cavaleiro Brandão, Manuel Ferreira da Silva e Isabel Pires de Lima, e os administradores Vera Pires Coelho, Carlos Moreira da Silva, António Pires de Lima e José Pacheco Pereira — foi também ouvido durante a tarde desta terça-feira na comissão de Cultura, a partir das 16h.
Ana Pinho, que falou em representação da restante administração, começou por garantir que “não há nem houve censura” em Serralves e que as acusações feitas pelo ex-diretor artístico do museu “não têm fundamento”. “Serralves faz um grande serviço público”, garantiu a presidente, que se apresentou na comissão parlamentar com uma primeira declaração, que leu em voz alta. Defendendo que “o conselho de administração não fez nada de repreensível, nem face ao diretor do museu, nem face ao curador da exposição” (Ribas acumulou as duas funções nesta exposição), garantiu que a exposição “vai mais longe do que muitas de outras museus que evitam algumas fotografias que estão expostas” em Serralves, Ana Pinho afirmou que “é um insulto” serem chamados de censores e que a atitude de Ribas “revelou imaturidade e inequívoca deslealdade. Disse aos jornais o que não disse à administração e disse à administração o que não disse aos jornais”.
Por iniciativa do diretor do museu, foi decidido que deveria haver uma área reservada na obra de Mapplethorpe. Esse entendimento é rompido numa entrevista à imprensa a seis dias da inauguração. Disse: ‘Não haverá resguardo, salas especiais ou qualquer tipo de restrições a visitantes’.”
Ana Pinho referiu que a mudança de opinião do antigo diretor e curador, entre o que disse à administração e o que referiu ao jornal Público seis dias antes da inauguração da exposição, “houve uma alteração que viola a sua própria proposta e compromissos assumidos. Há suporte documental que prova isto“. Serralves, apontou Ana Pinho, está disponível para “patrocinar o debate” sobre o acesso de crianças e menores a imagens ou conteúdos sensíveis e explícitos. “Mas isso é diferente da discussão sobre censura, que não existiu”.
“Cancelamento? Não sei a que se refere”
Questionada pela deputada socialista acerca das ameaça de cancelamento da exposição referidas por João Ribas na sua audição, a presidente do conselho de administração mostrou-se surpreendida, dizendo: “Cancelamento? Não sei a que se refere”.
Ana Pinho disse ainda: “Reafirmamos quantas vezes forem necessárias: não houve censura e houve uma total contradição o que estava combinado e o que foi publicamente manifestado num jornal. A partir daí o conselho de administração teve de perguntar o que é que se estava a passar e garantir que o que estava combinado era feito”.
Temos recebido emails, mensagens e cartas de pessoas que estiveram na pré-inauguração e que dizem que não conseguem perceber como é que uma pessoa explica a exposição daquela forma apaixonada, explica a área reservada e 24 horas depois” demite-se, referiu ainda Ana Pinho.
A presidente da Fundação de Serralves lamentou ainda que tenham sido pagas 20 obras que não foram utilizadas na exposição dedicada ao fotógrafo norte-americano, todas excluídas, apontou, “por iniciativa do diretor”. Relativamente à questão colocada pela socialista Carla Sousa sobre se já existiam problemas com o diretor demissionário, Isabel Pires de Lima afirmou categoricamente que “nunca houve tensão entre o senhor João Ribas e a administração de Serralves, nem com esta nem com a anterior”.
Foi por isso com alguma surpresa que Ana Pinho recebeu a 21 de setembro uma mensagem de João Ribas a dizer que “ia mandar um email”, no qual apresentou a sua demissão. “E nunca mais voltou”, acrescentando que “não deu nenhum esclarecimento à equipa”. “Pareceu-nos a pessoa indicada para dirigir Serralves, mas não foi assim. Saiu abruptamente”, lamentou a presidente.
Administração admite que primeiro aviso estava errado
Ana Pinho, presidente da fundação de Serralves, confirmou na Assembleia da República que o primeiro aviso colocado na exposição, que proibia o acesso de menores de idade a uma das salas da exposição, estava errado: “Houve um pedido para que se colocasse o aviso legalmente aplicável. Foi-nos dito pelos serviços que era aquele aviso, mas somos responsáveis pelo que se passa. Verificou-se que de facto a legislação [que legitimava o aviso] não era diretamente aplicável. Logo que soubemos disso” foi alterado, referiu, acrescentando ainda: “O desejo sempre foi que os cidadãos acedam à exposição de forma livre e que cada um veja o que quer ver. A nossa vontade corresponde ao aviso que está colocado desde domingo. Foi logo alterado”.
Pacheco Pereira, por sua vez, afirmou que “o próprio João Ribas propôs um aviso, e isso está escrito, que impedia o acesso de menores que não fossem acompanhados por adultos. Foi o que nós fizemos. Temos um desenho anterior a todos estes conflitos com a célebre sala escondida, com uma proposta de sala reservada. (…) Não temos nenhum filme de segurança.”
Carla Sousa, do PS, questionou a presidente do conselho de administração da Fundação Serralves sobre as alegadas ingerências nos dias anteriores à abertura da exposição. Em resposta, Ana Pinho disse que João Ribas teve uma postura contraditória, que levou a uma perda de confiança no ex-diretor do museu de arte contemporânea.
