O desafio que nos colocaram consistia em medir o pulso a uma nova forma de turismo, que tem conquistado um crescente número de clientes, alguns portugueses, mas a maioria estrangeiros. Em causa estava visitar Portugal de moto, em substituição do tradicional automóvel, num formato mais ágil e substancialmente mais próximo da natureza, desde que não chova. E, mesmo neste caso, há sempre alguns incondicionais adeptos das duas rodas – que não nós – que não se atemorizam com a queda de uma bátegas de água, quanto mais de umas pinguinhas.
E se o turismo em cima da moto era o prato principal, para nós existia um appetizer muito especial associado a este passeio pelo centro e sul do país. Testar o serviço Hertz Ride, criado pelo grupo português Hipogest, que representa entre nós o especialista americano no aluguer de veículos, que não só desenvolveu o conceito e o propõe aos seus clientes, como já está comercializá-lo como franchising noutros países. Além de Espanha, França e Itália, com os Estados Unidos da América a terem o início da operação agendada para Março, tudo indica que a expansão desta solução criada em Portugal não se irá ficar por aqui, incluindo mesmo incursões por Marrocos.
Quatro dias de gozo. Não fosse a virose
O desafio consista em percorrer uma parte do país de moto em quatro dias, a uma média diária de 300 km, com partida e chegada a Lisboa, nas instalações da Hertz próximo do Marquês de Pombal. A primeira etapa ligou a capital a Portalegre, para a seguinte nos levar a Monsaraz. A 3ª tirada seria a mais longa, com os participantes a percorrerem os 329 km que separam a vila medieval alentejana de Sagres, para o último dia os trazer de regresso ao ponto de partida.
Arrancámos de manhã cedo rumo a Setúbal, o que nos permitiu percorrer as deslumbrantes estradas da Arrábida, àquela hora a proporcionar uma vista deslumbrante – mesmo para quem já conhece – sobre as praias da região, incluindo Galapinhos, considerada a melhor da Europa.
O ritmo era imposto pelo tour leader, o experiente Ricardo Coelho, a quem a Hertz Ride confiou a nossa sorte. E foi mesmo uma sorte, pois o trajecto foi bem escolhido, por estradas menos conhecidas e em bom estado, com uma ou outra incursão por estradões em terra, como que a justificar as motos em que nos deslocávamos, todas BMW, com os membros da comitiva a poderem optar entre as mais possantes R 1200 GS e as mais ágeis F 750 GS.
De Setúbal demos o salto por ferry para Tróia, onde finalmente nos embrenhámos no Alentejo. Nada mais calmo do que a região alentejana num dia de sol, e foi exactamente nessa companhia que nos dirigimos a Arraiolos, conhecido pelas suas tapeçarias e o castelo, além de excelentes restaurantes, como O Alpendre, onde almoçámos. A tarde levou-nos a visitar Alter do Chão, Crato e Marvão, onde uma feira medieval dentro das muralhas do castelo animava os turistas – e a nós também –, a que se seguiu um pequeno salto até Portalegre, onde pernoitámos. Para ‘aperitivo’ melhor era impossível, pois a viagem decorreu num ritmo vivo, mas sem exageros, com o grupo de seis motos a ter duas delas equipadas com GPS, onde estava bem definido o percurso, para evitar perdas de tempo, mesmo se alguém ficasse momentaneamente para trás.
O dia seguinte, o segundo da expedição, voltou a amanhecer com sol e um trajecto que prometia ser animado. No cardápio estava ligar Portalegre a Monsaraz, com paragem em Elvas e Jerumenha, antes de almoçar em Évora, com o programa para a tarde a prever Vila Viçosa, conhecida pelos seus mármores e o palácio onde habitou a família real portuguesa, antes de visitar o imenso lago artificial da barragem do Alqueva e, por fim, aconchegarmo-nos no hotel Horta da Moura, lá em cima, dentro das muralhas do Castelo. O programa era este e foi escrupulosamente seguido por todos os membros do grupo. Menos por mim, a braços com uma virose que retirava o prazer do passeio e a disposição para passar horas sentado na moto, por muito que a viagem fosse fantástica, tal como a companhia. Regressei mais cedo a Lisboa, mas continuei a acompanhar a expedição, embora à distância. Maldita virose!
