Este está a ser um bom ano para os fãs portugueses e portuenses de Prince. Primeiro, foi editado Piano & A Microphone 1983, o primeiro álbum inédito do músico a ser editado postumamente, no qual se ouvem canções e versões até aqui desconhecidas, gravadas por Prince numa sessão ao piano em 1983, um ano antes de Purple Rain o tornar um grande fenómeno popular. Agora, o festival de cinema Porto/Post/Doc prepara-se para exibir um filme antigo de “Sua Alteza Púrpura” (como também era conhecido), que nunca chegara às salas de cinema comerciais portuguesas.

O filme é de 1987 e chama-se “Sign o’ the Times”. Concebido por Prince, que coordenou a realização e escrita do argumento, retrata o músico na sua digressão europeia de apresentação do álbum homónimo e a revolver as canções desse disco nos seus estúdios Paisley Park, em Chanhassen, Minnesota. À época, Sign o’ the Times não teve o sucesso esperado nos Estados Unidos da América. Hoje, é considerado quase unanimente um dos grandes discos gravados por Prince em toda a carreira.

Exibido nas salas de cinema norte-americanas no final de 1987, com sessão de exibição no festival Porto/Post/Doc agendada para dia 2 de dezembro no Teatro Municipal do Porto – Rivoli, “Sign o’ the Times” sucedeu a “Purple Rain” (um musical dirigido por Albert Magnoli, protagonizado por Prince e estreitamente relacionado com a sua obra musical, embora não se tratasse de uma autobiografia documental) e “Under the Cherry Moon” (“Sob o Luar da Riviera”), este último uma comédia dramática já realizada por Prince. Apesar da notoriedade do músico à época, “Sign o’ the Times” não foi um grande sucesso de bilheteira nas salas de cinema norte-americanas em 1987. Posteriormente, chegou a estar disponível em cassetes VHS e DVD em vários países, mas ficou algo perdido no tempo.

https://www.youtube.com/watch?v=Oeir7QPYnBU

No filme, ouve-se Prince tocar 11 canções do seu disco de 1987 — temas como “Play in the Sunshine”, “I Could Never Take the Place of Your Man” e “Hot Thing”, por exemplo — e uma versão ao piano da mais antiga “Little Red Corvette”. Já a banda que o acompanhava à época, composta pela teclista Boni Boyer, pelo baixista Levi Seacer, Jr, pelo guitarrista Miko Weaver, pela baterista Sheila E. (que toca um solo) e pelo teclista e antigo membro dos The Revolution Dr. Fink, pôde fazer uma versão instrumental de “Now’s the Time”, composição do influente saxofonista do jazz e bebop Charlie Parker.

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“Chico Fininho” e os Pop Dell’Arte no grande ecrã

Além de “Sign o’ the Times”, o festival portuense de cinema irá exibir outros filmes relacionados com música no ciclo Transmission, recuperando por exemplo “Chico Fininho”, o filme de Sérgio Fernandes que ficcionava a mítica personagem criada por Rui Veloso na sua canção homónima, e exibindo os filmes “MATANGI / MAYA / M.I.A.”, sobre a ativista e popular rapper e cantora norte-americana M.I.A., e “CODA”, sobre o grande músico japonês Ryuichi Sakamoto.

Será ainda exibida a curta-metragem “The Velvet Underground Played At My School”, de Tony Jannelli e Robert Pietri (acompanhada, no Porto, por um pequeno concerto do músico Little Friend), o mais recente filme do realizador galego Lois Patiño, “O Espírito de Pucho Boedo”, o documental “Rudeboy: The Story Of Trojan Records”, de Nicolas Jack Davies, o filme “Ainda Tenho Um Sonho Ou Dois – A História Dos Pop Dell’Arte”, de Nuno Duarte e Nuno Galopim, “PAUS Madeira”, de Ernesto Bacalhau, sobre a residência e gravações do último álbum do grupo rock PAUS nesta ilha e “Escola do Rock”, de Amadeu Pena da Silva, com produção parcial do próprio festival.

https://www.facebook.com/antena3rtp/videos/ainda-tenho-um-sonho-ou-dois-a-hist%C3%B3ria-dos-pop-dellarte-trailer/2106941342658855/

Fora do âmbito marcadamente musical e do ciclo Transmission, o festival fará uma retrospetiva do cinema do realizador britânico Chris Petit e exibirá vários filmes do cineasta argentino Matías Piñeiro. Os dois realizadores irão ao Porto/Post/Doc discutir (no caso de Chris Petit) e acompanhar (Matías Piñeiro) a exibição das suas obras.

No cinema nacional, destaca-se uma retrospetiva dos portugueses António Reis e Margarida Cordeiro, que contará com um programa de conversas e a projeção de uma versão restaurada e digitalizada de “Trás-os-Montes”, uma “obra maior do cinema português”.

“No Porto serão exibidos: ‘Jaime’ (1974), ‘Trás-os-Montes’ (1976), ‘Ana’ (1985) e ‘Rosa de Areia’ (1989), num programa que reafirma a importância do seu trabalho [da dupla de realizadores], no contexto de um país entregue à ditadura, e questiona a forma como o seu trabalho viria a influenciar aquilo que é, hoje, o cinema português”, segundo revelou a organização.

António Reis, um poeta maior há 50 anos esquecido

O festival Porto/Post/Doc decorre de 24 de novembro a 2 de dezembro, em vários espaços culturais do Porto: o Teatro Municipal do Porto – Rivoli, o Cinema Passos Manuel, o Cinema Trindade, o Planetário do Porto – Centro Ciência Viva (onde a pianista Joana Gama e o músico de eletrónica Luís Fernandes tocarão, em simultâneo com uma projeção de imagens da galáxia), a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e a Escola das Artes – UCP.