Sobre a reunião referida por João Ribas, Ana Pinho admitiu que de facto ela existiu e que foi marcada na sequência das declarações do ex-diretor ao jornal Público. A presidente explicou que o conselho de administração reuniu-se na segunda-feira, 17 de setembro, porque a presidente se encontrava fora de Portugal na sexta-feira anterior. “Reunimos e perguntei-lhe o que se passava e fomos novamente confrontados com explicações sem lógica, que acrescentaram à nossa perplexidade”, disse a presidente, acrescentando que foi “nessa altura” que João Ribas convidou os administradores a visitarem a mostra, o que, segundo Ana Pinho, nunca acontece. “Estou há quase nove anos em Serralves e jamais a administração foi ver uma exposição antes dela estar inaugurada. Vamos no dia da inauguração, às vezes vou à visita de imprensa, [mas antes disso] jamais.”
Foi, contudo, a situação inusitada e a possibilidade de esta se vir a tornar em algo “grave” que levou Ana Pinho e restantes membros da administração a aceder ao convite de Ribas. “Quando chegámos às galerias, havia de facto uma sala no fundo. A partir daí, houve uma discussão sobre que obras deveriam ir para essa sala reservada. Ele fez as sugestões e ficou acordado que assim seria”, disse Ana Pinho, frisando mais uma vez que “o conselho de administração nunca pediu para tirar nenhuma obra da exposição, em momento algum. A única coisa que fez foi garantir que aquilo que tinha sido proposto era feito”.
Ana Pinho: “Em Serralves não há nem nunca houve censura. Não haverá complacência à falta de verdade”
Também Isabel Pires de Lima, vice-presidente do conselho de administração, afirmou que foi a convite de João Ribas que os administradores visitaram a exposição e não por imposição dos próprios. “Essas idas à galeria que o senhor doutor João Ribas alude foram feitas a convite do senhor ex-diretor e não foram impostas pela administração. Um [dos convites] até foi feito por email.”
Isabel Pires de Lima disse ainda que eventuais ingerências da administração nunca poderiam ter acontecido no dia 15 de setembro: de acordo com a vice-presidente, nesse dia, as montagens ainda nem tinham começado. “A exposição foi montada tardiamente pelo senhor João Ribas e uma das razões porque não há catálogo é porque tudo foi feito fora de horas. Ele disse que esteve na véspera a montar a exposição até de madrugada, o que mostra que esta ainda estava em processo de montagem. Portanto, no dia 15 ainda não estava a acontecer nada”, explicou, acrescentando que também estava fora do Porto nessa data. “Não falei seguramente com o senhor João Ribas nos dias 15 e 16.” Na audição anterior, o antigo diretor do Museu de Serralves tinha falado de pressões apenas entre 17 e 19 de setembro.
De acordo com a presidente do conselho de administração da Fundação Serralves, a ideia de ter uma sala reservada foi de João Ribas e não da administração. “Concordamos em ter uma sala reservada para permitir que todo o tipo de público visitasse a exposição”, disse Ana Pinho, frisando que a mostra foi até apresentada às escolas. “Desde que abriu já foi visitada por crianças. As pessoas têm de escolher por elas próprias se vão à exposição toda ou não.”
Salientando que nada disto é normal e que “isto resultou pura e simplesmente de um comportamento da maior das contradições”, Ana Pinho lamentou o que isto causou a Serralves. “O que posso dizer é que as pessoas que lá estão, juntamente com o conselho de administração, estão a tentar que as coisas continuem e que Serralves continue a ser aquilo que é, que é um espaço que todos usufruirmos há muitos anos.”
Pacheco Pereira: “Estamos aqui a discutir o quê?”
Pedindo a palavra, o membro do conselho de administração da fundação de Serralves José Pacheco Pereira, antigo deputado do PSD, afirmou na comissão parlamentar: “Confrontamo-nos com uma nuvem de contradição. Temos vários documentos que mostram que essa nuvem de contradições existe mas não é nossa”.
Pacheco Pereira disse ainda que “é falso” que tenham sido “retiradas duas obras”, mas alongou-se sobre o assunto: “As duas obras que são referidas como tendo sido retiradas [segundo Ribas, pelo conselho da administração, com “critérios aleatórios”] são muito menos violentas do que algumas que estão dispostas. Alguém há de me explicar porque é que censuramos duas obras muito mais pacíficas que qualquer obra que se encontre na sala. É um absurdo”. Pacheco Pereira recusou que as imagens expostas do fotógrafo norte-americano fossem meramente de sexo explícito: “Se tivéssemos de censurar, censuraríamos fotografias que estão expostas com cenas que podem ser interpretadas como contendo pedofilia, violência, um homem a urinar na boca de outro homem, fisting, enfim. Há praticas para as quais não há sequer expressão em português”.
A entrevista ao [jornal] Público é o elemento fundamental do conflito com João Ribas. Ele dá essa entrevista violando todos os compromissos anteriores. Inclusive existem emails [do diretor] que dizem que a sala reservada era reservada para crianças e jovens até aos 18 anos que têm de ser acompanhados por adultos. Mas estamos aqui a discutir o quê?”, apontou.
“Há uma certa indignação neste caso. Confrontamo-nos com uma pessoa e uma imprensa que sistematicamente repetem matérias que já mostrámos com documentação que são falsas”, disse ainda o comentador político e membro do conselho de administração da fundação. A correspondência documental a que José Pacheco Pereira alude, que em sua opinião prova que é Ribas e não o conselho de administração que mente relativamente ao caso, não foram divulgados e estão inacessíveis à imprensa.