Ida e volta a Sagres com minas e concertos ao vivo
A 3ª etapa do tour organizado pela Hetz Ride deixou Monsaraz para trás e rumou à Aldeia da Luz, a versão moderna e mais agradável da outra com o mesmo nome que foi engolida com a subida da albufeira do Alqueva. Com Ricardo Coelho na frente e Bruno Farola a meio do grupo, as agora cinco BMW continuaram em direcção ao Algarve, junto ao Guadiana e à fronteira com Espanha. A paragem seguinte foi na Mina de São Domingos, cuja praia fluvial da Tapada Grande merece uma visita prolongada, pela cor da água em contraste com o branco da areia, e por ser ali que surgiu a primeira povoação portuguesa a usufruir de iluminação eléctrica.
A serra algarvia foi o destino seguinte, até que o almoço surgiu na Cortelha, a tempo da equipa reunir forças para a ligação a Sagres, onde a caravana foi recebida por um pôr-do-sol espectacular, acompanhado por um verdadeiro concerto proporcionado por dois jovens estrangeiros, que pagavam as férias com as moedas que lhes ofereciam durante as exibições. Do sunset no Cabo de São Vicente à Pousada do Infante, onde o grupo pernoitou, foi um instante.
O regresso a Lisboa, no último dia do tour, permitiu visitar as praias da costa alentejana, onde se encontram algumas das mais belas do país, de Vila do Bispo até Sines, com almoço em Porto Covo. A chegada à capital, ao fim da tarde, com a devolução das motos não marcou o fim da aventura, pois esse ficou agendado para o jantar, onde o grupo se reuniu pela última vez e a que eu, já refeito da maleita, me juntei. Trocaram-se histórias e ficou a promessa de se repetir a experiência. Não necessariamente em Portugal, pois a partir de Março, a Hertz Ride está disponível até nos EUA, entre muitos outros destinos.
Proposta a reter e não só para estrangeiros
Esta incursão pelo centro e sul do país não estaria completa sem conhecermos um pouco mais da Hertz Ride, o que fizemos em conversa com o coordenador de projectos e operações da empresa, Bruno Farola. Segundo ele, “a média de idades dos clientes dos tours em moto em Portugal, iniciativa que arrancou só em 2017, oscila entre os 45 e os 55 anos, sendo que destes 80% são estrangeiros”, o que ainda assim deixa uma percentagem interessante de portugueses que, por não possuírem moto própria ou por ela não se coadunar com viagens deste tipo, optam pelo aluguer.
Recordando que há outros players no mercado, oferecendo um tipo de serviço similar “alguns com mais de 10 anos de experiência”, o nosso anfitrião lembra que “a Hertz tem a vantagem de estar apoiada numa marca muito conhecida e respeitada, o que lhe permite cruzar os clientes que tradicionalmente alugam veículos de quatro rodas com os que, eventualmente, podem pretender visitar Portugal em apenas duas”.
A frota é composta por 300 motos na Europa,”80 das quais estão em Portugal”, com uma ocupação de 40% devido à sazonalidade deste tipo de negócio, sendo que as motos são todas BMW e novas. “Só estão nas nossas mãos um máximo de sete meses ou 15.000 km”, adianta Bruno Farola.
Com o objectivo de comercializar tours de nove dias, todos eles com tour guide, a Hertz Ride chama a atenção dos preços mais interessantes destes passeios em Portugal, pois uma destas viagens, incluindo hotéis de cinco estrelas, refeições, guia, veículo de apoio e moto de substituição, fica por cerca de 2.600€ (condutor/moto). Por uma incursão similar pela natureza, os franceses cobram 3.400€.
“Há muitos clientes que preferem os Self Guided Tours. Recebem a moto, com seguro, e um GPS com todo o trajecto programado ao detalhe e isso deixa-os mais livres para fazer a expedição ao seu ritmo”. Entre este tipo de propostas, destaque para o Porto-Vale do Douro, com uma duração de três dias e um custo de 370€, enquanto o Lisboa-Fun Alentejo, com quatro dias, é comercializado por 495€, existindo ainda a possibilidade de conceber tours com trajectos específicos a pedido dos clientes.