A sala das conferências de imprensa da Web Summit no Altice Arena, em Lisboa, estava cheia para receber Christopher Leacock, músico dos Major Lazer, não fosse ele um dos produtores musicais mais célebres do trio norte-americano. Falou de uma aplicação chamada Endel que promete ajudar os utilizadores a entrar num estado mental de “imersão completa” através de um som ambiente criado especialmente para eles. Investiu nessa aplicação porque “vivemos rodeados de muito barulho e muita distração”, por isso, devíamo-nos “abstrair disso tudo”. Mas admitiu que nunca a experimentou. Não se preocupem: nós experimentámo-la por ele.

17 oradores que não queremos que perca nesta Web Summit

Vamos fazer este exercício: imagine que o dia lhe correu mesmo muito mal e só lhe apetece chegar a casa, deitar-se no sofá, beber um chá e terminar o livro que tem na mesa de cabeceira há meses. Sabe é que, perante tantas chatices, não vai ser capaz de se abstrair dos momentos maus. O que pode fazer? Adivinhou: entrar na Endel.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O que a Endel faz é recolher informações sobre a localização, os dados armazenados nas aplicações de saúde que os utilizadores usam e, por fim, perceber se estão em movimento, em repouso ou a dormir. Todas essas informações vão ser incorporadas num algoritmo que foi “concebido para estar em concordâncias com as condições do ambiente” em que o utilizador está, explicou Oleg Stavitsky, o cofundador da Endel — sim, o homem a quem Christopher Leacock deu o seu dinheiro. O resultado deve ser tão imersivo que é possível que nem perceba que está a ouvir esses sons personalizados, explicou.

Oleg Stavitsky diz que está “cientificamente provado” que a utilização de determinadas frequências e sons ambiente podem influenciar o cérebro a dormir, a comer e a comprar. E a relaxar também. E pediu para os utilizadores não tenham medo que os seus dados sejam recolhido de forma displicente. Isso não vai acontecer, prometeu: “Colecionamos dados, mas não há forma de identificar uma certa pessoa a partir desses dados. Ninguém consegue identificar ninguém através da pulsação, por exemplo. Usamos esses dados para o algoritmo personalizar o programa. É a única forma de isto funcionar”, explicou o cofundador da aplicação.

A vantagem? Oleg Stavitsky garante que ao ouvirmos estas músicas ambiente, elas dão um empurrão ao cérebro para que não perca tanto tempo — e sobretudo energia — ao tentar filtrar a informação que chega, mas que não passa de ruído.

Agora que experimentei a Endel, percebo o que o Oleg quer dizer: escrever na sala reservada para jornalistas na Web Summit não é tarefa fácil, porque há muita gente a entrar e a sair, muitas pessoas a clicar freneticamente nas teclas do computador e metade sala a conversar com a outra metade. Mas com auriculares nos ouvidos e a Endel em funcionamento ganha-se outro ritmo.

Ao fim de meia hora, estava suficientemente concentrada no artigo para me atirar de cabeça no texto. Agora percebo o que significa estar “in the zone” para os programadores e para os atletas. Não, não é ouvir o álbum da Britney Spears em loop: é estar concentrado o suficiente para se ser o mais produtivo possível, o mais depressa possível. Tenho de admitir que cheguei a estar “in the zone” enquanto escrevia, mas havia um problema: qualquer outro ruído que não fosse sonoro — um movimento mais brusco à minha frente ou uma notificação teimosa no telemóvel — era suficiente para sair dela. Talvez possas dar um toque ao Oleg Stavitsky para trabalhar esse pormenor.

De qualquer modo, para o bem e para o mal, não posso tirar conclusões precipitadas. A aplicação tem quatro modos de funcionamento: um para relaxar, outro para concentração, o terceiro para quem está em movimento e o quarto para se dormir. Só experimentei o segundo. E para testar o último ainda vou ter de esperar umas horas. De resto, Oleg disse que era boa para quem quer relaxar no trânsito, a tomar um duche em casa ou a trabalhar no meio de uma fábrica. Vamos ver quantas pessoas a experimentam, agora que ela acabou de ser disponibilizada lojas de aplicações. Devias fazer o mesmo, Christopher.