A associação de pais de crianças tratadas no Hospital de São João acusa a ministra da Saúde de deixar “na gaveta” o memorando que assinou em 2017 para acabar com o tratamento pediátrico em contentores “provisórios e degradados”.

“A nova ministra da Saúde disse que não há data para o avanço do concurso da Ala Pediátrica. Mas assinou um memorando em que a obra é considerada urgente. Puseram o memorando na gaveta. Se é urgente, têm de arranjar forma de a fazer”, criticou Jorge Pires, porta-voz da APOHSJ — Associação Pediátrica Oncológica.

O memorando, a que a Lusa teve acesso, aponta a conclusão do investimento de 23,8 milhões de euros para 2019, e reconhece a necessidade de “criar as condições adequadas” para serviços “a funcionar há anos em espaços provisórios e degradados”, com “risco de repercussão na qualidade dos cuidados prestados”.

De acordo com o documento, de 01 de junho de 2017, as partes acordavam “promover a articulação necessária” para “desencadear o processo de renovação das instalações do Centro Pediátrico Integrado” do São João e “concretizar o projeto de edificação e apetrechamento” num “prazo estimado de três anos”.

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Nesse dia, o presidente da administração daquela unidade hospitalar, António Oliveira e Silva, revelou à Lusa que as instalações de pediatria, a funcionar desde 2011 em contentores, deviam ter novas instalações a funcionar em 2020, de acordo com o referido memorando de entendimento.

A associação de pais critica ainda o presidente da Câmara do Porto, os deputados eleitos pelo distrito e a administração hospitalar “por nada fazerem” pela nova Ala Pediátrica.

“O Hospital de São João recebe crianças de todo o Norte. Esta é uma questão de saúde pública e não vemos o presidente da Câmara do Porto vir publicamente manifestar preocupação e a tentar mediar a resolução do problema”, lamentou.

“Não é aos pais que compete andar preocupados com isto. Não vemos, na cidade, ninguém a fazer nada. Os deputados eleitos pelo Porto não dão a cara por isto”, acrescentou.

O responsável criticou também “a administração do hospital, que é quem mais devia a vestir a camisola para resolver o problema”, por “não dizer ao Governo, pelo menos publicamente, que se vai embora porque não a deixam fazer a missão que lhe compete, que é dar condições às crianças”.

Jorge Pires lamenta ainda a ausência de “preocupação das figuras públicas do Porto, que têm tempo de antena mediático e não lutam por uma causa do Porto”.

“Não vemos ninguém a dar a cara por isto. Tiveram de ser os pais”, afirmou.

Jorge Pires critica ainda os “deputados eleitos pelo círculo do Porto”, que não vê “a lutar por esta causa”.

Em abril deste ano, o administrador do São João admitiu que as condições do atendimento pediátrico são “indignas” e “miseráveis”, lamentando que a verba para a construção da nova unidade ainda não tenha sido desbloqueada.

O responsável falava aos jornalistas a propósito de queixas de pais de crianças com doenças oncológicas sobre a falta de condições de atendimento dos seus filhos em ambulatório e também na unidade do ‘Joãozinho’ para onde as crianças são encaminhadas quando têm de ser internadas.

A 24 de outubro, o primeiro-ministro disse que o reforço do orçamento da Saúde permitirá “avançar com o lançamento” do concurso para a ala pediátrica, ao passo que a nova ministra da tutela, Marta Temido, afirmou ainda não haver data para o procedimento.

“As crianças têm tempo para isto. São crianças que lutam contra o tempo e muitas vezes o tempo não existe”, resume Jorge Pires.

Contactado pela Lusa, o Ministério da Saúde disse, através de fonte oficial, que não vai “fazer comentários além dos esclarecimentos que já foram prestados”.

O Centro Hospitalar de São João disse à Lusa que “não comenta o assunto”.