Não é um percurso desportivo perfeito mas pouco falta para isso: ao fim de 13 encontros oficiais, o PSG conquistou a Supertaça com uma goleada frente ao Mónaco (4-0); soma por vitórias os dez jogos feitos na Ligue 1 (e com isso está a um triunfo de igualar o registo do Tottenham em 1960/61, que continua a ser o recorde do melhor início de sempre numa das cinco principais ligas europeias) com 37 golos marcados e seis sofridos; e somou apenas um desaire no arranque da Liga dos Campeões, perdendo no último minuto na deslocação a Liverpool antes da goleada frente ao Estrela Vermelha na segunda ronda da prova. No entanto, sucesso desportivo à parte, nem tudo vai bem no Parques dos Príncipes. Longe disso.

O L’Équipe faz capa esta terça-feira com o braço de ferro entre Antero Henrique, diretor desportivo do PSG, e o treinador que rendeu esta temporada Unai Emery, Thomas Tuchel. Não é propriamente novidade que nem tudo são rosas na estrutura dos campeões franceses mas a situação tem ficado cada vez mais complicada, com cada um dos responsáveis a tentar alargar a sua zona de influência e com o nome de Arsène Wenger a começar a surgir nas cogitações do conjunto francês.

O primeiro grande choque entre o português e o alemão terá acontecido no final do mercado de Verão, gorada que ficou a hipótese de haver uma última contratação para o meio-campo defensivo, uma das exigências de Tuchel. Olhando para todas as operações do PSG nessa janela, onde já havia 135 milhões de euros “contratualizados” para fechar de vez a compra do passe do Kylian Mbappé (uma manobra que o clube fez para tentar respeitar as regras do fair-play financeiro), os franceses investiram 37 milhões num central (Thilo Kehrer), cinco milhões no lateral esquerdo ex-Bayern Bernat e conseguiram a “custo zero” – a que se tem sempre de somar prémios de assinatura, que não costumam ser baixos – Gianluigi Buffon e Choupo-Moting. Para equilibrar a balança financeira, Gonçalo Guedes, Javier Pastore, Berchiche, Edouard e Ikoné foram vendidos, ao passo que Lo Celson e Krychowiak acabaram cedidos por empréstimo. O saldo ficou negativo, por 70 milhões de euros.

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No final da única derrota da época até ao momento, com um golo de Firmino aos 90′, Thiago Silva manifestou também esse desagrado pela falta dessa tal unidade de meio-campo. “O que estavam a fazer o Marquinhos, o Rabiot e o Di María naquela zona? Não sei, perguntem ao Antero Henrique”, atirou o central e capitão, num jogo onde Verratti cumpria castigo. Já antes, Uli Hoeness, presidente do Bayern, tinha criticado publicamente o antigo responsável do FC Porto. “Aconselhava o PSG a despedir o seu diretor desportivo porque esse homem não é uma boa carta de apresentação para a equipa. Se o PSG quer ser um clube de top mundial, não pode ter um diretor como este”, disse, referindo-se às negociações (goradas) por Boateng.

Agora, essa espécie de guerra fria estará centrada na ocupação de uma vaga no departamento médico: Tuchel terá tentado levar para o cargo um elemento que trabalho consigo no Borussia Dortmund mas Antero prefere um português de confiança, tentando alargar uma influência que já conta com o team manager (Joaquim Teixeira), diretor de recrutamento (João Luís Afonso) e diretor técnico para a formação (Paulo Noga). Tudo cargos que o alemão também gostaria de ter debaixo da sua alçada.

Tuchel foi aposta de Al-Khelaïfi para suceder a Emery e contrato foi fechado em Doha… sem Antero Henrique (FRANCK FIFE/AFP/Getty Images)

É aqui que entra o nome de Wenger. Tuchel conheceu o treinador francês este ano e a relação entre ambos tem vindo a ficar mais próxima, ao ponto de haver responsáveis já defendem que, no final da temporada, deveria haver uma reorganização de todo o modelo do futebol do PSG com o antigo técnico do Arsenal a ocupar uma posição logo abaixo dos donos do clube e sem Antero Henrique. No entanto, Nasser Al-Khelaïfi não esquece os dois objetivos alcançados pelo português na última temporada e que muitos consideravam impossível: contratar Neymar e Mbappé. Com outro dado: foi o proprietário do clube que insistiu na contratação de Antero… e de Tuchel. E é por isso que, segundo a publicação, Al-Khelaïfi, Maxwell (diretor adjunto para o futebol) e Jean-Claude Blanc (diretor executivo) surgem como “árbitros” no duelo.

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Ao longo do dia, o PSG, que prepara a receção ao Nápoles a contar para a terceira jornada da Liga dos Campeões, não tomou qualquer posição oficial sobre a capa do principal jornal desportivo francês. Ainda assim, existem três aspetos que terão um peso decisivo na resolução do conflito aberto no clube: por um lado, os resultados dos dois jogos com o Nápoles – muito importantes para o futuro da equipa na Champions – e a deslocação a Marselha, para a Ligue 1; por outro, o desempenho que o clube consiga na reabertura de mercado, em janeiro, onde voltará a existir a oportunidade de equilibrar o plantel; por fim, o desempenho financeiro do futebol dos parisienses, nomeadamente o cumprimento do fair-play financeiro exigido pela UEFA.