O Palácio do Planalto jamais viu uma coisa assim. Quando, a 1 de janeiro, Jair Bolsonaro entrar na residência oficial da Presidência da República, já empossado como chefe de Estado, a sua segurança terá níveis nunca antes postos em prática no Brasil e que em tudo se assemelham às dos presidentes norte-americanos. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, já pediu à sua equipa para pôr em marcha um estudo para reforçar a segurança do presidente eleito (e da sua família) por dois motivos: o atentado contra Bolsonaro durante a campanha eleitoral e várias ameaças que, segundo os serviços de inteligência, estão a ser feitas com frequência contra o presidente. A notícia é avançada pelo Estadão de São Paulo.
“O esquema que está sendo preparado para receber um presidente que já sofreu um atentado será muito diferente e muito mais severo do que qualquer outro titular do Planalto já viu ou teve”, afirmou o general, citado pelo Estadão, mas recusando partilhar números ou estratégias por questões de segurança.
O que se sabe para já, segundo o jornal brasileiro, é que algumas situações, habituais com anteriores presidentes, poderão ter os dias contados. É o caso das entrevistas em que o presidente fica rodeado de jornalistas, por exemplo, que deverão ser evitadas assim como o contacto com o público. Preparativos para viagens também serão repensados e deverão seguir os padrões usados pelas equipas de segurança de Donald Trump ou Barack Obama nos Estados Unidos.
No próprio dia da tomada de posse, uma das novas regras de segurança poderá ser posta em prática. O tradicional desfile em carro aberto — que acontece ao volante de um Rolls-Royce que o Brasil recebeu de presente do governo britânico em 1953 — poderá não acontecer. E mesmo que o presidente decida desfilar pela Esplanada dos Ministérios dificilmente o fará num veículo tão desprotegido.
Ameaças à vida de Bolsonaro são reais
Durante a campanha eleitoral, a 6 de setembro, o então candidato presidencial foi esfaqueado e imediatamente submetido a uma cirurgia que lhe salvou a vida. A partir daí, a sua segurança foi reforçada pela Polícia Federal.
As ameaças que surgiram durante a campanha não desapareceram com a eleição de Jair Bolsonaro. “O GSI não comenta detalhes de sua responsabilidade com a segurança presidencial, mas confirma que existem ameaças que efetivamente preocupam”, avançou o general Etchegoyen.
Até 31 de dezembro, véspera da tomada de posse, 55 agentes da Polícia Federal continuarão a ser responsáveis pela segurança do presidente eleito. A partir de 1 de janeiro, serão substituídos pela equipa da GSI — formada em parte por militares do Exército —, chefiada pelo general Luiz Fernando Estorilho Baganha.
Bolsonaro quer ser um “pacificador”
Este domingo, Jair Bolsonaro, acompanhado pela sua mulher Michelle, visitou pela segunda vez, após as eleições, um local de culto evangélico. Na quarta-feira, o presidente passou pela sede da Associação Vitória em Cristo e, no domingo, esteve na Igreja Batista Atitude.
Ali, Bolsonaro fez um curto discurso de cinco minutos onde voltou a apontar o Duque de Caxias, patrono do exército brasileiro, como exemplo a seguir. Conhecido como “O Pacificador”, teve um papel fundamental após a abdicação de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil, e durante as revoltas do período regencial (1831-1840) que se seguiram. Lutou sempre pela independência do Brasil e contra Portugal.
“A partir do ano que vem, serei presidente de todos. Queremos, sim, seguir os passos de Caxias, o pacificador. Com alma livre, tendo Deus acima de todos, e buscar atender a todos que necessitam”, disse o presidente eleito.
[Veja neste vídeo o discurso de Jair Bolsonaro de domingo]
https://www.youtube.com/watch?v=WqJNNRMrCy0
No mesmo dia à tarde, no Twitter, Bolsonaro voltou a usar um discurso pacificador e apelou à unidade entre os brasileiros, lembrando que estão “todos no mesmo barco”.
Brasil. Do pastor ao super-juiz: quem são os homens do Presidente Bolsonaro?
O presidente eleito lembrou que para colocar o país no caminho da prosperidade é preciso unidade e que prejudicar o Brasil é prejudicar-se a si próprio, no que pode ser visto como uma alusão à oposição coom que se dai deparar no congresso brasileiro.
Para colocarmos o Brasil no caminho da prosperidade é preciso compreender que todos estamos no mesmo barco, e que trabalhar para prejudicá-lo é prejudicar a si próprio. Se cada um levar consigo estes valores, certamente chegaremos em posição destaque no mundo. Conto com vocês!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 4, 2018